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sexta-feira, 24 de outubro de 2014 | By: Vânia Santana

Ilusão coletiva - por Heleny Galati



São aqueles que acreditam nas 'facilidades', aqueles que preferem nivelar o mundo por baixo, aqueles que acreditam em conspirações, aqueles que guardam do passado frustrações de todos os tipos, aqueles que acreditam em 'tomar' ao invés de merecer, aqueles que justificam seus erros através de outros, aqueles que se iludem com promessas de vida mais fácil, aqueles que não enxergam que a igualdade é apenas para quem está embaixo, enquanto os que governam nunca serão iguais.
Enfim, a cegueira comandada pelo ódio ao que tem mais - mesmo que seja por esforço pessoal, o hábito de que os direitos é o que importa, a triste verdade de termos nos tornado dependentes de esmolas que nos controla, foi, é e sempre será tudo isso que nos levará a lugar nenhum, rodando em torno do rabo e pensando que igualdade é ter o mesmo carro, ir ao mesmo restaurante, ter a mesma marca de roupa ao invés de ter a mesma educação de qualidade, a mesma saúde eficiente e gratuita e a segurança de andar nas ruas sem medo.

Determinados locais nesse globo - são mais que um, muitos mais - vivem de um tipo de ilusão coletiva, fomentada pela estatística, tão manipulada e verdadeira quanto o curriculum de alguns poderosos que os governam. Existe muito mais que números, que urnas, que mídia. Exite a capacidade individual de pensar, de observar e concluir. O governo de um país não pode ser um caso de paixão, mas um caso de racionalidade e escolha adequada.

Pergunto a um homem, se ele permitiria a um qualquer, sem qualificações que não fosse a fala decorada que agrada ao ouvido, tomar conta de seu negócio. "Não", é a resposta, como 'não' é a resposta para um professor, engenheiro, médico, mas nunca é 'não' para alguém que vai representar os desejos de centenas de milhões de pessoas, por quê?

Identificação? Ódio por quem é capaz de falar melhor, que estudou mais? Qual é a real moral que qualquer um tem - do passado ou do presente - para representar pessoas que trabalham, empenham-se em ser melhores e cumprem a lei? Não há.

Estamos num vácuo, de lideranças, de inteligência, de moralidade - no que se refere ao bem público, comum. Estamos num momento em que, em todo mundo, os que nunca conseguiram dar o próximo passo, querem agora arrastar a todos que, aparentemente, são os responsáveis para o mesmo poço escuro.

A história anda ensinou, talvez porque muitos nunca a estudaram sem a paixão do torcedor. Talvez por que muitos nunca saíram de seus casulos e viram a realidade que cada experimentação trouxe.

Não é possível acreditar nas pessoas apaixonadas que mentem, especialmente para elas mesmas. Não é possível compactuar com a cegueira, com a covardia e, acima de tudo, com a manipulação da verdade com objetivos nobres. A nobreza desses mesmos objetivos fica comprometida. Não é aceitável manipular a fraqueza de muitos, para compactuar com a ganancia de alguns.

Não se vê saída. Não se vê liderança. Tudo se resume em gritos, mentiras, covardes manipulações. Seria o fim? Seria o começo da escravidão definitiva? O que seria?


Heleny Galati

*Heleny Galati é paulista, empresária e escritora. Pós graduada em Administração de Empresas e Ciência de Computação. Autora dos romances "Asif - Perdão" "Asif - Superação" e Luzes da Turquia.
site: www.helenygalati.net 

twitter @helenig

quinta-feira, 29 de maio de 2014 | By: Vânia Santana

Como a Copa do Mundo FIFA 2014 tornou-se a pior proeza da publicidade na História - Forbes

Texto de Anderson Antunes para a Forbes publicado em 27/05,  mostra que o mundo todo, especialmente a imprensa internacional compreende melhor sobre os protestos e o povo brasileiro do que os nossos políticos brasileiros.
Leiam o texto traduzido, no final está o link onde o leitor poderá ver o original em inglês.


Em 2007, quando o Brasil recebeu o direito de sediar a Copa do Mundo da FIFA 2014, a nação sul-americana estava experimentando seu melhor período econômico em décadas. Naquele ano, a economia do Brasil cresceu 4,5%, graças ao capital de investidores estrangeiros que fluiu no país. A inflação estava sob controle e a moeda forte. E a lacuna entre os ricos e os pobres, finalmente parecia estar diminuindo um pouco. O país do futuro estava finalmente aproximando-se do seu vasto potencial.

Avançando rapidamente até maio de 2014: a confiança do consumidor despencou e a economia se contraiu em trimestres consecutivos (do 4º trimestre de 2013 ao primeiro de 2014), pela primeira vez desde a profunda crise financeira global de 2008/09. Cerca de duas semanas antes da recepção do maior espetáculo do evento esportivo na terra, o Brasil está no meio de um grau de caos que em nada se assemelha a imagem do país que foi vendida por seus líderes para o mundo, há sete anos.

Acordando Alices e Marias
Manifestantes durante protesto em Brasília contra a Copa (foto: Gustavo Froner/Reuters)

Então, o que deu errado?

Parte da culpa pode ser atribuída ao ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, cuja megalomania e ambição própria o colocaram  para o que pode se tornar seu pior momento político. Certamente, o político mais popular no Brasil por milha, Lula da Silva, pessoalmente, fez lobby para que a Copa do Mundo fosse realizada no Brasil, por uma questão de mostrar ao mundo o quanto uma superpotência  o Brasil poderia ser. Verdade seja dita, muitos brasileiros comemoraram essa idéia quando foi apresentada pela primeira vez, e só recentemente mudaram seu humor.

Tal ambição não é estranha para os líderes políticos e seus povos. No entanto Lula da Silva se esqueceu de que a melhor maneira de mostrar a capacidade de crescimento de um país, estatura e confiança, é dando a seus cidadãos mais liberdade social, econômica e política (México fez um trabalho muito melhor ao fazer isso e está a caminho de ultrapassar o Brasil como a maior economia da América Latina em 2022). Ele preferiu juntar-se, em nome de seus compatriotas, com uma das organizações supostamente mais corruptas do mundo para criar um evento que no seu orçamento original já custou bilhões, mas acabou consumindo ainda mais do dinheiro dos contribuintes.

As estimativas mais conservadoras colocam em 11,7 bilhões de dólares o total de investimentos por parte do governo para a Copa do Mundo, 4 bilhões de dólares só em 12 novos e renovados estádios, mais de três vezes o custo inicialmente previsto e a Copa do Mundo mais cara da história, em grande parte devido a fraudes e ligações suspeitas entre políticos e empreiteiros.

Até mesmo um membro do comitê organizador da Copa do Mundo do Brasil provocou polêmica na última terça-feira, dizendo a manifestantes irritados com o orçamento do torneio que o dinheiro já tinha sido gasto ou roubado. "Eu quero que a Copa do Mundo saia da melhor forma possível”, Joana Havelange, filha do poderoso ex-chefe da Confederação Brasileira de Futebol (CBF ) Ricardo Teixeira, protestou em seu perfil Instagram. "Eu não vou lutar contra isso, porque o que tinha que ser gasto, roubado, já foi", escreveu ela. "Se fosse para protestar (com o custo em espiral do evento), então as pessoas deveriam ter feito isso antes”, disse Havelange no post, que mais tarde foi excluído.

O que é pior: alguns desses estádios podem nem mesmo estar prontos para o torneio, e muito menos os projetos de infra-estrutura enormes que foram vendidos aos brasileiros como um benefício de sediar a Copa do Mundo e que ainda não saíram do papel - um trem-bala entre Rio e São Paulo prometido em 2009 que estaria pronto para a Copa do Mundo está agora previsto para 2020.

Desde que subiu ao poder em 2002, o Partido dos Trabalhadores do Brasil vem usando propaganda em várias formas para empurrar a idéia de que seu estilo de governo mudou o Brasil para melhor. Mas apesar das melhorias recentes, o Brasil ainda é um dos países mais desiguais do mundo, e os seus cidadãos mais pobres são os que pagam a maior parte de sua renda em impostos e também os que recebem o mínimo de volta em investimentos do governo. Não é de se admirar que alguns deles estejam a tomar as ruas para protestar.

A idéia de sediar a Copa do Mundo foi, de fato, vista pelos líderes do Partido dos Trabalhadores e outros partidos aliados como a ‘peça de resistência’ para ilustrar as mudanças que foram propagadas como milagrosas. A desconexão com a vida real é o que causou a ira de muitos brasileiros, e uma decisão do Ministério Público Federal pediu a um tribunal para suspender a veiculação de anúncios do governo divulgando os benefícios que a Copa do Mundo trará ao Brasil, dizendo que os anúncios são " absurdamente divorciados da realidade."

Pesquisas de opinião pública mostram uma queda constante de entusiasmo para o evento entre os brasileiros. Em 2008, um ano após o Brasil ser anunciado como sede da Copa do Mundo, 79% dos entrevistados em uma pesquisa Datafolha apoiou o evento. Em abril deste ano, o número foi de 48%. A mesma pesquisa deste ano mostrou 55 % dos entrevistados dizendo que o evento vai trazer mais mal do que bem para os brasileiros.

"Eu espero que o Brasil perca na primeira rodada", Maria de Lourdes, 39, uma vendedora de rua que participou de uma recente manifestação anti-Copa do Mundo, disse ao EUA Today. Ela disse que a equipe brasileira caindo cedo faria habitantes perderem a sua boa vontade nacionalista para o evento. "O Brasil, com todos os problemas, o Rio com todos os seus problemas - muitas pessoas ainda morrem de fome, enquanto outros estão gastando dinheiro com esses jogos", disse ela.

O presidente da FIFA, Joseph Blatter, já manifestou suas preocupações sobre a capacidade do Brasil de sediar a Copa do Mundo. "Se isso acontecer de novo, temos de questionar se tomamos a decisão errada  ao atribuir os direitos de hospedagem", disse Blatter à agência de imprensa alemã DPA, quando questionado sobre os protestos sociais que ocorreram no Brasil durante Copa das Confederações no ano passado, um torneio de aquecimento para Copa do Mundo.


A Copa do Mundo será realizada como prevista no Brasil, mas certamente não será sem problemas de segurança. Ela também será marcada não mais como uma oportunidade para o Brasil de conquistar o sexto título mundial, mas como uma oportunidade para os brasileiros se lembrarem de seus líderes que estão no comando das coisas, especialmente considerando que a Copa do Mundo pode causar algum impacto na próxima eleição presidencial de Outubro.

Lula da Silva queria mostrar ao mundo o quanto o Brasil  tem força. Ele nunca imaginou que poderia tomar o calor para ele.


Forbes - How The 2014 FIFA World Cup Became The Worst Publicity Stunt In History


terça-feira, 27 de maio de 2014 | By: Vânia Santana

Aumenta a desigualdade

‘País rico é país sem pobreza”, sugere a publicidade governamental. Natural, pois sofisma e redundância são elementos-chave na propaganda e na política.

Na vida real, há um paradoxo: os brasileiros pobres estão cada vez mais empobrecidos pelo mesmo Estado que anuncia protegê-los.

É efeito da armadilha em que o país entrou e na qual se mantém prisioneiro.

Uma medida dessa alienação está na velocidade de expansão da teia da burocracia tributária. Ela avançou ao ritmo de 780 novas normas por dia durante o último quarto de século, desde a promulgação da Constituição em 1988 — informa o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação.

Somadas, as 4,7 milhões de regras baixadas de 1988 até dezembro passado comporiam um livro de 112 milhões de páginas impressas (em papel A4 e com letra Arial 12). Enfileiradas, as páginas cobririam o país em linha reta do Oiapoque, no Amapá, ao Chuí, no Rio Grande do Sul.

As consequências vão muito além de infernizar a vida das pessoas e empresas. A opção política por manter intocada essa estrutura fiscal e tributária produziu uma perversidade: aumentou a desigualdade social no Brasil nas últimas duas décadas, advertem pesquisadores como o economista José Roberto Afonso, do Ipea.

O sistema atual privilegia tributos indiretos e sobre o consumo. Com ele, até 1996, o Estado se apropriava de 28% da renda mensal das famílias pobres, com até dois salários mínimos (cerca de R$ 1.400). Em 2008 o Estado já tomava 54% do rendimento familiar dos mais pobres. No ritmo atual, prevê-se que no fim da década o peso dessa carga tributária esteja em 60%.

No longo prazo, praticamente anula a expansão dos gastos governamentais com programas sociais destinados às famílias mais pobres, como aconteceu nas últimas duas décadas.

Em meados dos anos 90 o gasto social com recursos do orçamento federal equivalia a 0,5% do Produto Interno Bruto. No ano passado esse tipo de despesa representou 2,2% do PIB — segundo cálculos do economista Mansueto de Almeida, que se ateve ao dispêndio com iniciativas de promoção de renda mínima, excluindo Previdência Social, Educação e Saúde.

O Estado empobrece os pobres e mantém opção preferencial pelo aumento da desigualdade. “O Brasil não parece tão desigual quando se olha apenas para o impacto da tributação direta sobre a renda”, diz Afonso. “O problema é o peso da tributação indireta (do tipo PIS/Cofins), que recai principalmente sobre o consumo.”

O impacto é grande nas famílias pobres, cuja maior parte do rendimento é destinada ao consumo. De forma indireta, e compulsória, essas famílias acabam entregando ao Estado mais de 54% de sua renda mensal de dois salários mínimos (R$ 756 do ganho mensal de R$ 1.400). Para as mais ricas, com renda familiar mensal superior a 30 salários, o impacto é proporcionalmente muito menor — corresponde a 29% (R$ 6.200 do rendimento de R$ 21.700).

O agravamento da desigualdade social brasileira é real, mas ainda é tema à margem da agenda dos candidatos à Presidência da República. Eles se limitam a repetir velhos e vagos slogans. Se planejam “combater a pobreza”, é melhor se apressarem. Porque, como dizia o humorista Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta) diante da alta do custo de vida, “a continuar essa carestia, pobre tende a desaparecer”.

 José Casado
O Globo

terça-feira, 13 de maio de 2014 | By: Vânia Santana

As empresas não votam, mas elegem


Segundo o Instituto Kellogg, para cada real aplicado nas campanhas, as doadoras obtêm R$ 8,50 em contratos públicos


A democracia não tem preço, mas as eleições brasileiras estão cada vez mais caras. O ciclo eleitoral completo para presidente, governadores, senadores, deputados, prefeitos e vereadores movimentou, nos últimos quatro anos, cerca de R$ 9,5 bilhões. A soma inclui as doações, o Fundo Partidário e a isenção fiscal às emissoras para a transmissão do horário eleitoral gratuito. As verbas oficiais não incluem a dinheirama que circula em malas, meias e cuecas. A título de comparação, somente o caixa 1 supera os R$ 8,1 bilhões previstos para as 45 obras de mobilidade urbana da Copa 2014.

Nos bilhões das últimas eleições municipais existem várias curiosidades. Entre elas, quais seriam os motivos que levaram um empresário a doar, como pessoa física, quase R$ 3 milhões a partidos políticos adversários, sendo R$ 1,9 milhão para o Diretório Nacional do PT e R$ 1 milhão para o Diretório Estadual do PSDB? Como explicar que 4.443 candidatos tenham feito autodoações superiores a 50% dos bens que declararam à Receita Federal?

Quanto às doações de pessoas jurídicas, a maioria dos ministros do STF já decidiu proibi-las, mas o julgamento ainda não foi concluído. Assim, em 2014, os empresários continuarão a dar as cartas. Até mesmo nos anos sem eleições, as empresas bancam generosamente alguns partidos, notadamente os governistas e aqueles com perspectivas de poder, chegando ao ponto de quase 100% das doações serem empresariais. Em 2013, por exemplo, o PT recebeu o total de R$ 79,8 milhões e o PSDB, R$ 20,4 milhões. Curiosamente, o PSB, do candidato Eduardo Campos, amealhou R$ 8,3 milhões, quantia surpreendente para uma agremiação com arrecadação zero em 2009 e 2011. Em resumo, de 2011 a 2013, o PT arrecadou quatro vezes mais do que o PSDB e quase 12 vezes mais do que o PSB. É uma união promíscua entre o capital e o trabalho.

As doações atendem ao princípio franciscano do “é dando que se recebe”. Conforme estudo do Instituto Kellogg, para cada real aplicado nas campanhas eleitorais, as empresas obtêm R$ 8,50 em contratos públicos. Além do excepcional retorno financeiro, os empresários colocam azeitonas nas próprias empadas, haja vista que dos 594 parlamentares, 273 são empresários (46%) e 160 compõem a bancada ruralista (27%), conforme dados do Departamento Intersindical de Assistência Parlamentar (Diap).

A cada eleição os custos sobem exponencialmente. Para eleger-se em 2010, cada deputado federal gastou, em média, R$ 1,1 milhão; os senadores, R$ 4,5 milhões; os governadores, R$ 23,1 milhões. Assim, mal tomam posse e os políticos já estão preocupados com verbas para a renovação do mandato. Parodiando Fernando Pessoa às avessas, tudo vale a pena se a doação não for pequena. Como consequência, de cada dez inquéritos sobre corrupção na Polícia Federal, seis envolvem questões eleitorais.

Diante desses fatos, o veto às doações das pessoas jurídicas resolverá apenas parte do problema. Sem o caixa empresarial, será imprescindível a fixação de limites que reduzam os custos das campanhas eleitorais, tal como previsto em lei desde 1965. A definição de um teto nacional e de tetos regionais — compatíveis com os PIBs estaduais e municipais — irá atenuar os efeitos do poder econômico. Tetos iguais para cargos e regiões, associados à transparência plena quanto às receitas e despesas, irão desidratar o caixa 2, pois os próprios candidatos estarão de olho nos adversários.

A retração dos recursos empresariais também poderá ser compensada com o melhor uso do Fundo Partidário e das isenções fiscais. Exemplo de desperdício são as propagandas políticas, repetidas seguidas vezes em horário nobre. Que dirá o pagamento de advogados com o Fundo para defesa de condenados dos partidos.

Enfim, a próxima eleição ainda não será a que desejamos. De positivo, a resolução do TSE que elimina as “doações ocultas” ao exigir nas prestações de contas os CPFs e os CNPJs dos doadores originais. No próximo governo, porém, quaisquer que sejam os eleitos, temas como os sistemas eleitorais, formas de financiamento, voto facultativo, reeleição, candidaturas avulsas, entre outros, precisam ser enfrentados, ainda que não exista consenso.

No momento em que 76,3% dos brasileiros não confiam no Congresso (segundo o Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo), só uma ampla reforma político-eleitoral renovará a relação dos cidadãos com seus representantes. Essa reconciliação, se houver, irá ampliar o financiamento privado individual e a participação dos brasileiros na vida política nacional. Dinheiro à parte, os eleitores somos nós.

Gil Castelo Branco -
O Globo

Gil Castello Branco é economista e fundador da organização não-governamental Associação Contas Abertas


domingo, 13 de abril de 2014 | By: Vânia Santana

O IBGE sob domínio petista


A suspensão, pela diretoria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), da divulgação dos resultados trimestrais da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) - que apresenta a situação do mercado de trabalho no País - deixa claro que, se for necessário para evitar que informações eventualmente negativas sobre o desempenho da economia causem danos à candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição, o governo do PT não hesitará um segundo para intervir em qualquer órgão público. Nem mesmo instituições como o IBGE, que construíram ao longo dos anos uma reputação reconhecida internacionalmente pela qualidade e isenção de seu trabalho e produzem informações essenciais para a formulação de políticas públicas e para decisões das empresas privadas e das famílias, escapam da volúpia petista pela permanência no poder.

A revolta do corpo técnico da Diretoria de Pesquisas da instituição, responsável pela produção dos principais indicadores por ela divulgados regulamente, não deixa dúvidas quanto ao caráter político da decisão. A diretora Marcia Quintslr, que se opunha à interrupção da divulgação dos resultados, demitiu-se do cargo que ocupava desde 2011 tão logo a suspensão foi anunciada. Em nota, coordenadores e gerentes estratégicos da Diretoria de Pesquisas disseram ser "insustentável" sua permanência nos cargos caso a suspensão seja mantida.

A constatação, pela Pnad Contínua, de que o desemprego médio no País em 2013 foi de 7,1% deve ter provocado grande irritação entre os membros do governo que acumulam a função de organizadores da campanha eleitoral de Dilma. Eles estavam acostumados a outro indicador, a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) também aferida pelo IBGE, que tem apontado para um desemprego em torno de 5% - número que certamente tem impacto eleitoral muito mais favorável para a candidatura oficial do que o da Pnad Contínua.

São, porém, pesquisas diferentes, baseadas em metodologias e critérios diferentes e com abrangências igualmente diferentes (a PME limita-se a seis regiões metropolitanas; a Pnad Contínua tem alcance nacional), daí a discrepância de seus resultados num determinado momento.

Ao anunciar a suspensão da divulgação dos resultados trimestrais da Pnad em 2014 - a próxima estava marcada para o dia 27 de maio - e o reinício dos anúncios em janeiro de 2015, quando o vencedor da eleição presidencial já tiver tomado posse, a diretoria do IBGE tentou justificá-la com argumentos técnicos. Entre outros, a direção do instituto alegou, em comunicado, que a suspensão é necessária para eliminar da pesquisa dúvidas e questionamentos, entre os quais a respeito de renda domiciliar per capita, que será utilizada para definir as quotas de Estados e municípios nos respectivos fundos de participação em tributos federais.

Os técnicos da Diretoria de Pesquisas consideraram "inaceitável" essa alegação e também a decisão de refazer o calendário de divulgação dos resultados da Pnad Contínua. Documentos técnicos publicados pelo IBGE e declarações da presidente da instituição, Wasmália Bivar, à imprensa mostraram que há tempos a metodologia da pesquisa não precisa mais ser revista ou testada.

A metodologia é utilizada desde 2006 e a Pnad Contínua começou a ser realizada em caráter excepcional em outubro de 2011, em pelo menos 20 regiões metropolitanas, além de cinco capitais estaduais e no Distrito Federal. Em janeiro de 2012, foi estendida para todo o território nacional e, de acordo com as Notas Metodológicas publicadas pelo IBGE no início deste ano, desde então faz parte do conjunto de pesquisas do instituto.

Em setembro do ano passado, em entrevista ao jornal Brasil Econômico, a presidente do IBGE afirmou que, "quando começarmos a produzir, teremos que divulgar um cronograma e não poderemos parar". O cronograma foi amplamente anunciado no início deste ano (os dois primeiros resultados foram divulgados na data prevista), mas, por alguma razão, Wasmália e outros diretores do IBGE decidiram suspender a divulgação. Não foi por razões técnicas.

O Estado de SP

sexta-feira, 29 de novembro de 2013 | By: Vânia Santana

O PT será eterno enquanto durar o dinheiro dos outros

O Brasil está atrapalhando o comitê eleitoral do PT no Palácio do Planalto. Mas isso não ficará assim não. A presidente do comitê, Dilma Rousseff, já reagiu falando grosso. Diante da recomendação para embargo de sete obras federais, por superfaturamento e outras fraudes, Dilma entrou de carrinho no Tribunal de Contas: “Acho um absurdo parar obra”. Se Dilma estivesse reformando sua casa, e os encarregados do serviço começassem a enfiar a mão na bolsa dela, não se sabe se ela também acharia absurdo parar a obra. Mas é totalmente diferente, porque o dinheiro público, como se sabe, não é de ninguém.

Ou melhor: não era de ninguém, na época dos populistas amadores. Agora, com o populismo profissional se encaminhando para 16 anos no poder – mais tempo que o primeiro reinado de Getúlio Vargas –, o dinheiro público tem dono: é do PT. E as obras fraudadas não podem parar, porque fazem parte da campanha para a renovação do esquema em 2014.

Dilma será reeleita, e elegerá com Lula o governador de São Paulo, porque o plano não tem erro: derramar dinheiro aos quatro ventos. País rico é país perdulário (com o chapéu alheio, claro). Seria perigoso se o eleitorado notasse o golpe, mas esse perigo está afastado. Se uma presidente da República defende de peito aberto obras irregulares e não ouve nem meia vaia, está tudo dominado. Nessas horas, o comitê do Planalto acende uma vela aos manifestantes brasileiros, esses revolucionários que entopem as ruas e não enxergam nada. Viva a revolução!

A tropa da gastança está em campo, afinada. A ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, deu uma pausa em sua rotina maçante e resolveu dar um palpite sobre política econômica. Defendeu que a meta de superavit primário – um dos fundamentos da estabilidade econômica – só seja cumprida nos momentos felizes. Se o Brasil estiver crescendo bem, ok; se estiver patinando (como agora), o governo fica liberado de fazer essa economia azeda e neoliberal. Não é perfeito? Assim, a grande gestora do Planalto fica liberada para prosseguir com sua gestão desastrosa, sem precisar parar de torrar o dinheiro do contribuinte – uma injustiça, a menos de um ano da eleição.

Essa orquestra petista, com sua sinfonia de palpites aleatórios sobre política econômica, soa como música para os ouvidos dos investidores – que cansaram de botar dinheiro em mercados seguros e confiáveis e estão à procura de ambientes bagunçados e carnavalescos, muito mais emocionantes. Um dia o pitaco vem da Casa Civil, no outro vem do Ministério do Desenvolvimento, aí o ministro da Fazenda solta sua língua presa para contradizer o Banco Central, que fica na dúvida se segue os gritos de Dilma ou se faz política monetária. É um ambiente animado, e não dá para entender por que os investimentos no país estão minguando. Deve ser falta de ginga dos investidores.

No embalo dessa orquestra exuberante, o Brasil acaba de bater mais um recorde: deficit primário de R$ 9 bilhões em setembro. Deficit primário significa que, sem contar o pagamento de juros de suas dívidas, o país gastou mais do que arrecadou. E a arrecadação no Brasil, como se sabe, é monumental, com sua carga tributária obscena. A ordenha dos cofres públicos vai muito bem, obrigado. E, sabendo que a taxa de investimento é uma das mais baixas entre os emergentes, chega-se à constatação cristalina: as riquezas do país sustentam a formidável máquina de Dilma, seus 40 ministérios e seu arsenal de caridades. Essa é a fórmula infalível para que a permanência do PT no poder seja eterna enquanto dure o dinheiro dos outros.

E vem a divulgação mandrake da inflação pelo IBGE, anunciando um índice “dentro da meta” até outubro, quando na verdade está fora da meta (dos últimos 12 meses, a que importa). A inflação é o principal subproduto da fórmula, mas o Brasil só ligará o nome à pessoa quando a vaca estiver dando consultoria fantasma no brejo.

Relaxe e leia um livro essencial: O livro politicamente incorreto da esquerda e do socialismo, de Kevin Williamson. Você entenderá com quantas bandeiras bonitas se construiu a maior mentira da humanidade.

Por Guilherme Fiuza
Revista Época

domingo, 20 de outubro de 2013 | By: Vânia Santana

Planalto mantém novo pacote de pesquisas sob sigilo

Para procurador e especialistas, medida contraria Lei de Acesso à Informação; contratos vão até as vésperas do período eleitoral


O Palácio do Planalto firmou dois contratos avaliados em R$ 6,4 milhões para realizar pesquisas de opinião pública que se estenderão até as vésperas da campanha eleitoral de 2014. Celebrados com o Ibope Inteligência e Virtú Análise na sequência das manifestações de junho, os contratos, que preveem sigilo indefinido dos temas, perguntas e resultados das pesquisas, são os primeiros dessa natureza celebrados pela Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) na gestão Dilma Rousseff após a entrada em vigor da Lei de Acesso à Informação (LAI).

Em sua cláusula segunda, inciso 10, os contratos dizem que os institutos de pesquisa deverão manter "irrestrito e total sigilo" sobre os "assuntos de interesse" do governo. O Estado solicitou o conteúdo das pesquisas já realizadas com base na Lei de Acesso. A Secom, no entanto, rejeitou o pedido. O sigilo contraria entendimento do próprio órgão federal responsável pela transparência, a Controladoria-Geral da União (CGU). Segundo o ouvidor-geral da União, José Eduardo Romão, todas as informações que constam das pesquisas deveriam ser divulgadas imediatamente e o sigilo contratual não afasta o princípio da publicidade. "A informação é pública, mesmo que o contrato estabeleça que a informação é sigilosa. A CGU já entendeu em casos anteriores semelhantes que esse sigilo não afasta a aplicação da Lei de Acesso à Informação. No momento em que a empresa repassa a informação para órgão público, essa informação torna-se pública."

O procurador do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), Marinus Marsico, também critica a falta de transparência. "É um procedimento perigoso. Pelo princípio da publicidade, tudo é público. Essas informações só podem ser sigilosas se a lei especificar a preservação do sigilo, o que não é o caso. Os documentos quando sigilosos são regulados por lei. Todos têm de entender que isso envolve dinheiro público."

A Secom informa que as pesquisas serão divulgadas três meses após o governo recebê-las. Esse prazo, porém, além de não constar do contrato, não vai ser cumprido na primeira leva de pesquisas porque a Secom definiu que apresentará os resultados apenas em dezembro. Além de serem os primeiros contratos de pesquisa realizados após a LAI, são os primeiros sob a égide de uma nova legislação de 2010, decorrente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios, que obrigou, dentre outros pontos, o governo a firmar acordos específicos para pesquisas de opinião sobre serviços públicos. Antes, as agências de comunicação responsáveis pelas campanhas de publicidade também realizavam as pesquisas, em um contrato que abrangia os dois serviços.

Tarefas. O Ibope Inteligência ficou responsável pelas pesquisas quantitativas e telefônicas, ao valor de R$ 4,6 milhões. O Virtú Análise, contratada por R$ 1,8 milhão, cuida das pesquisas qualitativas. Em ambos os casos, o período das pesquisas se encerra a poucos dias do início da campanha eleitoral de 2014. O contrato da Virtú Análise foi fechado no dia 1 de julho deste ano e se encerra em 1 de julho de 2014. O do Ibope foi firmado em 27 de junho e também terminam um ano depois. A campanha eleitoral começa no dia 6 de julho de 2014.

O presidente da ONG Transparência Brasil, Cláudio Abramo, afirma que o modelo adotado pela Secom pode ser aproveitado para fins eleitorais. "São contratos que parecem ser muito vulneráveis. O formato abre possibilidade de que pesquisas realizadas às vésperas da eleição possam ser utilizadas durante a campanha. Além disso, a data do término do contrato, em junho de 2014, é muito conveniente para que as informações adentrem a campanha com exclusividade para apenas uma candidatura", diz.

Para o ministro José Jorge, do TCU, conforme se aproxima o período eleitoral "tudo é olhado pela opinião pública como se tivesse esse viés". "Por isso é bom evitar procedimentos como esse."

Os dois institutos disseram que cláusulas de sigilo são comuns nesses tipos de contrato.

Presidenciáveis. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), provável candidato a presidente, foi questionado, via assessoria, sobre as pesquisas de opinião contratadas por sua gestão, os valores gastos e os temas abordados, mas não respondeu. Outro provável candidato, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), também foi questionado, por meio da assessoria do PSDB, sobre o valor dos contratos de seu partido com institutos de pesquisa. Também não houve resposta.

Com O Estado de SP

sexta-feira, 18 de outubro de 2013 | By: Vânia Santana

Como funciona o Brasil - vídeo


Recebi este vídeo de um amigo no Twitter, e achei interessantíssimo divulgá-lo como ferramenta para auxílio dos brasileiros que de fato querem uma mudança em nossa política.

O projeto denominado Ranking dos Políticos, (site: www.politicos.org.br) foi criado por dois cidadãos, que como muitos, estão indignados com a corrupção e má gestão pública. O site fornece informações sobre todos os políticos do país, obtidas através de informações oficiais de fontes confiáveis. Há uma pontuação para cada político, de acordo com alguns critérios:

Ganha Pontos
Fidelidade partidária: Permanecer no mesmo partido, seja ele qual for
Formação: Ter completado os estudos
Ficha limpa: não ter ficha criminal nem processos em aberto
Combate á corrupção: denunciar ou combater corruptos
Assiduidade: Não faltar ao trabalho
Despesas: Ter poucas despesas de gabinete
Patrimônio: Ter crescimento normal do patrimônio pessoal
Tributos: propor redução/simplificação de tributos
Gastos públicos: propor redução de desperdícios

Perde Pontos
Infidelidade partidária: Trocar frequentemente de partido
Formação: não ter completado os estudos
Ficha suja: ser réu em processos criminais e/ou civis
Exagero: Propor lei irrelevantes, como homenagens e afins
Assiduidade: Faltar frequentemente ao trabalho
Despesas: Ter muitas despesas
Patrimônio: Ter crescimento anormal do patrimônio, vivendo apenas da renda de parlamentar
Propor aumento/complexidade de tributos
Gastos públicos: propor aumentar desperdícios


Seus elaboradores divulgam que não recebem e nem aceitarão contribuição financeira de nenhuma pessoa ou instituição. Quem quiser contribuir com o projeto, solicitam apenas informações sobre os políticos. 

Vale conferir o vídeo:





quarta-feira, 2 de outubro de 2013 | By: Vânia Santana

O espírito da Lei - Merval Pereira


REDE SOLIDARIEDADE — “representa de fato uma parcela do eleitorado que já deu cerca de 20 milhões de votos a Marina Silva na última eleição presidencial, e a aponta como segunda colocada em todas as pesquisas de opinião do momento” (Foto: O Globo)

Se faltam ao Rede Sustentabilidade, o partido que a ex-senadora Marina Silva quer criar, cerca de 30 mil assinaturas certificadas para atingir o mínimo exigido na legislação eleitoral, sobram diretórios regionais aprovados pelos Tribunais Regionais Eleitorais. O partido está formado em nada menos que 15 estados brasileiros, o que lhe dá a indiscutível marca nacional, que é o espírito da legislação.

Ao afirmar ontem que a criação de novos partidos políticos não faz bem à estabilidade da democracia brasileira, o presidente do Supremo tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, tocou num dos pontos centrais da discussão no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que pode decidir ainda hoje, o mais tardar amanhã, o destino do partido que a ex-senadora Marina Silva pretende criar.

Há ministros que consideram que é preciso flexibilizar o entendimento da legislação para que não haja pesos diferentes nas decisões, que desde a aprovação do PSD do ex-prefeito paulista Gilberto Kassab têm sido bastante benevolente com os políticos.

Também nos casos do PROS e do Solidariedade, aprovados recentemente, houve flexibilização da legislação. As denúncias de fraudes não chegaram a sensibilizar a maioria do plenário, que considerou em suma que eventuais desvios poderiam ser investigados e punidos posteriormente, sem que o registro do partido sofresse prejuízos.

No caso do PSD, houve uma discussão sobre as exigências da legislação. Embora tenha apresentado 538.263 assinaturas, além do mínimo exigido de 491 mil, o PSD tinha listas autenticadas apenas por cartórios eleitorais e outras consolidadas por TREs.

A divergência principal ocorreu porque a Lei dos Partidos, de 1995, determina a comprovação do apoio por meio dos cartórios eleitorais, mas uma resolução recente do TSE determina que os Tribunais Regionais Eleitorais devem emitir documentos para comprovar que o partido obteve o apoio necessário.

A maioria dos ministros entendeu, no entanto, que as assinaturas certificadas por cartórios deveriam ser aceitas para comprovar os apoios em nível nacional. A certificação dos TREs seria necessária apenas para a formalização dos diretórios regionais do novo partido.

A ex-senadora Marina Silva levou aos ministros do TSE documentos que demonstram que o Rede Sustentabilidade apresentou um total de 650 mil assinaturas, sendo que pelo menos 95 mil delas foram rejeitadas sem que os cartórios dessem uma justificação. Há diversos depoimentos de pessoas que tiveram suas assinaturas rejeitadas (como a cantora Adriana Calcanhoto, e vários jovens e idosos), porque não votaram na eleição municipal de 2012, não sendo possível aos cartórios eleitorais checar seus dados.

Acontece que a legislação não exige que o eleitor esteja em dia com suas obrigações para fins de apoio a um partido político, bastando que o seu nome e o número do título confiram.

Voltando ao comentário do ministro Joaquim Barbosa, vários ministros concordam em que tem que haver uma revisão do sistema partidário, mas não se pode fazê-la de forma casuística, prejudicando um partido que representa de fato uma parcela do eleitorado que já deu cerca de 20 milhões de votos a Marina Silva na última eleição presidencial, e a aponta como segunda colocada em todas as pesquisas de opinião do momento.

O Globo

segunda-feira, 26 de agosto de 2013 | By: Vânia Santana

Promessas recicladas

O governo petista é bom de promessas. Em 2010, por exemplo, prometeu entregar até julho deste ano uma ferrovia na Bahia, mas ainda não instalou nem um único metro de trilho. Outra especialidade é anunciar como se fosse novo um investimento prometido anos antes. Foi o que a presidente Dilma Rousseff fez ao lançar com fanfarra um programa de 2009, o PAC das Cidades Históricas. Com isso, ela deixou claro que não terá nenhum pudor em usar truques marqueteiros para confundir o eleitor, na sua ânsia de recuperar a popularidade e minar adversários.

Na terça-feira passada, Dilma foi a São João del-Rei para anunciar a liberação de R$ 1,6 bilhão para as ações do PAC com vista à restauração de cidades históricas em 20 Estados. A escolha daquele município mineiro para a montagem do palanque da candidata à reeleição não foi nada sutil: trata-se da cidade natal de Tancredo Neves, avô do tucano Aécio Neves, cotado para disputar a Presidência.

Dilma, que discursou de costas para uma estátua de Tancredo, ressaltou sua mineiridade e, com a profundidade que lhe é característica, disse que escolheu São João del-Rei para o evento porque foi lá que nasceram "grandes brasileiros e brasileiras". Bem ao estilo de Lula, seu criador, Dilma apelou ao "nunca antes", dizendo que o PAC das Cidades Históricas "é o maior e mais abrangente programa de preservação cultural já realizado no Brasil". Segundo ela, é nas cidades históricas que se aprende "o sentido da liberdade, do desenvolvimento, da soberania e da justiça social". Aprende-se também, seria o caso de acrescentar, que é preciso preservar a memória para não se deixar ludibriar por demagogia e falsas promessas.

O PAC das Cidades Históricas é, com o perdão do trocadilho, uma histórica embromação. Quando foi anunciado pela primeira vez, em outubro de 2009, o programa previa benefícios a 173 cidades, com investimentos de R$ 890 milhões até 2012. Na ocasião, ao lado de uma estátua de Tiradentes, o presidente Lula disse que aquela seria "a maior ação conjunta pela revitalização e recuperação das cidades históricas já implantada no nosso país". Como se vê, entre o discurso de Lula e o de Dilma, só a estátua mudou.

Sem que nenhum centavo da verba anunciada por Lula fosse efetivamente liberado, o programa foi sendo vitaminado, nos discursos do governo, à medida que se aproximavam as eleições. Em junho de 2010, a quatro meses do primeiro turno da votação para presidente, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) anunciou, em Minas Gerais, que o PAC das Cidades Históricas havia tido a adesão de mais municípios e que o valor somado dos recursos federais, estaduais e municipais chegaria a R$ 1,129 bilhão.

O programa, no entanto, permanecia apenas no papel quando foi relançado em setembro de 2012, às vésperas das eleições municipais. Na posse da ministra da Cultura, Marta Suplicy, Dilma informou, orgulhosa, que seria investido R$ 1 bilhão nas cidades históricas.

O valor ficou ainda maior em janeiro deste ano, quando Dilma voltou a tocar no assunto em discurso a prefeitos em Brasília. Além do R$ 1 bilhão anunciado anteriormente, seriam liberados mais R$ 300 milhões em financiamentos para a restauração de prédios privados.

No entanto, a reciclagem do PAC das Cidades Históricas reduziu o total de cidades contempladas - das 173 prometidas por Lula, restaram agora apenas 44. Dos 20 municípios mineiros que haviam assinado convênios com o Iphan na esperança de participar do programa, somente 7 permaneceram na lista. O prazo da liberação do dinheiro, no entanto, ficou para 2015.

Seja como for, a julgar pelo histórico, não é o caso de nutrir esperanças de que o governo petista enfim passe da retórica eleitoreira à ação e que esse imenso patrimônio cultural brasileiro venha a ser devidamente preservado. No final do ano passado, a própria presidente do Iphan, Jurema Machado, admitiu ao jornal Estado de Minas que o PAC das Cidades Históricas era uma miragem: "O Iphan tentou pegar o PAC e executar, mas ele de fato não existiu".


O Estado de S.Paulo


terça-feira, 16 de julho de 2013 | By: Vânia Santana

"As pessoas foram às ruas, mas não acordaram" por Marcia Cordeiro


Pertinente e elucidativo comentário da leitora Marcia Cordeiro,  no artigo "Porque nossa política é tão burra?" aprofunda um pouco mais o assunto sobre como funciona os bastidores das eleições e da política:


"É correta a afirmação de que “a razão da picaretagem está mais próxima de nós que do Congresso e a solução também”. O fato das pessoas não se lembrarem em quem votaram nas eleições políticas ou mesmo nas cotidianas é típico da infeliz cultura brasileira. O desinteresse foi algo introduzido, não surgiu aleatoriamente ou como mera consequência da ausência de poder do povo ante seus representantes. Isso foi planejado.
Parece novidade ou qualquer teoria do contra? Se ainda não percebeu na História que a escola não conta nos livros que, aliás, só podem ser utilizados se aprovados pelo MEC, ou seja, o controle do governo sobre o que pode ser “ensinado”, então certamente a idéia poderá lhe causar espanto ou mesmo renúncia, contudo é fato, e negando ou não, está aí. Esse assunto, quem quer conversar?

A Constituição Federal é o resultado desse planejamento. O sistema eleitoral ratificam mais o controle, a manipulação e poder que não é o povo. No entanto, como se acredita realmente que escolheu livremente um candidato, se tem a ilusão de democracia. Nesse ponto o vídeo apresenta seis estereótipos. Teriam todos? Não. Faltam os que servem de legenda, conseguem poucos votos ou apenas preenchem a chapa e acabam sendo cabos eleitorais e outros. Os puxadores de voto, como artistas e celebridades. O Trator, que é financiado para somente atacar os adversários desmedidamente e o Laranja, usado para distribuir material apócrifo e fazer as denúncias enquanto quem paga fica de bonzinho.

E não se pode generalizar os financiadores de campanha como empresários com interesses em contratos com o governo. Colocando dessa forma, o financiamento público parece se justificar, e não é verdade, uma vez que já pagamos o Fundo Partidário que serve também a campanha política, na produção de material em “igualdade’ entre os candidatos do partido. E outra, estaria financiando aqueles que você não apoia. Isso vale muito pano para manga...

Assim, os resultados são previsíveis e não é tanto o dinheiro envolvido, mas sim de onde surgem os candidatos, sua popularidade e o injusto horário eleitoral que ao invés de proporcionar tempo igual a todos os candidatos, define o tempo por coligação, o que exibe a falta de diferenças em compromisso e ideologias entre os partidos. Dinheiro mesmo vai para cabos eleitorais, assistencialismo e marketing. Os discursos se assemelham, as ideias são as mesmas também então, o que o voto faz?

Depois temos o custo dos eleitos que não se justificam, são imorais. A diferença do PIB brasileiro para o EUA explica porque eles podem ter os congressistas mais caros, e lá, o sistema tem sua funcionalidade. E aqui? Dizem que é pouco. Não é falta de tempo que lhes impede de fazerem o seu trabalho, é falta de vontade mesmo. Se licenciarem do cargo a que foram eleitos para ocuparem outro administrativo os promove ainda mais, partidos e base de apoio fazem de tudo para terem os seus cargos.

E sabendo que o povo só vai ver quem é político no momento que é obrigado a votar, o marketing ganha e passado, oras, não interessa. Se ganhou algum benefício do pessoal do candidato, aí sim o voto é decidido e o candidato passa a ser defendido. É tão simples, funciona tão bem, que esta é a razão de manter tudo como está, pois eles continuam onde estão e depois colocam seus sucessores.

Como mudar? Assinar petições online é inútil, não são aceitas e a maioria não possui fundamentação. Apenas exigir transparência também não resolve. Os políticos não publicam mesmo com lei, tem que correr atrás mesmo, exigir os documentos e publicar, mostrar a todos. Se não conseguir, denunciar ao Ministério Público. Sim, é muito a fazer, mas é apenas assim. Não vender voto, não aceitar assistencialismo de político, ir direto a quem não pede voto.

O problema é cultural, foi feito para manipular, e as pessoas foram às ruas, mas não acordaram."

sexta-feira, 12 de julho de 2013 | By: Vânia Santana

Por que nossa política é tão burra?



Este vídeo é imperdível para o eleitor conhecer como funciona o sistema político brasileiro de maneira simplificada. Com os créditos e meu agradecimento da dica ao meu amigo jornalista Marcos Masini, o vídeo é da revista Super Interessante. Este vídeo é pra 'acordar' mesmo qualquer um.

Os protestos deixam claro: os políticos brasileiros não trabalham para nós. Entenda finalmente por que e saiba como mudar. E em apenas 4 minutos:





segunda-feira, 1 de julho de 2013 | By: Vânia Santana

Protestos no Brasil - Os gritos são respondidos - The Economist


Artigo da revista inglesa "The Economist" publicado em 29 de Junho, faz uma análise dos manifestos no Brasil, e alerta para um possível retorno de Lula.
Transcrevo aqui pra vocês, e no final, o link da publicação original.



O governo oferece um pacote de reformas para acalmar os manifestantes. Isso é suficiente?


A onda de manifestações de rua que se levantaram em todo o Brasil no início deste mês,  que começou como um pequeno protesto sobre as tarifas de ônibus de São Paulo, parece que diminuiu. A alta foi alcançada em 20 de junho, quando mais de 1 milhão de pessoas apareceram para protestar contra os maus serviços públicos, a corrupção, o custo de vida, os gastos extravagantes sobre a Copa do Mundo e muito mais. Manifestações menores continuam: a polícia usou gás lacrimogêneo contra 50 mil pessoas que protestavam do lado de fora de um estádio de futebol em 26 de junho. Mas, mais atenção está focada na resposta dos políticos à enorme e súbita torrente de frustração pública.

Após uma reunião com os líderes dos protestos, prefeitos e governadores, Dilma Rousseff, a presidente, ofereceu um "pacto nacional". Seus cinco pontos foram: uma assembléia constituinte para considerar a reforma política, tornando a corrupção um crime (hoje é um delito), a promessa de investir 50 bilhões de reais (23 U$ bilhões) em transportes da cidade, mais os gastos com saúde e educação, e, contrariando de alguma forma, uma reiteração da importância da responsabilidade fiscal. Alguns detalhes foram sensíveis, mas este plano parecia apressado e pouco provável para proporcionar calma duradoura. Sua peça central, a proposta de uma assembléia constituinte, era inconstitucional e, ao que parece, lançado sem consulta, nem mesmo com Michel Temer, o vice-presidente, que é um advogado constitucional. Foi rapidamente retirado. Seus funcionários locais estavam falando na realização de um referendo em agosto sobre as propostas de reforma política que o Congresso, então, se transformam em leis.

A reforma da política vem sendo discutida há anos e é urgentemente necessário. Mas os partidos políticos de 30 e poucos do Brasil, alguns dos quais têm nenhuma ideologia além da busca de patrocínio e carne de porco, tem pouco apetite para a mudança. O Partido dos Trabalhadores de Dilma Rousseff (PT) quer que o financiamento público de campanhas e a lista fechada de candidatos escolhidos pelos líderes partidários, outros querem mudar para o sistema eleitoral. Uma das mudanças mais importantes seria abolir a sobre-representação dos pequenos Estados, mas nem o PT nem de seus aliados  são susceptíveis de favorecer isso.

Dilma prometeu incentivos para os médicos para se deslocar para áreas pobres e prometeu expandir um programa que cancela os débitos fiscais de hospitais que atendem mais pacientes. Ela se comprometeu a aumentar o número de licenciados em medicina e, enquanto isso, importar médicos estrangeiros para suprir a demanda. Algumas de suas outras propostas são recauchutadas, e vai levar tempo para implementar. "O fato é que não há solução rápida. Isto são anos, décadas de processo ", diz Christopher Garman, do Eurasia Group, uma empresa de análise de risco. Infelizmente, a presidente não mostra nenhum sinal de cortar o inchaço do governo, o que poderia deixá-la pagar por melhores serviços.

Sentindo a raiva do povo, os líderes do Congresso prometeram não entrar em recesso até que os planos de Rousseff sejam debatidos. Em 25 de junho o Congresso votou esmagadoramente para rejeitar uma emenda constitucional que teria reprimido "poderes para investigar políticos, que tinham sido um foco de protestos dos promotores indignados". Ele também aprovou uma lei, que tinha rejeitado no ano passado, para se dedicar  três quartos dos royalties de novos campos de petróleo à educação e o resto à saúde.

Dilma expressou simpatia aos manifestantes, mas denunciou a violência gratuita de uma minoria que marcou algumas das manifestações em grande parte pacíficos. Nove pessoas foram mortas durante uma operação policial em uma favela do Rio de Janeiro depois de uma marcha de protesto no dia 24 de junho.

Grande parte da ira tem incidido sobre a Copa das Confederações, um torneio de aquecimento para a Copa do Mundo de futebol do próximo ano. A Copa do Mundo está custando Brasil 28,1 bilhões de reais, de acordo com o governo. O projeto de lei somente para estádios, originalmente estimado em US $ 1,1 bilhão, valor já chegou a mais de US $ 3 bilhões. Dilma Rousseff afirmou que os empréstimos do governo para estádios será devolvido na íntegra e não provêm do orçamento ordinário. Em vez disso, eles são créditos subsidiados do Banco Nacional de Desenvolvimento para a construção - à empresas  grande financiadoras dos partidos políticos.

Brasileiros loucos por futebol, não são contra a Copa, mas eles estão irritados que o prometido "legado" da competição está em dúvida. Aeroportos permanecem atolados no século passado, e pelo menos cinco das 12 cidades-sede já admitiram que não vão construir corredores de ônibus prometidos, metrôs ou monotrilhos antes do apito inicial. "Cortar as tarifas de ônibus e mandar a conta para a FIFA", dizia um dos muitos cartazes zombando do órgão máximo do futebol. Corinthians, um time de São Paulo, culpou a FIFA para a duplicação do custo de seu novo estádio com suas exigências extravagantes.

Ainda não está claro quem pode se beneficiar com a agitação. Quando o Datafolha, empresa de pesquisa, pediu a manifestantes em São Paulo o nome de seu candidato presidencial preferido, eles favoreceram duas pessoas fora do mainstream político. Joaquim Barbosa, juiz da suprema corte e ativista anti-corrupção, liderou a enquete com 30% e Marina Silva, ex-candidata presidencial  pelo Partido Verde, ficou em segundo lugar com 22%. Mas o Sr. Barbosa não mostrou nenhum sinal de que ele quer se candidatar nas eleições do próximo ano e Marina Silva, que ganhou 19% em 2010, está se esforçando para montar um partido político 'anti-partido' coerente.

Vemos mais uma vez Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil em 2003-10 e mentor de Dilma Rousseff. Ele disse que voltaria se os eleitores clamarem por sua volta. Isso pode acontecer se Dilma Rousseff não puder acabar com o mal-estar. Lula se manteve estranhamente quieto até agora,  ele mesmo ajudou a sua protegida nos bastidores. Ele teria prazer do papel de salvador nacional. Mas muitos dos alvos dos manifestantes são problemas que, como presidente, ele fez pouco para resolver.

Veja o artigo original: The Economist



domingo, 30 de junho de 2013 | By: Vânia Santana

Pesquisa zera a sucessão - por João Bosco Rabello




A queda vertiginosa nos índices de aprovação, que a devolveu ao patamar histórico de votação do PT antes da primeira eleição de Lula, - 30% -, marca o ingresso da presidente Dilma Rousseff numa etapa em que a meta passa a ser salvar o que resta de seu governo.

A reeleição, em pouco mais de 30 dias, deixou de ser uma certeza para transformar-se em meta improvável, segundo avaliações da sua própria base de sustentação.

Estimulante para qualquer candidato que parte do zero, o índice a que desceu a presidente é dramático para quem está no cargo e pretende a reeleição. Não autoriza sequer a previsão de chegada ao segundo turno, o que no seu caso, indica uma velocidade inédita na corrosão de um capital político que, há 60 dias, avalizava a vitória no primeiro turno.

O tempo também conspira contra a capacidade de reação da presidente, cuja consistência depende de movimentos ousados que a indisporiam ainda mais com sua base, onde o descontentamento, principalmente no PT, já virou fogo amigo.

Possibilidade de reação existe, mas poucos acreditam que a presidente a encare pela ruptura que significaria com sua base, sem garantias de êxito. Como reduzir à metade os ministérios, por exemplo.

Passa também pela mudança de rumos da economia, cuja crise atingiu o bolso do eleitor bem antes do que previra a otimista área de marketing que orienta as ações de seu governo.

Como se vê, não é pouco, considerando as circunstâncias políticas desfavoráveis. A pesquisa agora divulgada traz índices que o Planalto já conhecia de suas consultas e responde pelo movimento queremista no PT pelo retorno de Lula.

Esse movimento, que o ex-presidente sugere avalizar com seu silêncio público, se materializado, terá o efeito de liberar os aliados dos compromissos com a reeleição.

Para partidos como o PMDB e o PSD, uma coisa é Dilma, outra, Lula - a primeira sem qualquer historicidade no PT; o segundo, o próprio PT.

E resta ainda a aventura embutida no retorno do ex-presidente, que provavelmente já não ostenta os mesmos índices com que encerrou seus dois mandatos e, portanto, já não seria uma aposta incondicional.

Em outro cenário, bem mais remoto, o PT teria de admitir não concorrer com candidato próprio - e aí o nome mais palatável ao partido seria o inimigo da hora, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).


JOÃO BOSCO RABELLO - O Estado de S.Paulo