terça-feira, 30 de abril de 2013 | By: Vânia Santana

Golpes Pendentes - por Ricardo Noblat




Perguntaram na semana passada a José Guimarães, líder do PT na Câmara, o que ele achara da aprovação pela Comissão de Constituição e Justiça da emenda à Constituição que confere ao Congresso a última palavra sobre certas decisões do Supremo Tribunal Federal (STF).

Irmão do mensaleiro José Genoino, Guimarães chefiava, em 2005, o cidadão preso com dólares dentro da cueca, episódio memorável da história recente do PT.

Primeiro Guimarães respondeu que seu partido nada tinha a ver com o assunto.

Segundo, que por isso mesmo o assunto não fora discutido pelos deputados do PT.

Terceiro, que nem mesmo ele sabia que a emenda seria logo votada no plenário da Câmara.

Por último, que a repercussão alcançada pela aprovação da emenda na Comissão não passava de um desprezível “factóide”.

Guimarães mentiu.

O PT tinha e tem a ver com o assunto, sim, porque petista é o autor da emenda apresentada em 2011, e petista o presidente da Comissão que resolveu agora pô-la em votação.

De resto, votos petistas, como os dos mensaleiros Genoino e José Paulo Cunha, ambos condenados pelo STF, ajudaram a aprovar a emenda.

O PT estava prontinho para aprovar a emenda no plenário, mas aí…

Aí a repercussão do fato fora do Congresso foi de tal monta que o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), achou recomendável por o pé no freio.

Cabe ao STF interpretar a Constituição e cuidar para que ela seja respeitada. Aos demais poderes da República, cabe acatar as decisões do STF. Se algumas delas lhes parecerem absurdas, é ao STF a que devem recorrer à espera de que sejam revistas.

O PT e seus aliados servis ignoraram a Constituição e conspiraram contra o Estado de Direito no país. Isso é golpe. No caso, tentativa de golpe abortada pelo efeito da repercussão que Guimarães preferiu chamar de “factóide’.

Se a emenda prosperasse, deputados e senadores decidiriam, em última instância, se valeria ou não o que eles próprios aprovassem. O STF poderia ser fechado e a chave jogada fora. Não faria mais falta.

O extraordinário nisso tudo foi que somente um membro do governo protestou contra o que estava em curso: Michel Temer, o vice-presidente.

Nada impedia que mesmo em viagem ao exterior, Dilma se pronunciasse a respeito – mas não o fez.

O ministro da Justiça recolheu-se ao silêncio. Assim como os demais ministros.

Omissos, todos! Para não chamá-los de coniventes com o golpe frustrado.

Não foi o único que se tentou aplicar na semana passada.

Aprovado na Câmara, estava para ser aprovado no Senado o projeto de lei que praticamente aniquila a possibilidade de criação de novos partidos, impedidos de dispor de tempo de propaganda eleitoral e de recursos do Fundo Partidário.

De resto, o projeto aumenta o tempo de propaganda do candidato que dispuser de maiores apoios – leia-se: Dilma.

O STF concedeu liminar sustando a votação do projeto. Ele foi concebido sob medida para evitar que a ex-senadora Marina Silva monte seu partido e com ele concorra à sucessão de Dilma.

No ano passado, Gilberto Kassab, ex-prefeito de São Paulo, fundou o PSD, a quem o STF assegurou o direito de usar o tempo de propaganda eleitoral e a fatia dos recursos do Fundo Partidário correspondentes ao número de parlamentares que a ele aderiram.

Perguntas que insistem em ser feitas: por que o STF negaria a novos partidos o que garantiu ao PSD, que apoiará Dilma?

A pouco mais de um ano das próximas eleições é razoável alterar regras que as disciplinam?

A ex-faxineira ética não se envergonha do que anda patrocinando?

Para se manter no poder qualquer forma de fazer política vale a pena?

Blog do Noblat
quarta-feira, 24 de abril de 2013 | By: Vânia Santana

O ex-covarde - por Nelson Rodrigues



Sensacional artigo de Nelson Rodrigues que está presente na coletânea “A cabra vadia”, que é um livro autobiográfico em que relata fatos tristes e marcantes de sua história.



Entro na redação e o Marcelo Soares de Moura me chama. Começa: – “Escuta aqui, Nélson. Explica esse mistério.” Como havia um mistério, sentei-me. Ele começa: – “Você, que não escrevia sobre política, por que é que agora só escreve sobre política?” Puxo um cigarro, sem pressa de responder. Insiste: – “Nas suas peças não há uma palavra sobre política. Nos seus romances, nos seus contos, nas suas crônicas, não há uma palavra sobre política. E, de repente, você começa suas “confissões”. É um violino de uma corda só. Seu assunto é só política. Explica: – Por quê?”

Antes de falar, procuro cinzeiro. Não tem. Marcelo foi apanhar um duas mesas adiante. Agradeço. Calco a brasa do cigarro no fundo do cinzeiro. Digo: – “É uma longa história.” O interessante é que outro amigo, o Francisco Pedro do Couto, e um outro, Permínio Ásfora, me fizeram a mesma pergunta. E, agora, o Marcelo me fustigava: – “Por quê?” Quero saber: – “Você tem tempo ou está com pressa?” Fiz tanto suspense que a curiosidade do Marcelo já estava insuportável.

Começo assim a “longa história”: – “Eu sou um ex-covarde.” O Marcelo ouvia só e eu não parei mais de falar. Disse-lhe que, hoje, é muito difícil não ser canalha. Por toda a parte, só vemos pulhas. E nem se diga que são pobres seres anônimos, obscuros, perdidos na massa. Não. Reitores, professores, sociólogos, intelectuais de todos os tipos, jovens e velhos, mocinhas e senhoras. E também os jornais e as revistas, o rádio e a tv. Quase tudo e quase todos exalam abjeção.

Marcelo interrompe: – “Somos todos abjetos?” Acendo outro cigarro: – “Nem todos, claro.” Expliquei-lhe o óbvio, isto é, que sempre há uma meia dúzia que se salve e só Deus sabe como. “Todas as pressões trabalham para o nosso aviltamento pessoal e coletivo.” E por que essa massa de pulhas invade a vida brasileira? Claro que não é de graça nem por acaso.

O que existe, por trás de tamanha degradação, é o medo. Por medo, os reitores, os professores, os intelectuais são montados, fisicamente montados, pelos jovens. Diria Marcelo que estou fazendo uma caricatura até grosseira. Nem tanto, nem tanto. Mas o medo começa nos lares, e dos lares passa para a igreja, e da igreja passa para as universidades, e destas para as redações, e daí para o romance, para o teatro, para o cinema. Fomos nós que fabricamos a “Razão da Idade”. Somos autores da impostura e, por medo adquirido, aceitamos a impostura como a verdade total.

Sim, os pais têm medo dos filhos, os mestres dos alunos. o medo é tão criminoso que, outro dia, seis ou sete universitários curraram uma colega. A menina saiu de lá de maca, quase de rabecão. No hospital, sofreu um tratamento que foi quase outro estupro. Sobreviveu por milagre. E ninguém disse nada. Nem reitores, nem professores, nem jornalistas, nem sacerdotes, ninguém exalou um modestíssimo pio. Caiu sobre o jovem estupro todo o silêncio da nossa pusilanimidade.

Mas preciso pluralizar. Não há um medo só. São vários medos, alguns pueris, idiotas. O medo de ser reacionário ou de parecer reacionário. Por medo das esquerdas, grã-finas e milionários fazem poses socialistas. Hoje, o sujeito prefere que lhe xinguem a mãe e não o chamem de reacionário. É o medo que faz o Dr. Alceu renegar os dois mil anos da Igreja e pôr nas nuvens a “Grande Revolução” russa. Cuba é uma Paquetá. Pois essa Paquetá dá ordens a milhares de jovens brasileiros. E, de repente, somos ocupados por vietcongs, cubanos, chineses. Ninguém acusa os jovens e ninguém os julga, por medo. Ninguém quer fazer a “Revolução Brasileira”. Não se trata de Brasil. Numa das passeatas, propunha-se que se fizesse do Brasil o Vietnã. Por que não fazer do Brasil o próprio Brasil? Ah, o Brasil não é uma pátria, não é uma nação, não é um povo, mas uma paisagem. Há também os que o negam até como valor plástico.

Eu falava e o Marcelo não dizia nada. Súbito, ele interrompe: – “E você? Por que, de repente, você mergulhou na política?” Eu já fumara, nesse meio-tempo, quatro cigarros. Apanhei mais um: – “Eu fui, por muito tempo, um pusilânime como os reitores, os professores, os intelectuais, os grã-finos etc, etc. Na guerra, ouvi um comunista dizer, antes da invasão da Rússia: – “Hitler é muito mais revolucionário do que a Inglaterra.” E eu, por covardia, não disse nada. Sempre achei que a história da “Grande Revolução”, que o Dr. Alceu chama de “o maior acontecimento do século XX”, sempre achei que essa história era um gigantesco mural de sangue e excremento. Em vida de Stalin, jamais ousei um suspiro contra ele. Por medo, aceitei o pacto germano-soviético. Eu sabia que a Rússia era a antipessoa, o anti-homem. Achava que o Capitalismo, com todos os seus crimes, ainda é melhor do que o Socialismo e sublinho: – do que a experiência concreta do Socialismo,

Tive medo, ou vários medos, e já não os tenho. Sofri muito na carne e na alma. Primeiro, foi em 1929, no dia seguinte ao Natal. Às duas horas da tarde, ou menos um pouco, vi meu irmão Roberto ser assassinado. Era um pintor de gênio, espécie de Rimbaud plástico, e de uma qualidade humana sem igual. Morreu errado ou, por outra, morreu porque era “filho de Mário Rodrigues”. E, no velório, sempre que alguém vinha abraçar meu pai, meu pai soluçava: – “Essa bala era para mim.” Um mês depois, meu pai morria de pura paixão. Mais alguns anos e meu irmão Joffre morre. Éramos unidos como dois gêmeos. Durante 15 dias, no Sanatório de Correias, ouvi a sua dispnéia. E minha irmã Dorinha. Sua agonia foi leve como a euforia de um anjo. E, depois, foi meu irmão Mário Filho. Eu dizia sempre: – “Ninguém no Brasil escreve como meu irmão Mário.” Teve um enfarte fulminante. Bem sei que, hoje, o morto começa a ser esquecido no velório. Por desgraça minha, não sou assim. E, por fim, houve o desabamento de Laranjeiras. Morreu meu irmão Paulinho e, com ele, sua esposa Maria Natália, seus dois filhos, Ana Maria e Paulo Roberto, a sua sogra, D. Marina. Todos morreram, todos, até o último vestígio.

Falei do meu pai, dos meus irmãos e vou falar também de mim. Aos 51 anos, tive uma filhinha que, por vontade materna, chama-se Daniela. Nasceu linda. Dois meses depois, a avó teve uma intuição. Chamou o Dr. Sílvio Abreu Fialho. Este veio, fez todos os exames. Depois, desceu comigo. Conversamos na calçada do meu edifício. Ele foi muito delicado, teve muito tato. Mas disse tudo. Minha filha era cega.

Eis o que eu queria explicar a Marcelo: – depois de tudo que contei, o meu medo deixou de ter sentido. Posso subir numa mesa e anunciar de fronte alta: – “Sou um ex-covarde.” É maravilhoso dizer tudo. Para mim, é de um ridículo abjeto ter medo das Esquerdas, ou do Poder Jovem, ou do Poder Velho ou de Mao Tsé-tung, ou de Guevara. Não trapaceio comigo, nem com os outros. Para ter coragem, precisei sofrer muito. Mas a tenho. E se há rapazes que, nas passeatas, carregam cartazes com a palavra “Muerte”, já traindo a própria língua; e se outros seguem as instruções de Cuba; e se outros mais querem odiar, matar ou morrer em espanhol – posso chamá-los, sem nenhum medo, de “jovens canalhas”.


Crédito: Blog Arte Reaça
sábado, 20 de abril de 2013 | By: Vânia Santana

Entre a globalização da idiotia ou a pátria livre


Ahhh, as redes sociais!! Esse mundo virtual onde a gente pode observar como pensam e como agem todas as culturas e raças de todas as idades do mundo! E tudo o que está acontecendo nele, a globalização, a revolução mundial que a internet propiciou, é uma coisa incrível. Desde que pude ter internet, apesar de ser uma das piores e mais caras do mundo, como tantos e a maioria dos serviços de Pindorama, a TV passou a ter um papel secundário, quase inexistente em minha vida. Até porque os programas de TV brasileira, continuam a mesma porcaria, pra não dizer piores, agora transmitidos em alta qualidade de imagem. A desinformação, o vazio e o inútil via full HD. O controle remoto só nos salva da programação do canal aberto, usando o botão 'off'. Já as propagandas, mesmo as de merchandising subliminar nos filmes e nas novelas, estas são inteligentes, na maioria. Dá gosto de ver! Tanto que conseguem fazer as pessoas desejarem trocar de carro, comprar aquele shampoo milagroso que sabemos que não vai deixar nossos cabelos como das modelos saídas do salão de beleza direto pra telinha, usar aquela cor de esmalte/roupa/sapato que a artista da novela usa e faz virar referência de moda, ou comprar aquele smartphone que custa cinco vezes mais do que vale no local de origem, em 12 vezes sem juros visíveis, mas embutidos junto com os  impostos, também, mais caros do mundo. Tudo perfeitamente articulado, meticulosamente estudado, criado e dirigido, com um único objetivo. E tanto a programação, quanto as propagandas, o cumprem. Soubessem todos quem são os proprietários dos canais de rádio e tv's, revistas e jornais, bem como seus anunciantes e patrocinadores, já poderiam fazer uma idéia melhor de qual é este objetivo.



Não que na internet a gente esteja livre disso. Como disse antes, ela reflete o mundo fora da telinha, e às vezes precisamos caçar algo que não subestime nossa inteligência, além de aguçar o senso de responsabilidade, dos que a tem, porque na internet a informação viaja a longas distâncias com a velocidade de milhares de megabytes. E nosso computador de cada dia não pode distinguir o que é verdade ou o que é mentira, apesar do avanço da inteligência artificial. Nem o que é inteligente, relevante ou não. Se alguém duvida disso, é só perguntar para uma tal Luíza que esteve no Canadá, ou para o criador de um tal 'lek lek' usado agora até em propaganda de uma marca de automóvel. No Brasil, o que me deixa mais animada ainda, é quando olho o Trend Topic (os assuntos mais comentados) do Twitter. É de fazer gosto... a qualquer desgosto!! Agora mesmo, enquanto escrevo este texto, o trend é este aqui:




Não é digno do termo 'WTF?' ??? (what's the fuck? - tradução livre = 'que m* é essa?)

Lá no Egito, as redes sociais foram usadas para uma revolução, a chamada Primavera Árabe. Na Venezuela, o opositor Henrique Capriles, a utilizou para fazer campanha. Os venezuelanos, que o apoiaram, também fizeram seus protestos e chamados para a campanha de Capriles via Twitter. O comício de Capriles, através das redes sociais, levou 1,5 milhão de pessoas às ruas. Apesar disso, e mesmo com protestos e provas de fraude nas eleições, Maduro ontem tomou posse como presidente. Por que isto aconteceu? Porque existem pessoas, a grande maioria, que não consegue ver onde e como é manipulado. Quer um exemplo? Observe:






Desejo de coração que todos leitores deste blog tenham percebido aí, a manipulação da TV venezuelana.


Dia 18, na Argentina, as redes sociais levaram 1 milhão de pessoas a protestar em frente a Casa Rosada, contra o governo de Cristina Kirchner. Pelo Facebook, os indignados.com.org e pelo twitter, através das tags #18A (18 de Abril) e #AntiK (anti Kirchner). Soube disso uma semana antes, porque uma seguidora argentina no twitter me contou, e usaram o #AntiK para não serem monitorados. E como aqueles que não desejam para os outros, aquilo que não querem para si, tanto eu como ela, estávamos no twitter em campanha a favor pela eleição de Capriles.

Não é segredo o modus operandis desta turma da esquerda ditadora disfarçada de democracia. Todos são censores de meios de comunicação que não são a eles favoráveis. Mas a internet ainda não foi alcançada, não como desejam muitos deles, salvo em Cuba ou na Coréia do Norte, onde a ditadura já é completa.

E foi a união dos blogueiros e ativistas patriotas, que organizaram esta beleza que vemos na foto:







Brasil!!! "Hora est iam nos de somno surgere!" - Já é hora de levantarmos de nossa inércia!!

Esta frase de São Paulo poderia causar efeito nos brasileiros. Mas não causa. Não será uma frase a causar, já que tudo o que tem acontecido no país, a farra da república, o descaso com a saúde e a educação, a seca no nordeste, as enchentes, não causa. A impunidade, a corrupção, a violência, os altos impostos, a volta da inflação. O Brasil tem estado nos últimos lugares em rankings mundiais de maior importância para uma nação. E lidera quando se trata do pior. Mas nada tira o cidadão da zona de conforto.

Sou uma indignada.com.br. 'Indignada com o Brasil' que vejo. Indignada com o país em que vivo, que não é mais o meu país. Com brasileiros que não são brasileiros, apenas lembram disso quando preenchem a nacionalidade em documentos, ou na vitória dos esportes. E desfilam com a bandeira cuja pátria não honram. Chego a ter vergonha de ser brasileira. E sei, pelo que me dizem, que muitos se sentem assim. E apesar dos trends ali de cima, uma minoria da qual faço parte, ainda deseja outro futuro para este país. Talvez aqueles que também têm saudades de um tempo que não volta mais. De uma juventude, embalada por Geraldo Vandré, onde um dia, uma minoria também de patriotas, lutaram e morreram pela liberdade deste país: "Vem vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer".
Entre a globalização da idiotia ou a pátria livre, sabíamos - e ainda sabemos -  qual escolher.






quinta-feira, 18 de abril de 2013 | By: Vânia Santana

Que os bolivarianos do continente entendam





O relógio da História gira em velocidades desconcertantes. O tempo histórico pode dar a impressão de parar, e, de repente, acelerar em velocidade vertiginosa. A Venezuela parecia estagnada, sob o peso de um regime nacional-populista, assentado na autocracia fundada pelo coronel autointitulado “bolivariano” Hugo Chávez . E muita coisa mudou em poucas semanas.

Em 14 anos de poder, Chávez se beneficiou de centenas de bilhões de dólares — nos últimos dez anos, US$ 1 trilhão, segundo o “Financial Times” — amealhados nas exportações de petróleo tirado de uma das maiores reservas do mundo. E soube manejar este dinheiro, até quando pôde, para se manter no controle da Venezuela.

Ainda ganhou uma última eleição presidencial, em outubro, já em fase terminal do câncer, com 1,5 milhão de votos à frente do oposicionista Henrique Capriles. Morto o caudilho em 5 de março, o poderoso regime chavista põe-se em marcha para eleger o vice do coronel, o sindicalista Nicolás Maduro, ungido pelo próprio Chávez como sucessor.

O relógio da História, no entanto, girou e a vitória de Maduro, por apenas pouco mais de 200 mil votos, representa uma derrota para o chavismo. Apesar de toda a máquina, toda a pressão e manipulação — por vezes ridícula — da figura de Hugo Chávez morto, houve a migração para o mesmo Henrique Capriles de quase um milhão de votos.

Os seguidores do bolivarianismo chavista no continente, brasileiros incluídos, precisam entender o que se passa na Venezuela. Nada diferente do destino de qualquer regime autocrata, sempre abalado na morte do líder, carismático por definição. Esses militantes poderiam aprender algo.

Os conflitos de rua ocorridos terça-feira, com a morte de sete pessoas, derivam das tensões geradas num sistema em que o adversário é visto como o inimigo a ser eliminado.

Henrique Capriles, com novo e elevado status na política venezuelana, fez bem em recuar na ideia de uma marcha convocada para protestar contra alegadas fraudes na eleição e pressionar pela recontagem dos votos. Maduro subiu o tom, proibiu a manifestação e ameaçou “radicalizar a revolução” (a do “Socialismo do Século XXI”).

— Não caiam nas provocações do governo e tenham claro que nossa luta é democrática — alertou um sensato Capriles. Agora, é acompanhar como Maduro e a estrutura de poder chavista enfrentarão a tempestade econômica: inflação rumo aos 30%, desabastecimento e nenhuma perspectiva de o petróleo voltar a cotações que financiem os delírios do regime.

Resta provado que os sonhos dos governantes só podem ser realizados e perdurar se houver bases reais na economia para sustentá-los, e um regime com instituições e princípios que absorvam as tensões normais em qualquer jogo político. Um desses amortecedores é uma efetiva rotatividade no poder por meio do voto livre, com base em regras predefinidas e estáveis. Tudo o que não é o chavismo bolivariano.


O Globo
terça-feira, 16 de abril de 2013 | By: Vânia Santana

O Brasil dos ignorantes pluralíticos



‘Não adianta reclamar’. Pensa a pessoa que está a 30 minutos na fila do banco. À sua frente, ainda tem pelo menos umas 20 pessoas. Que também não reclamam.
‘Não adianta reclamar’. Pensa o idoso que está em pé no ônibus lotado, enquanto um jovem ocupando seu lugar reservado por direito, ignora o idoso.

As pessoas não reclamam se percebem um preço diferente na nota do que estava na prateleira do supermercado. Se percebe um produto vencido. Se percebe que mesmo não estando vencido, um litro de leite na caixa comprada estava azedo."Vou gastar muito mais tempo/dinheiro/gasolina indo lá reclamar do que engolindo o prejuízo"

A primeira vez que fui assaltada, foi em frente a uma lanchonete na Av. Paulista, por um menor. Na verdade, uma menor. Embora a menor não estivesse armada e na lanchonete várias pessoas viram a cena, continuaram tomando o seu café. Assistiram minha luta quando tentou tirar uma pulseira e o relógio. A pulseira chegou a cair no chão. Ela pegou e saiu andando. Sequer uma pessoa interferiu pra ajudar ou veio ver se eu estava bem. Assistiram passivos como se estivessem vendo a cena na TV. De mais uma vítima de um trombadinha drogado. (ah, se apenas um tivesse feito isso, em volta de mim surgiria uma rodinha de indignados, certamente)

Confesso que chego a me sentir alienígena, quando saio para passear com minha dog. Sempre levo um saquinho pra recolher seu “cocô”. E me desvio no caminho de uma dúzia deles. E quando vejo diversos saquinhos com as fezes recolhidas nas árvores do bairro, quando levo o meu pra casa e jogo no lixo. Sei que estas pessoas, que não recolhem, ou que embora o façam depositam os mesmos nas árvores, pensam assim: “se o outro não faz, por que eu vou fazer?”. Aos poucos se perde a noção de cidadania e respeito com a 'coisa' pública. O patrimônio de todos nós.

Em todos estes exemplos acima, você pode perceber que as pessoas sempre ficam esperando que alguém faça alguma coisa. Sempre se espera que a decisão venha de fora.
Isso ocorre quando um cidadão age de acordo com aquilo que os outros pensam, e não por aquilo que ele acha correto fazer. O ‘não adianta reclamar’, ‘isso não vai dar em nada’ e o ‘ninguém faz isso’ leva-se a inércia da difusão da responsabilidade. Ninguém diz nada e conseqüentemente nada é feito.

O fato é que os brasileiros são ignorantes pluralíticos. A ‘ignorância pluralítica’ é um termo da psicologia, que explica: As pessoas podem até ter uma opinião diferente da maioria, mas concordam e agem como se tivessem a mesma do grupo.

A corrupção dos políticos, o aumento de impostos, o descaso nos hospitais, as filas imensas nos bancos e a violência diária raramente levam pessoas a reagir, a protestar, e menos ainda fazer isto indo às ruas. É uma apatia e uma cultura ao silêncio, inacreditável.

Brasileiro não reclama. Não a quem devia. Não protesta, mesmo sendo lesado. Enquanto continuar omisso e fazendo piadinhas com coisas que deveriam levar muito a sério, continuará o Brasil como na época da Colônia, e continuarão os brasileiros sendo indefinidamente explorados.