sexta-feira, 12 de abril de 2013 | By: Vânia Santana

Venezuela, hay un camino. Y su nombre es Henrique Capriles



Caros leitores, como oposicionista e anti-ditadores e vermelhos socialistas, não poderia deixar de me pronunciar, mesmo sendo leiga em política internacional, sobre as eleições da Venezuela, que ocorrerão no próximo domingo, dia 14 de Abril de 2013. Mas não creio também que precisa ser expert em ciências políticas, pra dar meu pitaco na situação da Venezuela, uma vez que aqui no Brasil, nossa “Democracia” não está muito diferente da democracia venezuelana. Nem com pesquisas indicando a imensa popularidade de ambos presidentes, todos sabem o quanto os dois países estão divididos, e se lá o chavismo impera, sabemos aqui na pele os efeitos do lulo-petismo. Outro motivo de eu falar aqui sobre isso, e em especial sobre Capriles, é porque notei que a imprensa brasileira, em sua maioria, não falou ou pouco falou sobre o comício espetacular de Capriles, já que ele é o adversário de Nicolas Maduro,  pupilo do PT.
A este, Lula gravou até um vídeo de apoio. Para este tipo de jornalismo e jornalistas, só tenho a dizer: Quem alimenta cobras, um dia pode ser mordido por elas. Mas.. sigamos.

Tive a oportunidade de assistir ao vivo, via internet, a transmissão do comício do candidato da oposição da Venezuela, Henrique Capriles, pela Globovision. (assista aqui)

Emocionante!!

Primeiramente, porque nas ruas estava uma multidão de fazer inveja aos brasileiros, e indo além disso, diria que me causou vergonha. Tanto dos brasileiros, quanto da oposição de nosso país. Em toda a minha vida, só vi algo parecido no Brasil, quando das 'Diretas Já' na Praça da Sé, e para pedir impeachment de um presidente na Av. Paulista em SP (que hoje, apesar disso, é Senador). Mesmo assim, nunca em eleições presidenciais.

E segundo, porque há muito tempo não ouvia um candidato de nenhum país, com tamanho carisma, com um discurso tão visivelmente confiante. Um líder.



Embora não seja a mesma história, lá e cá, ela não muda muito, normalmente mudam os personagens. Se aqui elegeram um ex-metalúrgico, a Venezuela tem agora como candidato um ex-motorista de ônibus, Nicolas Maduro, que vê presidente morto em forma de ‘pajarito’. Nem João Santana faria melhor... Opss! Não é que João Santana, marketeiro e criador de Lula e Dilma, é também, não por acaso, o marketeiro de Maduro? Foi de Chávez também. Vejam que cena fantástica, do fascismo que fascina os ignorantes, na foto abaixo, do Jornal El Nuevo Herald:



Não é sempre que a oportunidade bate duas vezes à porta. Capriles foi derrotado na eleição passada, com 11 pontos de diferença. Apesar disso, teve o melhor resultado do que qualquer candidato da oposição na era ‘chavista’. As últimas pesquisas apontam empate técnico entre os dois candidatos. 
Se a ‘fraude’ não vencer as eleições, tudo indica que a Venezuela dará um grande passo na real Democracia, elegendo Capriles. Se houver alguém vendo passarinhos por lá, que seja o da Liberdade.

Arriba Venezuela!! Hay um caminho, y su nombre es Henrique Capriles.



domingo, 7 de abril de 2013 | By: Vânia Santana

Reduzir IPI de carro é miopia econômica - por André Trigueiro

Foto: Clayton E.Souza

Assim que o governo anunciou mais uma prorrogação de IPI reduzido para carros zero, acessei o site do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) para checar o tamanho atual da frota automobilística brasileira. Os dados são públicos e podem ser verificados no link http://www.denatran.gov.br/frota.htm.

Por nosso país circulam oficialmente (dados consolidados de fevereiro/2013) mais de 43 milhões de automóveis (43.085.340), sendo que a maioria absoluta desses carros se concentra nas regiões metropolitanas. A situação é mais preocupante nas três principais capitais da região Sudeste, a mais rica e densamente povoada do país. São Paulo (4.858.630 de automóveis), Rio de Janeiro (1.764.089) e Belo Horizonte (1.059.307) ostentam números que devem soar como música para os economistas de plantão em Brasília, mas que representam um gigantesco obstáculo para a mobilidade urbana e para a qualidade de vida não apenas dessas, mas das principais cidades brasileiras.

De acordo com o relatório “Metrópoles em números: crescimento da frota de automóveis e motocicletas nas metrópoles brasileiras 2001/2011” (http://observatoriodasmetropoles.net/download/relatorio_automotos.pdf), do Observatório das Metrópoles, o número de automóveis em todas as 12 metrópoles do país dobrou de tamanho neste período (aumentou de 11,5 milhões para 20,5 milhões). Já as motocicletas passaram de 4,5 milhões para 18,3 milhões em apenas dez anos.

O estudo revela que as metrópoles brasileiras reúnem aproximadamente 44% de toda a frota do país. Nesta década, registrou-se um aumento de 8,9 milhões de automóveis, aproximadamente 77,8%. Em média, foram adicionados mais de 890 mil veículos por ano. “As metrópoles brasileiras têm enfrentado nos últimos anos o que podemos chamar de uma ‘crise de mobilidade urbana’, resultante, sobretudo, da opção pelo transporte individual em detrimento das formas coletivas de deslocamento”, afirma o relatório. ”Um sistema eficiente de mobilidade é essencial para o acesso ao mercado de trabalho, à educação, ao consumo e ao lazer, ou seja, é uma condição fundamental para a construção do chamado bem-estar humano”, conclui o responsável pelo estudo, Jaciano Martins Rodrigues, doutor em Urbanismo (PROURB/UFRJ) e pesquisador do INCT/Observatório das Cidades.

Em artigo publicado nesta coluna, em setembro do ano passado (http://g1.globo.com/platb/mundo-sustentavel/2012/09/19/dez-razoes-para-levar-a-serio-o-dia-mundial-sem-carro/), resumi em 10 tópicos as razões pelas quais deveríamos considerar a multiplicação indiscriminada de carros no Brasil um risco real para a economia, a saúde, o bem-estar social, o clima e o direito constitucional de ir e vir.

É evidente que a produção de automóveis responde a uma demanda da sociedade que ainda considera o carro um dos principais sonhos de consumo. Há também uma participação importante no PIB (5%) e na geração de empregos (131,7 mil funcionários).

O que nos parece urgente é a reflexão sobre a conveniência de o governo renovar incentivos fiscais (renúncia adicional de R$ 2,2 bilhões em impostos de abril a dezembro de 2013) a um setor da economia já bastante próspero e lucrativo, sem que se considerem os – cada vez mais notórios – impactos negativos dessa medida.

É óbvio que os economistas do Ministério da Fazenda que assinam a prorrogação do IPI reduzido para carros zero julgam ser esta uma medida fundamental para manter a economia aquecida. Contudo, parece também evidente que os argumentos em sentido contrário são igualmente consistentes e robustos. Há que se ter coragem para debater outras soluções em favor da geração de mais emprego e renda. Especialmente em programas de governo vinculados à expansão dos meios de transporte públicos de massa.

Tal como se dá na luta contra microorganismos nefastos à nossa saúde, há limites para o uso de antibióticos. A redução do IPI para carros não pode ser usado como um medicamento de uso contínuo. Com as vias progressivamente congestionadas, o corpo está à beira de um colapso. Está mais do que na hora dos economistas refazerem as contas enquanto o paciente respira.

Mundo Sustentável - G1


Nota do Blog: O artigo originariamente postado foi excluído do blog e do google cache, sem sabermos o motivo, pois sua publicação neste blog foi autorizada pelo Autor. Esta re-postagem trata-se de recuperação de arquivo e perdeu todas visualizações, compartilhamentos e comentários feitos até a presente data: 22/07/2013 15:25h - mantemos no entanto a data da  publicação original.


sábado, 6 de abril de 2013 | By: Vânia Santana

Na era das falácias




Sempre tive muita facilidade, para me expressar através da escrita. Talvez seja uma maneira de substituir a minha incapacidade de expressão através da fala. A escrita facilita correções, uma análise melhor do que você quer dizer, pois pode revisar se ficou claro, se ficou conexo. Agora, em tempos atuais, isto também está se tornando uma dificuldade. Não é por falta de assunto, pelo contrário. É porque os tempos indicam que cada vez menos você pode falar o que pensa, e deve ser muito cuidadoso para não ser vítima da incompreensão ou do julgamento. Vá lá você me dizer que isso sempre existiu... Sim, é verdade. Mas antes, sei lá mais há quanto tempo, aquilo que você dizia ou escrevia, era tido e visto apenas como sua opinião, e não necessariamente uma ofensa pessoal. E o tal julgamento, era feito sobre isso. Sobre o que você dizia, e não sobre você. Não me diga que pode julgar uma pessoa pelo que ela fala. Pode saber o que ela pensa, e isto se o que diz for sincero, mas não quem ela é. Porque não são apenas as palavras que refletem o caráter de uma pessoa. A mim, penso que são muito mais esclarecedoras, as atitudes. Inclusive e até principalmente as pequenas, que ninguém presta muito atenção. Estas sim. Porque são as atitudes que demonstram se a pessoa é realmente coerente, e condizente com o que fala. Houve um tempo em que isso não era assim. As palavras sempre condiziam com a atitude. A palavra valia por uma assinatura.

Hoje o vento as leva...

Uma maneira de se utilizar a palavra é pela falácia. A falácia é um argumento que a lógica não sustenta, sem fundamento, não tem capacidade de comprovação eficaz naquilo que alega. Argumentos persuasivos podem parecer convincentes para a grande maioria, mas não deixam de ser falsos por causa disso.

Sinto um imenso temor pelo que estou observando no meu país, não só no convívio pessoal, como também, quando assisto ou leio jornais e, muito, nas redes sociais.

Vejo uma espécie de batalha, às vezes declarada, às vezes dissimulada, onde há uma tentativa de imporem-se opiniões, e pior que isso, comportamentos.

É democrático que você respeite manifestações e protestos. Mas não é democrático que você tenha que aceitar e concordar com eles. Não há argumentos que me façam aplaudir, para me fazer de liberal e moderna, e muito menos politicamente correta, marchas pró-maconha, se sou eu, não usuária e combatente de uso e tráfico de drogas. A legalidade da maconha para fins não medicinais, só interessa aos seus usuários, e não tenho que apoiar essa gente que acha bacana e moderno ficar dopada vez ou outra ou 24 horas por dia. Nem quem me faça ver o aborto permitido até 12 semanas, como algo normal e aceitável, quando uma bactéria na Terra ou em Marte é considerada vida. Quando luto e vejo a ciência lutar para que as pessoas tenham uma saúde melhor, para que se salve vidas. O uso e tráfico de drogas, seja qual for, é uma ESCOLHA, assim como a gravidez, exceto esta, em caso de estupro. Tenho que tolerar mulheres semi-nuas fazendo protestos públicos, achando que mostrar os seios dará credibilidade aos seus argumentos; tenho que tolerar passeatas gays onde há manifestações despudoradas de casais homos que pedem respeito e não dão nenhum, e também incluo héteros, nas ruas ou nas TVs, e nas novelas onde a censura é 12 anos, mas ao menor que a tudo isto também assiste, não é responsável se engravida ou faz engravidar, se mata ou rouba, até os 18 anos, nem que sua lista ultrapasse uma dúzia destes ‘delitos’. Tenho que tolerar políticos assaltando abertamente cofres públicos, porque desde sempre foi assim, e fazendo leis atrás de leis e emendas que cada vez mais os protegem e os favorecem. Porque uma minoria aceita tudo, ou a grande maioria, a tudo tolera e ainda segue e aplaude, tenho eu que pensar e agir igual?

Tolerância é muito diferente de aceitação. Muitas fraquezas se escondem sob a égide da tolerância. Há momentos em que a tolerância deixa de ser uma ‘virtude’. Muitos a transformam em comodismo, conformismo. E muitos se conformam, porque preferem perder a liberdade para alguém que pense e faça por eles. De preferência, o governo.

“Não se opor ao erro é aprová-lo, não defender a verdade, é negá-la”. Thomas d’Aquino.

Agora, que dei minha opinião, irei eu mesma mostrar as falácias possíveis que virão decorrentes disto, apenas para exemplificar como funciona e onde ela está, para que saibam reconhecê-las por aí afora, pois pode parecer sutil:

- Vânia, seus conceitos estão ultrapassados. É melhor você rever seus conceitos. (apelo à novidade – o novo é melhor que o velho, o antigo)

- Não acredito que uma pessoa inteligente como você, pense dessa maneira. (apelo à vaidade – para me sentir envergonhada de defender esta opinião "absurda".)

- Você é cristã (evangélica, kardecista, o que seja) Uma pessoa religiosa não é capaz de argumentar racionalmente. (apelo ao preconceito)

- Se foi a Vânia que disse isso, certamente é um engodo, delírio, sem importância, etc. (Mas se vir de fulano bem sucedido, é porque faz sentido – desprezo ou ataque ao argumentador e apelo à riqueza ou fama)

- Quanto absurdo, que bobagem! (desqualificar uma argumentação, mas sem provar o contrário)

E por aí vai... A censura à liberdade de expressão está sendo imposta silenciosamente. A verdade e opinião de cada um, estão sendo omitidas, negadas, camufladas. Em breve todos estarão pensando igual. A própria mídia, com raras exceções, está consentindo isso. Na era das falácias, o melhor mesmo, é não ter opinião.




6 Deixe seu comentário:
Zinha Bergamin (@Lelezinha_09) disse...
Boa Tarde,Tata! Gostei do seu comentário!
É bem por aí;hoje em dia,quando se expressa o próprio modo de pensar,algumas pessoas nos respondem como se fôssemos inimigos!

Pois é... e a tal Democracia? é só para os governantes e os "amigos da Côrte"?

Mas o que mais me deprime,é ver a grande parte da Imprensa conivente com tudo isso! Finge que não vê os mandos e desmandos da turma que se locupletou no país! Será que os próprios jornalistas não enxergam que serão as próximas vítimas,assim que tudo estiver dominado?

Enfim,não podemos desanimar;temos que crer que,com a ajuda de Deus,ainda alguém vai virar a mesa e reverter a ditadura petista que assola o país!
Gde abç
@Lelezinha_09 (Zinha Bergamin)
ProntoFalei disse...
Vânia, não há nada mais prazeroso e que nos traga PAZ, que exercitar o DIREITO de FALAR, desabafar, por pra FORA, o que realmente nos incomoda ao nosso redor, pois temos esse direito.

Haverão outras críticas, sugestões, imposiçoes de OUTROS quanto à Sua vida, sua forma de pensar e de se posicionar... mas te digo minha querida.. LIBERDADE é TUDO de BOM, e DANE-SE quem nao faz uso dela.

PARABÉNS PELO TEXTO. TO ORGULHOSA DE VC!!

Bjs

Pri
ampg5 disse...
"A censura à liberdade de expressão está sendo imposta silenciosamente. A verdade e opinião de cada um, estão sendo omitidas, negadas, camufladas. Em breve todos estarão pensando igual. A própria mídia, com raras exceções, está consentindo isso. Na era das falácias, o melhor mesmo, é não ter opinião."
Que precisão, Vania.É isto o que mais assusta - a doutrina de Gramsci dando frutos.Textos como o seu ajudam as pessoas a acordar! Parabéns!
Crivellar_MG disse...
Querida Amiga, adorei seu texto. Quanto mais tentarem nos calar, mais devemos falar. Esta patrulha só ganhará força se a sociedade deixar. Cabe a nós, estimular aos outros que não aceitem. Seu texto é um belo exemplo disto. #TamoJunto !!
abs..
Rev. Ageu Magalhães disse...
Vânia, foi uma grata surpresa conhecer seu blog. Parabéns pelo texto. Espero que sua última frase tenha sido apenas ironia, pois, nesta era de falácias, não podemos nos render. E o seu texto é um belo exemplo disso. Abraço!
Lucìlia disse...
Vãnia, lendo esse texto entendi o que aconteceu comigo sábado quando postei um comentário no twitter e uma pessoa, dentre outras coisas, me chamou de venenosa, que eu não era católica de verdade. Achei estranha a maneira com que, ela discordou de minha opinião. Agora entendi. Por falta de argumentos reais ela me desqualificou.
Excelentes textos! Parabéns! Bjs
quinta-feira, 4 de abril de 2013 | By: Vânia Santana

Pela desigualdade - por Carlos Alberto Sardenberg



O ponto de partida é o seguinte: as crianças estão com dificuldades para alcançar a plena alfabetização no primeiro ano, ou seja, aos sete anos. Além disso, há um número expressivo de reprovações nesse primeiro ano, justamente por causa do atraso em leitura e redação.

Qual a resposta da autoridade educacional?

É fácil: eliminar a reprovação - todos passam automaticamente - e, sobretudo, fixar como meta oficial que a alfabetização deve se completar no segundo ano, quando a criança estiver fazendo oito anos. Em resumo, dar um período a mais para aprender a ler e escrever.

Não, não se passa no Brasil. Está acontecendo na Costa Rica. Mas, no Brasil, está, sim, em andamento o programa Alfabetização na Idade Certa, sendo esta também definida aos 8 anos.

A Costa Rica é o melhor país da América Central e considerado de bom padrão educacional. De fato, no teste Pisa, aplicado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico em alunos de 15 anos, de 70 países, a Costa Rica obteve 443 pontos em leitura, ficando na 44ª. posição. Na América Latina, só perde para o Chile, cujos alunos alcançaram um pouco mais, 449 pontos. O Brasil está pior, 412 pontos nesse quesito.

Os cinco primeiros colocados são os alunos de Xangai, Coreia do Sul, Finlândia, Hong Kong e Cingapura, com notas entre 526 e 556. Pois nesses países a idade certa para alfabetização é seis anos. Isso mesmo, dois anos antes das metas de Brasil e Costa Rica. A questão é: quando e por que se precisa de mais tempo?

Na Costa Rica, onde a reforma educacional ainda está em debate, há dois tipos de argumentos, um referente ao calendário escolar, outro propriamente pedagógico.

No calendário: o problema, dizem autoridades, é que há muitos feriados e muitos períodos de férias, de modo que o ano letivo não passa de seis meses. Se as crianças vão menos dias à escola, claro que aprendem menos.

O leitor pode ter pensado: mas não seria o caso de aumentar o número de dias letivos?

Para os políticos, nem pensar. Criaria uma encrenca danada com professores e outros funcionários do sistema.

Já o argumento pedagógico diz que não se pode forçar uma criança de sete anos, que se deve deixá-la seguir segundo suas necessidades e seu próprio ritmo.

Quem acompanha o debate educacional no Brasil já ouviu argumentos semelhantes. Por exemplo: no programa Alfabetização na Idade Certa não foram introduzidos padrões que permitam medir se a criança sabe ou não ler. Seria possível fazer isso, uma medida numérica? Sim, já se faz pelo mundo afora. Em Portugal, por exemplo, no primeiro ano, o aluno deve ler em um texto simples, 55 palavras por minuto; no ano seguinte, 90 e, no terceiro ano, 110.

Simples, objetivo, de fácil avaliação.

Não é só no Brasil, mas em praticamente toda a América Latina esse tipo de avaliação causa até uma certa ojeriza. Entre professores, aqui, é forte a rejeição a avaliações concretas, como, por exemplo, um teste nacional que meça a capacidade dos mestres várias vezes ao longo da carreira. Médicos e advogados também não querem fazer as provas profissionais.

Tudo considerado, ficamos com as metas pouco ambiciosas. Pode-se argumentar que seria, digamos, romântico colocar como meta a alfabetização aos seis anos no Brasil. Se um número expressivo de jovens é classificado como "analfabeto funcional" depois do ensino médio, como querer que todos aprendam a ler e escrever aos seis anos?

Um equívoco, claro. Não há razão alguma para não fixar para os que entram agora na escola as metas mais rigorosas e adequadas aos padrões internacionais.

Há também uma questão política, que tem a ver com o desempenho dos governos: metas mais largas são mais fáceis de atingir e, claro, de propagandear.

Isso reflete uma cultura - a de evitar o problema, escolher o desvio mais fácil e politicamente mais vendável. Se as crianças não estão aprendendo na idade certa, se dá mais tempo a elas, em vez de tentar melhorar o processo de alfabetização. E, avançando, se os alunos das escolas públicas não conseguem entrar nas (ainda) boas universidades públicas, abrem-se cotas para esses alunos, muito mais fácil do que melhorar o ensino médio.

Dizem: o problema é que as universidades públicas estavam sendo ocupadas pelos alunos mais ricos vindos do ensino médio privado. Falso. O problema não está nas boas escolas privadas, está na má qualidade das públicas. Melhorar estas seria a verdadeira política de igualdade.

A propósito: nas boas escolas privadas, as crianças já sabem ler e escrever bem aos seis anos.


O Globo
terça-feira, 2 de abril de 2013 | By: Vânia Santana

Comissão da Verdade não se presta a marketing



Foto: Sergio Lima / folhapress


Consta que a presidente Dilma Rousseff está desgostosa com o trabalho da Comissão da Verdade, criada por ela em 2011 para esclarecer atos de violência cometidos por agentes públicos. Embora, formalmente, o período abrangido pela comissão seja de 1946 a 1988, ano de promulgação da Constituição que restaurou a democracia, o objetivo das investigações é esclarecer casos de torturas, mortes e desaparecimentos ocorridos no regime militar, de 1964 a 1985.

Noticia-se que a presidente deseja resultados concretos que abalem a opinião pública. Teria pedido que a comissão desse prioridade a depoimentos públicos de familiares de vítimas do regime, a fim de criar uma "catarse nacional", para funcionar como vacina contra qualquer tentação futura de uma ação militar autoritária. A presidente Dilma patrocina, assim, mais uma das incompreensões que cercam a Comissão da Verdade. No final do governo Lula, quando ela foi incluída na terceira versão do Plano Nacional de Direitos Humanos, quase houve um curto-circuito com os militares porque se tentou abrir espaço no PNDH-3 para que agentes da repressão política daqueles tempos pudessem ser processados.

Ora, a manobra era uma provocação imatura, pois o Supremo já havia batido o martelo ao decidir que a Lei de Anistia, de 1979, do presidente-general Figueiredo, passara uma borracha sobre a atuação criminosa de todos os combatentes da "guerra suja", de ambos os lados.

Cabe à Comissão da Verdade é esclarecer todos os detalhes do que se passou nos porões da ditadura, o paradeiro de desaparecidos, as circunstâncias daquela "guerra", a fim de atender a parentes das vítimas e à necessidade de preservar fatos para a História, para que sirvam de lição às próximas gerações.

Não é necessária qualquer catarse para vacinar o país contra tentações autoritárias. Talvez a ideia derive de comparações inadequadas entre o que aconteceu no Brasil e em outras ditaduras latino-americanas, naquele período de trevas continentais. Toda ditadura, de direita ou esquerda, é maléfica em si. As dimensões das tragédias políticas entre os países são, porém, diversas. Claro que o assassinato de 10 ou 10 mil cometido por agentes do Estado é odioso do mesmo jeito. Mas é mais fácil haver catarse na investigação de um caso do que no outro. E no Brasil os crimes de agentes do Estado - inaceitáveis, frise-se - chegaram às centenas. Em países vizinhos, aos milhares.

Não se entende, ainda, por que se criar comoção num processo de investigação cujos limites e objetivos foram referendados pelo próprio Supremo, com base numa anistia negociada de maneira ampla entre militares e oposição - muito diferente do que aconteceu em alguns vizinhos latino-americanos. A Comissão da Verdade não pode ser manipulada com fins de marketing ideológico, algo extemporâneo no Brasil de 2013.


O Globo