terça-feira, 30 de abril de 2013 | By: Vânia Santana

Golpes Pendentes - por Ricardo Noblat




Perguntaram na semana passada a José Guimarães, líder do PT na Câmara, o que ele achara da aprovação pela Comissão de Constituição e Justiça da emenda à Constituição que confere ao Congresso a última palavra sobre certas decisões do Supremo Tribunal Federal (STF).

Irmão do mensaleiro José Genoino, Guimarães chefiava, em 2005, o cidadão preso com dólares dentro da cueca, episódio memorável da história recente do PT.

Primeiro Guimarães respondeu que seu partido nada tinha a ver com o assunto.

Segundo, que por isso mesmo o assunto não fora discutido pelos deputados do PT.

Terceiro, que nem mesmo ele sabia que a emenda seria logo votada no plenário da Câmara.

Por último, que a repercussão alcançada pela aprovação da emenda na Comissão não passava de um desprezível “factóide”.

Guimarães mentiu.

O PT tinha e tem a ver com o assunto, sim, porque petista é o autor da emenda apresentada em 2011, e petista o presidente da Comissão que resolveu agora pô-la em votação.

De resto, votos petistas, como os dos mensaleiros Genoino e José Paulo Cunha, ambos condenados pelo STF, ajudaram a aprovar a emenda.

O PT estava prontinho para aprovar a emenda no plenário, mas aí…

Aí a repercussão do fato fora do Congresso foi de tal monta que o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), achou recomendável por o pé no freio.

Cabe ao STF interpretar a Constituição e cuidar para que ela seja respeitada. Aos demais poderes da República, cabe acatar as decisões do STF. Se algumas delas lhes parecerem absurdas, é ao STF a que devem recorrer à espera de que sejam revistas.

O PT e seus aliados servis ignoraram a Constituição e conspiraram contra o Estado de Direito no país. Isso é golpe. No caso, tentativa de golpe abortada pelo efeito da repercussão que Guimarães preferiu chamar de “factóide’.

Se a emenda prosperasse, deputados e senadores decidiriam, em última instância, se valeria ou não o que eles próprios aprovassem. O STF poderia ser fechado e a chave jogada fora. Não faria mais falta.

O extraordinário nisso tudo foi que somente um membro do governo protestou contra o que estava em curso: Michel Temer, o vice-presidente.

Nada impedia que mesmo em viagem ao exterior, Dilma se pronunciasse a respeito – mas não o fez.

O ministro da Justiça recolheu-se ao silêncio. Assim como os demais ministros.

Omissos, todos! Para não chamá-los de coniventes com o golpe frustrado.

Não foi o único que se tentou aplicar na semana passada.

Aprovado na Câmara, estava para ser aprovado no Senado o projeto de lei que praticamente aniquila a possibilidade de criação de novos partidos, impedidos de dispor de tempo de propaganda eleitoral e de recursos do Fundo Partidário.

De resto, o projeto aumenta o tempo de propaganda do candidato que dispuser de maiores apoios – leia-se: Dilma.

O STF concedeu liminar sustando a votação do projeto. Ele foi concebido sob medida para evitar que a ex-senadora Marina Silva monte seu partido e com ele concorra à sucessão de Dilma.

No ano passado, Gilberto Kassab, ex-prefeito de São Paulo, fundou o PSD, a quem o STF assegurou o direito de usar o tempo de propaganda eleitoral e a fatia dos recursos do Fundo Partidário correspondentes ao número de parlamentares que a ele aderiram.

Perguntas que insistem em ser feitas: por que o STF negaria a novos partidos o que garantiu ao PSD, que apoiará Dilma?

A pouco mais de um ano das próximas eleições é razoável alterar regras que as disciplinam?

A ex-faxineira ética não se envergonha do que anda patrocinando?

Para se manter no poder qualquer forma de fazer política vale a pena?

Blog do Noblat
quarta-feira, 24 de abril de 2013 | By: Vânia Santana

O ex-covarde - por Nelson Rodrigues



Sensacional artigo de Nelson Rodrigues que está presente na coletânea “A cabra vadia”, que é um livro autobiográfico em que relata fatos tristes e marcantes de sua história.



Entro na redação e o Marcelo Soares de Moura me chama. Começa: – “Escuta aqui, Nélson. Explica esse mistério.” Como havia um mistério, sentei-me. Ele começa: – “Você, que não escrevia sobre política, por que é que agora só escreve sobre política?” Puxo um cigarro, sem pressa de responder. Insiste: – “Nas suas peças não há uma palavra sobre política. Nos seus romances, nos seus contos, nas suas crônicas, não há uma palavra sobre política. E, de repente, você começa suas “confissões”. É um violino de uma corda só. Seu assunto é só política. Explica: – Por quê?”

Antes de falar, procuro cinzeiro. Não tem. Marcelo foi apanhar um duas mesas adiante. Agradeço. Calco a brasa do cigarro no fundo do cinzeiro. Digo: – “É uma longa história.” O interessante é que outro amigo, o Francisco Pedro do Couto, e um outro, Permínio Ásfora, me fizeram a mesma pergunta. E, agora, o Marcelo me fustigava: – “Por quê?” Quero saber: – “Você tem tempo ou está com pressa?” Fiz tanto suspense que a curiosidade do Marcelo já estava insuportável.

Começo assim a “longa história”: – “Eu sou um ex-covarde.” O Marcelo ouvia só e eu não parei mais de falar. Disse-lhe que, hoje, é muito difícil não ser canalha. Por toda a parte, só vemos pulhas. E nem se diga que são pobres seres anônimos, obscuros, perdidos na massa. Não. Reitores, professores, sociólogos, intelectuais de todos os tipos, jovens e velhos, mocinhas e senhoras. E também os jornais e as revistas, o rádio e a tv. Quase tudo e quase todos exalam abjeção.

Marcelo interrompe: – “Somos todos abjetos?” Acendo outro cigarro: – “Nem todos, claro.” Expliquei-lhe o óbvio, isto é, que sempre há uma meia dúzia que se salve e só Deus sabe como. “Todas as pressões trabalham para o nosso aviltamento pessoal e coletivo.” E por que essa massa de pulhas invade a vida brasileira? Claro que não é de graça nem por acaso.

O que existe, por trás de tamanha degradação, é o medo. Por medo, os reitores, os professores, os intelectuais são montados, fisicamente montados, pelos jovens. Diria Marcelo que estou fazendo uma caricatura até grosseira. Nem tanto, nem tanto. Mas o medo começa nos lares, e dos lares passa para a igreja, e da igreja passa para as universidades, e destas para as redações, e daí para o romance, para o teatro, para o cinema. Fomos nós que fabricamos a “Razão da Idade”. Somos autores da impostura e, por medo adquirido, aceitamos a impostura como a verdade total.

Sim, os pais têm medo dos filhos, os mestres dos alunos. o medo é tão criminoso que, outro dia, seis ou sete universitários curraram uma colega. A menina saiu de lá de maca, quase de rabecão. No hospital, sofreu um tratamento que foi quase outro estupro. Sobreviveu por milagre. E ninguém disse nada. Nem reitores, nem professores, nem jornalistas, nem sacerdotes, ninguém exalou um modestíssimo pio. Caiu sobre o jovem estupro todo o silêncio da nossa pusilanimidade.

Mas preciso pluralizar. Não há um medo só. São vários medos, alguns pueris, idiotas. O medo de ser reacionário ou de parecer reacionário. Por medo das esquerdas, grã-finas e milionários fazem poses socialistas. Hoje, o sujeito prefere que lhe xinguem a mãe e não o chamem de reacionário. É o medo que faz o Dr. Alceu renegar os dois mil anos da Igreja e pôr nas nuvens a “Grande Revolução” russa. Cuba é uma Paquetá. Pois essa Paquetá dá ordens a milhares de jovens brasileiros. E, de repente, somos ocupados por vietcongs, cubanos, chineses. Ninguém acusa os jovens e ninguém os julga, por medo. Ninguém quer fazer a “Revolução Brasileira”. Não se trata de Brasil. Numa das passeatas, propunha-se que se fizesse do Brasil o Vietnã. Por que não fazer do Brasil o próprio Brasil? Ah, o Brasil não é uma pátria, não é uma nação, não é um povo, mas uma paisagem. Há também os que o negam até como valor plástico.

Eu falava e o Marcelo não dizia nada. Súbito, ele interrompe: – “E você? Por que, de repente, você mergulhou na política?” Eu já fumara, nesse meio-tempo, quatro cigarros. Apanhei mais um: – “Eu fui, por muito tempo, um pusilânime como os reitores, os professores, os intelectuais, os grã-finos etc, etc. Na guerra, ouvi um comunista dizer, antes da invasão da Rússia: – “Hitler é muito mais revolucionário do que a Inglaterra.” E eu, por covardia, não disse nada. Sempre achei que a história da “Grande Revolução”, que o Dr. Alceu chama de “o maior acontecimento do século XX”, sempre achei que essa história era um gigantesco mural de sangue e excremento. Em vida de Stalin, jamais ousei um suspiro contra ele. Por medo, aceitei o pacto germano-soviético. Eu sabia que a Rússia era a antipessoa, o anti-homem. Achava que o Capitalismo, com todos os seus crimes, ainda é melhor do que o Socialismo e sublinho: – do que a experiência concreta do Socialismo,

Tive medo, ou vários medos, e já não os tenho. Sofri muito na carne e na alma. Primeiro, foi em 1929, no dia seguinte ao Natal. Às duas horas da tarde, ou menos um pouco, vi meu irmão Roberto ser assassinado. Era um pintor de gênio, espécie de Rimbaud plástico, e de uma qualidade humana sem igual. Morreu errado ou, por outra, morreu porque era “filho de Mário Rodrigues”. E, no velório, sempre que alguém vinha abraçar meu pai, meu pai soluçava: – “Essa bala era para mim.” Um mês depois, meu pai morria de pura paixão. Mais alguns anos e meu irmão Joffre morre. Éramos unidos como dois gêmeos. Durante 15 dias, no Sanatório de Correias, ouvi a sua dispnéia. E minha irmã Dorinha. Sua agonia foi leve como a euforia de um anjo. E, depois, foi meu irmão Mário Filho. Eu dizia sempre: – “Ninguém no Brasil escreve como meu irmão Mário.” Teve um enfarte fulminante. Bem sei que, hoje, o morto começa a ser esquecido no velório. Por desgraça minha, não sou assim. E, por fim, houve o desabamento de Laranjeiras. Morreu meu irmão Paulinho e, com ele, sua esposa Maria Natália, seus dois filhos, Ana Maria e Paulo Roberto, a sua sogra, D. Marina. Todos morreram, todos, até o último vestígio.

Falei do meu pai, dos meus irmãos e vou falar também de mim. Aos 51 anos, tive uma filhinha que, por vontade materna, chama-se Daniela. Nasceu linda. Dois meses depois, a avó teve uma intuição. Chamou o Dr. Sílvio Abreu Fialho. Este veio, fez todos os exames. Depois, desceu comigo. Conversamos na calçada do meu edifício. Ele foi muito delicado, teve muito tato. Mas disse tudo. Minha filha era cega.

Eis o que eu queria explicar a Marcelo: – depois de tudo que contei, o meu medo deixou de ter sentido. Posso subir numa mesa e anunciar de fronte alta: – “Sou um ex-covarde.” É maravilhoso dizer tudo. Para mim, é de um ridículo abjeto ter medo das Esquerdas, ou do Poder Jovem, ou do Poder Velho ou de Mao Tsé-tung, ou de Guevara. Não trapaceio comigo, nem com os outros. Para ter coragem, precisei sofrer muito. Mas a tenho. E se há rapazes que, nas passeatas, carregam cartazes com a palavra “Muerte”, já traindo a própria língua; e se outros seguem as instruções de Cuba; e se outros mais querem odiar, matar ou morrer em espanhol – posso chamá-los, sem nenhum medo, de “jovens canalhas”.


Crédito: Blog Arte Reaça
sábado, 20 de abril de 2013 | By: Vânia Santana

Entre a globalização da idiotia ou a pátria livre


Ahhh, as redes sociais!! Esse mundo virtual onde a gente pode observar como pensam e como agem todas as culturas e raças de todas as idades do mundo! E tudo o que está acontecendo nele, a globalização, a revolução mundial que a internet propiciou, é uma coisa incrível. Desde que pude ter internet, apesar de ser uma das piores e mais caras do mundo, como tantos e a maioria dos serviços de Pindorama, a TV passou a ter um papel secundário, quase inexistente em minha vida. Até porque os programas de TV brasileira, continuam a mesma porcaria, pra não dizer piores, agora transmitidos em alta qualidade de imagem. A desinformação, o vazio e o inútil via full HD. O controle remoto só nos salva da programação do canal aberto, usando o botão 'off'. Já as propagandas, mesmo as de merchandising subliminar nos filmes e nas novelas, estas são inteligentes, na maioria. Dá gosto de ver! Tanto que conseguem fazer as pessoas desejarem trocar de carro, comprar aquele shampoo milagroso que sabemos que não vai deixar nossos cabelos como das modelos saídas do salão de beleza direto pra telinha, usar aquela cor de esmalte/roupa/sapato que a artista da novela usa e faz virar referência de moda, ou comprar aquele smartphone que custa cinco vezes mais do que vale no local de origem, em 12 vezes sem juros visíveis, mas embutidos junto com os  impostos, também, mais caros do mundo. Tudo perfeitamente articulado, meticulosamente estudado, criado e dirigido, com um único objetivo. E tanto a programação, quanto as propagandas, o cumprem. Soubessem todos quem são os proprietários dos canais de rádio e tv's, revistas e jornais, bem como seus anunciantes e patrocinadores, já poderiam fazer uma idéia melhor de qual é este objetivo.



Não que na internet a gente esteja livre disso. Como disse antes, ela reflete o mundo fora da telinha, e às vezes precisamos caçar algo que não subestime nossa inteligência, além de aguçar o senso de responsabilidade, dos que a tem, porque na internet a informação viaja a longas distâncias com a velocidade de milhares de megabytes. E nosso computador de cada dia não pode distinguir o que é verdade ou o que é mentira, apesar do avanço da inteligência artificial. Nem o que é inteligente, relevante ou não. Se alguém duvida disso, é só perguntar para uma tal Luíza que esteve no Canadá, ou para o criador de um tal 'lek lek' usado agora até em propaganda de uma marca de automóvel. No Brasil, o que me deixa mais animada ainda, é quando olho o Trend Topic (os assuntos mais comentados) do Twitter. É de fazer gosto... a qualquer desgosto!! Agora mesmo, enquanto escrevo este texto, o trend é este aqui:




Não é digno do termo 'WTF?' ??? (what's the fuck? - tradução livre = 'que m* é essa?)

Lá no Egito, as redes sociais foram usadas para uma revolução, a chamada Primavera Árabe. Na Venezuela, o opositor Henrique Capriles, a utilizou para fazer campanha. Os venezuelanos, que o apoiaram, também fizeram seus protestos e chamados para a campanha de Capriles via Twitter. O comício de Capriles, através das redes sociais, levou 1,5 milhão de pessoas às ruas. Apesar disso, e mesmo com protestos e provas de fraude nas eleições, Maduro ontem tomou posse como presidente. Por que isto aconteceu? Porque existem pessoas, a grande maioria, que não consegue ver onde e como é manipulado. Quer um exemplo? Observe:






Desejo de coração que todos leitores deste blog tenham percebido aí, a manipulação da TV venezuelana.


Dia 18, na Argentina, as redes sociais levaram 1 milhão de pessoas a protestar em frente a Casa Rosada, contra o governo de Cristina Kirchner. Pelo Facebook, os indignados.com.org e pelo twitter, através das tags #18A (18 de Abril) e #AntiK (anti Kirchner). Soube disso uma semana antes, porque uma seguidora argentina no twitter me contou, e usaram o #AntiK para não serem monitorados. E como aqueles que não desejam para os outros, aquilo que não querem para si, tanto eu como ela, estávamos no twitter em campanha a favor pela eleição de Capriles.

Não é segredo o modus operandis desta turma da esquerda ditadora disfarçada de democracia. Todos são censores de meios de comunicação que não são a eles favoráveis. Mas a internet ainda não foi alcançada, não como desejam muitos deles, salvo em Cuba ou na Coréia do Norte, onde a ditadura já é completa.

E foi a união dos blogueiros e ativistas patriotas, que organizaram esta beleza que vemos na foto:







Brasil!!! "Hora est iam nos de somno surgere!" - Já é hora de levantarmos de nossa inércia!!

Esta frase de São Paulo poderia causar efeito nos brasileiros. Mas não causa. Não será uma frase a causar, já que tudo o que tem acontecido no país, a farra da república, o descaso com a saúde e a educação, a seca no nordeste, as enchentes, não causa. A impunidade, a corrupção, a violência, os altos impostos, a volta da inflação. O Brasil tem estado nos últimos lugares em rankings mundiais de maior importância para uma nação. E lidera quando se trata do pior. Mas nada tira o cidadão da zona de conforto.

Sou uma indignada.com.br. 'Indignada com o Brasil' que vejo. Indignada com o país em que vivo, que não é mais o meu país. Com brasileiros que não são brasileiros, apenas lembram disso quando preenchem a nacionalidade em documentos, ou na vitória dos esportes. E desfilam com a bandeira cuja pátria não honram. Chego a ter vergonha de ser brasileira. E sei, pelo que me dizem, que muitos se sentem assim. E apesar dos trends ali de cima, uma minoria da qual faço parte, ainda deseja outro futuro para este país. Talvez aqueles que também têm saudades de um tempo que não volta mais. De uma juventude, embalada por Geraldo Vandré, onde um dia, uma minoria também de patriotas, lutaram e morreram pela liberdade deste país: "Vem vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer".
Entre a globalização da idiotia ou a pátria livre, sabíamos - e ainda sabemos -  qual escolher.






quinta-feira, 18 de abril de 2013 | By: Vânia Santana

Que os bolivarianos do continente entendam





O relógio da História gira em velocidades desconcertantes. O tempo histórico pode dar a impressão de parar, e, de repente, acelerar em velocidade vertiginosa. A Venezuela parecia estagnada, sob o peso de um regime nacional-populista, assentado na autocracia fundada pelo coronel autointitulado “bolivariano” Hugo Chávez . E muita coisa mudou em poucas semanas.

Em 14 anos de poder, Chávez se beneficiou de centenas de bilhões de dólares — nos últimos dez anos, US$ 1 trilhão, segundo o “Financial Times” — amealhados nas exportações de petróleo tirado de uma das maiores reservas do mundo. E soube manejar este dinheiro, até quando pôde, para se manter no controle da Venezuela.

Ainda ganhou uma última eleição presidencial, em outubro, já em fase terminal do câncer, com 1,5 milhão de votos à frente do oposicionista Henrique Capriles. Morto o caudilho em 5 de março, o poderoso regime chavista põe-se em marcha para eleger o vice do coronel, o sindicalista Nicolás Maduro, ungido pelo próprio Chávez como sucessor.

O relógio da História, no entanto, girou e a vitória de Maduro, por apenas pouco mais de 200 mil votos, representa uma derrota para o chavismo. Apesar de toda a máquina, toda a pressão e manipulação — por vezes ridícula — da figura de Hugo Chávez morto, houve a migração para o mesmo Henrique Capriles de quase um milhão de votos.

Os seguidores do bolivarianismo chavista no continente, brasileiros incluídos, precisam entender o que se passa na Venezuela. Nada diferente do destino de qualquer regime autocrata, sempre abalado na morte do líder, carismático por definição. Esses militantes poderiam aprender algo.

Os conflitos de rua ocorridos terça-feira, com a morte de sete pessoas, derivam das tensões geradas num sistema em que o adversário é visto como o inimigo a ser eliminado.

Henrique Capriles, com novo e elevado status na política venezuelana, fez bem em recuar na ideia de uma marcha convocada para protestar contra alegadas fraudes na eleição e pressionar pela recontagem dos votos. Maduro subiu o tom, proibiu a manifestação e ameaçou “radicalizar a revolução” (a do “Socialismo do Século XXI”).

— Não caiam nas provocações do governo e tenham claro que nossa luta é democrática — alertou um sensato Capriles. Agora, é acompanhar como Maduro e a estrutura de poder chavista enfrentarão a tempestade econômica: inflação rumo aos 30%, desabastecimento e nenhuma perspectiva de o petróleo voltar a cotações que financiem os delírios do regime.

Resta provado que os sonhos dos governantes só podem ser realizados e perdurar se houver bases reais na economia para sustentá-los, e um regime com instituições e princípios que absorvam as tensões normais em qualquer jogo político. Um desses amortecedores é uma efetiva rotatividade no poder por meio do voto livre, com base em regras predefinidas e estáveis. Tudo o que não é o chavismo bolivariano.


O Globo
terça-feira, 16 de abril de 2013 | By: Vânia Santana

O Brasil dos ignorantes pluralíticos



‘Não adianta reclamar’. Pensa a pessoa que está a 30 minutos na fila do banco. À sua frente, ainda tem pelo menos umas 20 pessoas. Que também não reclamam.
‘Não adianta reclamar’. Pensa o idoso que está em pé no ônibus lotado, enquanto um jovem ocupando seu lugar reservado por direito, ignora o idoso.

As pessoas não reclamam se percebem um preço diferente na nota do que estava na prateleira do supermercado. Se percebe um produto vencido. Se percebe que mesmo não estando vencido, um litro de leite na caixa comprada estava azedo."Vou gastar muito mais tempo/dinheiro/gasolina indo lá reclamar do que engolindo o prejuízo"

A primeira vez que fui assaltada, foi em frente a uma lanchonete na Av. Paulista, por um menor. Na verdade, uma menor. Embora a menor não estivesse armada e na lanchonete várias pessoas viram a cena, continuaram tomando o seu café. Assistiram minha luta quando tentou tirar uma pulseira e o relógio. A pulseira chegou a cair no chão. Ela pegou e saiu andando. Sequer uma pessoa interferiu pra ajudar ou veio ver se eu estava bem. Assistiram passivos como se estivessem vendo a cena na TV. De mais uma vítima de um trombadinha drogado. (ah, se apenas um tivesse feito isso, em volta de mim surgiria uma rodinha de indignados, certamente)

Confesso que chego a me sentir alienígena, quando saio para passear com minha dog. Sempre levo um saquinho pra recolher seu “cocô”. E me desvio no caminho de uma dúzia deles. E quando vejo diversos saquinhos com as fezes recolhidas nas árvores do bairro, quando levo o meu pra casa e jogo no lixo. Sei que estas pessoas, que não recolhem, ou que embora o façam depositam os mesmos nas árvores, pensam assim: “se o outro não faz, por que eu vou fazer?”. Aos poucos se perde a noção de cidadania e respeito com a 'coisa' pública. O patrimônio de todos nós.

Em todos estes exemplos acima, você pode perceber que as pessoas sempre ficam esperando que alguém faça alguma coisa. Sempre se espera que a decisão venha de fora.
Isso ocorre quando um cidadão age de acordo com aquilo que os outros pensam, e não por aquilo que ele acha correto fazer. O ‘não adianta reclamar’, ‘isso não vai dar em nada’ e o ‘ninguém faz isso’ leva-se a inércia da difusão da responsabilidade. Ninguém diz nada e conseqüentemente nada é feito.

O fato é que os brasileiros são ignorantes pluralíticos. A ‘ignorância pluralítica’ é um termo da psicologia, que explica: As pessoas podem até ter uma opinião diferente da maioria, mas concordam e agem como se tivessem a mesma do grupo.

A corrupção dos políticos, o aumento de impostos, o descaso nos hospitais, as filas imensas nos bancos e a violência diária raramente levam pessoas a reagir, a protestar, e menos ainda fazer isto indo às ruas. É uma apatia e uma cultura ao silêncio, inacreditável.

Brasileiro não reclama. Não a quem devia. Não protesta, mesmo sendo lesado. Enquanto continuar omisso e fazendo piadinhas com coisas que deveriam levar muito a sério, continuará o Brasil como na época da Colônia, e continuarão os brasileiros sendo indefinidamente explorados.






segunda-feira, 15 de abril de 2013 | By: Vânia Santana

Brasil, aprovar a PEC 115 é o ‘remédio’.




Se alguém não for hipocondríaco pra gostar de tomar remédio, possívelmente só o fará quando em necessidade de curar uma doença. E como ninguém fica doente por vontade própria, o medicamento não é considerado algo supérfluo, o que por conseqüência, não justifica ter tamanha taxa de tributação de impostos. 

Em um estudo realizado pelo pesquisador Nick Bosanquet, professor de políticas de saúde do Imperial College de Londres, apurou-se que o Brasil é líder no ranking de tributação de impostos sobre remédios. A pesquisa foi realizada entre os 38 países que integram a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o grupo dos BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). 

Pelo levantamento realizado, no Brasil, impostos correspondem a 28%, o triplo da média mundial. Para o Brasil, foram contabilizados o ICMS, imposto cobrado pelos governos dos Estados, e o PIS/Cofins, cobrado pelo governo federal. 

O Canadá, México e Estados Unidos tem alíquota 0 sobre os remédios. 

Apenas para mais uma informação aos leitores, no Brasil, remédios de uso veterinário têm tributação de 14,3%. 


Já que o Governo não consegue atender às necessidades de Saúde da população, fornecendo gratuitamente  todos os remédios, isentar os impostos sobre os medicamentos de uso humano, não só favoreceria a população - principalmente os de baixa renda e idosos - quanto o próprio Governo, que, por ser o maior comprador do país, também iria gastar menos.

Para se ter uma idéia do custo ao bolso do cidadão, a alíquota cobrada, significa que, se alguém precisar usar 3 caixas de determinado medicamento, 1 caixa será de impostos. E no Brasil, diferente do que ocorre em outros países, este valor não é reembolsado, nem por planos de saúde, e nem pelo Estado.

No final de Novembro de 2012, foi aprovada na CCJ, a PEC nº 115 de 2011, de autoria do Senador Paulo Bauer (PSDB-SC), (pode lê-la aqui) que veta a instituição de tributos sobre medicamentos de uso humano. O texto ainda precisa passar pelo Senado e pela Câmara, a após isso, pela sanção da Presidente. Está aguardando ser colocado em votação no Senado, desde dezembro de 2012, sendo transferida e adiada,  dia após dia. Talvez, se não adiarem novamente, entre na pauta de amanhã, 16/04.







Não é possível que o Governo decida tão rapidamente, isentar IPI’s de carros e geladeiras, e inclusive permitir um reajuste cruel dos remédios, favorecendo indústrias e farmacêuticas (esta última, que fatura cerca de R$ 50 bilhões por ano), e não veja como urgência a aprovação desta PEC, que reflete diretamente na vida dos cidadãos que precisam ter saúde para poder trabalhar e comprar carros e geladeiras. Um aposentado, gasta em média 30% de seu rendimento com compra de remédios. Se ganha R$ 1.000,00 isto significa que gasta R$ 300,00 com remédios. Muitos idosos têm problema de desnutrição, porque tem que optar entre comprar medicamentos ou alimentos.

Diante disto, deixo aqui esta reflexão:
Até quando os cidadãos deste país irão ser os bons pagadores e péssimos cobradores daqueles que nos atribuem um dos maiores impostos do mundo em troca dos piores serviços públicos do mundo?  Qual o remédio, e que futuro terá o Brasil, se o brasileiro não se interessar em defender e buscar o que é seu de direito?




Exclusiva com o Comandante Borges - por João Ubaldo Ribeiro




— Comandante, ainda bem que você veio. Ontem me disseram que você não queria mais dar a entrevista.

— É, mas pensei melhor. Se eu prometi, está prometido. Alguém tem que manter a palavra neste país. Mas isso não impede, sem querer ofender ninguém, que eu ache esta entrevista uma palhaçada.

— Não entendi.

— Não vai sair nada do que eu disser, a imprensa está toda no bolso do governo, devendo à Previdência e à Receita e mamando as verbas de publicidade. A imprensa está aí para ajudar no fingimento de que há liberdade, vontade popular, opinião pública e essas besteiras feitas para declamação. Isto mesmo que eu acabo de dizer quero ver sair, não sai. Está gravando?

— Estou.

— Você está perdendo seu tempo, não vai sair nada. Grave aí que eu acho que essa democracia é para as negas deles, o que eles fazem é entrolhar todo mundo e fazer tudo da veneta deles. Você viu a do ensino? Agora é obrigatório botar o filho na escola aos quatro anos! A quem que eles perguntaram? Eles não conseguem dar conta nem de metade dos que já têm direito e inventam mais? Estamos cheios de grandes escolas públicas para todos, todo mundo na escola de barriga cheia desde os quatro anos, que beleza! Eu não sou otário, eu não sou otário! Eu queria que eles compreendessem que eu não sou otário!

— Eu pretendia chegar a assuntos como esse, sei que você tem opiniões muito firmes. Mas minha primeira pergunta ia ser outra, mais pessoal.

— Ah, desculpe, eu às vezes me exalto um pouco. Pode perguntar o que você quiser. Se eu contar coisas pessoais, também não sai, eu não sou pervertido, a imprensa só se interessa quando é a vida pessoal dos pervertidos. Não vai sair nada, mas eu respondo a qualquer pergunta.

— Bem, a pergunta é uma curiosidade minha. Frequentamos este mesmo boteco há não sei quantos anos e nunca vi você chegar dando risada sozinho, como vi hoje, na hora em que você estava descendo da sua famosa bicicleta elétrica. Dá para dizer qual foi a razão?

— Dá, eu não escondo nada. Não era riso de satisfação, nem de felicidade. Era uma risada mórbida que deu para me atacar de uns tempos para cá, uma espécie de humor negro. Eu estava me lembrando de um comercial. Não sei do que era, só me lembro da cena. Era um casal fazendo um piquenique romântico na Lagoa à noite, sentadinho com um pano de mesa estendido, luz de velas, cestinha de comida, parecia uma aquarela campestre. Aí eu fiquei pensando e me deu uma crise desse riso mórbido. E, na hora de minha chegada, não sei por quê, me lembrei de novo. Sempre que eu lembro, rio novamente, é incoercível. Piquenique na Lagoa é demais, não é, não?

— Demais como?

— Você não entendeu? Piquenique na Lagoa, piquenique na Lagoa! Só pode ser Walt Disney, e dos anos cinquenta! Quando o casal tivesse acabado de estender a toalha, já não ia ter mais cestinha, nem garrafinha, nem vela, nem piquenique nenhum! Seja sincero e realista e me responda quantos segundos você daria para um casal começar um piquenique à noite na Lagoa e o piquenique ser todo comido e possivelmente o casal também. Dou noventa segundos, mas ganha quem der um minuto. Aí eu fico pensando no que poderia acontecer a esse casal e o piquenique deles e tenho essas crises de riso, é tudo humor negro mesmo. Uns dois dimenores liquidavam tudo numa boa.

— Você tem uma birra com os menores, não tem?

— Eu não, eu só sou contra o que eu vou lhe figurar. Eu sou João Narigolé, traficante que de vez em quando precisa de outros serviços, notadamente os que envolvem dar cabo de alguém. Aí, quem é que eu chamo para fazer o serviço? Vou ao banco de dados de menores pistoleiros… Deve haver vários bancos de dados desse tipo, é capaz até de já ter no Facebook. Vou lá, escolho um, ofereço uma graninha e ele faz a execução. Se for preso, não pega nada e recebe a grana pelo serviço. Se me dedurar, sabe que eu posso mandar outro dimenor para rechear de azeitonas a cabeça dele e assim por diante, é um esquema perfeito. O dimenor é um grande patrimônio da criminalidade nacional.

— Então você é a favor da diminuição da maioridade penal.

— Eu não! Não distorça minhas palavras! A favor da diminuição geral, não, cada caso é um caso! Eu só tenho propostas sérias e eficazes, esse negócio de fixar idades com base em invencionices psicológicas não resolve nada. Eu sou a favor de uma coisa muito simples: teve idade para apontar a arma e dar o tiro, tem idade para ir em cana. Não é simples? É a coisa mais óbvia para qualquer um e somente os intelectuais é que não concordam, porque as soluções simples dão desemprego para eles, tudo aqui é em função do emprego.

— Você não acha que a responsabilidade penal do menor…

— Ninguém mais é responsável por nada! Isso era antigamente, agora todo mundo é vítima e qualquer sacanagem que apronte recebe um nome artístico, dado pelos psiquiatras! Um nome artístico e uma bolinha e está tudo resolvido, a culpa não é de ninguém, é da síndrome! A culpa não é dele, é das condições socioeconômicas! A culpa não é dela, é dos traumas de infância! Ninguém tem mais culpa de nada, ninguém fica preso, ninguém paga do próprio bolso as multas às empresas, ninguém é responsável por nenhum desastre, todo mundo rouba e mata, há muito tempo que isto é uma esculhambação! O que nós precisamos é de Robespierre! Nada de faxina! Para quem propina, rapina e assassina, o correto é guilhotina! Quero ver isso sair no jornal!



João Ubaldo Ribeiro é escritor
O Globo

sexta-feira, 12 de abril de 2013 | By: Vânia Santana

Venezuela, hay un camino. Y su nombre es Henrique Capriles



Caros leitores, como oposicionista e anti-ditadores e vermelhos socialistas, não poderia deixar de me pronunciar, mesmo sendo leiga em política internacional, sobre as eleições da Venezuela, que ocorrerão no próximo domingo, dia 14 de Abril de 2013. Mas não creio também que precisa ser expert em ciências políticas, pra dar meu pitaco na situação da Venezuela, uma vez que aqui no Brasil, nossa “Democracia” não está muito diferente da democracia venezuelana. Nem com pesquisas indicando a imensa popularidade de ambos presidentes, todos sabem o quanto os dois países estão divididos, e se lá o chavismo impera, sabemos aqui na pele os efeitos do lulo-petismo. Outro motivo de eu falar aqui sobre isso, e em especial sobre Capriles, é porque notei que a imprensa brasileira, em sua maioria, não falou ou pouco falou sobre o comício espetacular de Capriles, já que ele é o adversário de Nicolas Maduro,  pupilo do PT.
A este, Lula gravou até um vídeo de apoio. Para este tipo de jornalismo e jornalistas, só tenho a dizer: Quem alimenta cobras, um dia pode ser mordido por elas. Mas.. sigamos.

Tive a oportunidade de assistir ao vivo, via internet, a transmissão do comício do candidato da oposição da Venezuela, Henrique Capriles, pela Globovision. (assista aqui)

Emocionante!!

Primeiramente, porque nas ruas estava uma multidão de fazer inveja aos brasileiros, e indo além disso, diria que me causou vergonha. Tanto dos brasileiros, quanto da oposição de nosso país. Em toda a minha vida, só vi algo parecido no Brasil, quando das 'Diretas Já' na Praça da Sé, e para pedir impeachment de um presidente na Av. Paulista em SP (que hoje, apesar disso, é Senador). Mesmo assim, nunca em eleições presidenciais.

E segundo, porque há muito tempo não ouvia um candidato de nenhum país, com tamanho carisma, com um discurso tão visivelmente confiante. Um líder.



Embora não seja a mesma história, lá e cá, ela não muda muito, normalmente mudam os personagens. Se aqui elegeram um ex-metalúrgico, a Venezuela tem agora como candidato um ex-motorista de ônibus, Nicolas Maduro, que vê presidente morto em forma de ‘pajarito’. Nem João Santana faria melhor... Opss! Não é que João Santana, marketeiro e criador de Lula e Dilma, é também, não por acaso, o marketeiro de Maduro? Foi de Chávez também. Vejam que cena fantástica, do fascismo que fascina os ignorantes, na foto abaixo, do Jornal El Nuevo Herald:



Não é sempre que a oportunidade bate duas vezes à porta. Capriles foi derrotado na eleição passada, com 11 pontos de diferença. Apesar disso, teve o melhor resultado do que qualquer candidato da oposição na era ‘chavista’. As últimas pesquisas apontam empate técnico entre os dois candidatos. 
Se a ‘fraude’ não vencer as eleições, tudo indica que a Venezuela dará um grande passo na real Democracia, elegendo Capriles. Se houver alguém vendo passarinhos por lá, que seja o da Liberdade.

Arriba Venezuela!! Hay um caminho, y su nombre es Henrique Capriles.



domingo, 7 de abril de 2013 | By: Vânia Santana

Reduzir IPI de carro é miopia econômica - por André Trigueiro

Foto: Clayton E.Souza

Assim que o governo anunciou mais uma prorrogação de IPI reduzido para carros zero, acessei o site do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) para checar o tamanho atual da frota automobilística brasileira. Os dados são públicos e podem ser verificados no link http://www.denatran.gov.br/frota.htm.

Por nosso país circulam oficialmente (dados consolidados de fevereiro/2013) mais de 43 milhões de automóveis (43.085.340), sendo que a maioria absoluta desses carros se concentra nas regiões metropolitanas. A situação é mais preocupante nas três principais capitais da região Sudeste, a mais rica e densamente povoada do país. São Paulo (4.858.630 de automóveis), Rio de Janeiro (1.764.089) e Belo Horizonte (1.059.307) ostentam números que devem soar como música para os economistas de plantão em Brasília, mas que representam um gigantesco obstáculo para a mobilidade urbana e para a qualidade de vida não apenas dessas, mas das principais cidades brasileiras.

De acordo com o relatório “Metrópoles em números: crescimento da frota de automóveis e motocicletas nas metrópoles brasileiras 2001/2011” (http://observatoriodasmetropoles.net/download/relatorio_automotos.pdf), do Observatório das Metrópoles, o número de automóveis em todas as 12 metrópoles do país dobrou de tamanho neste período (aumentou de 11,5 milhões para 20,5 milhões). Já as motocicletas passaram de 4,5 milhões para 18,3 milhões em apenas dez anos.

O estudo revela que as metrópoles brasileiras reúnem aproximadamente 44% de toda a frota do país. Nesta década, registrou-se um aumento de 8,9 milhões de automóveis, aproximadamente 77,8%. Em média, foram adicionados mais de 890 mil veículos por ano. “As metrópoles brasileiras têm enfrentado nos últimos anos o que podemos chamar de uma ‘crise de mobilidade urbana’, resultante, sobretudo, da opção pelo transporte individual em detrimento das formas coletivas de deslocamento”, afirma o relatório. ”Um sistema eficiente de mobilidade é essencial para o acesso ao mercado de trabalho, à educação, ao consumo e ao lazer, ou seja, é uma condição fundamental para a construção do chamado bem-estar humano”, conclui o responsável pelo estudo, Jaciano Martins Rodrigues, doutor em Urbanismo (PROURB/UFRJ) e pesquisador do INCT/Observatório das Cidades.

Em artigo publicado nesta coluna, em setembro do ano passado (http://g1.globo.com/platb/mundo-sustentavel/2012/09/19/dez-razoes-para-levar-a-serio-o-dia-mundial-sem-carro/), resumi em 10 tópicos as razões pelas quais deveríamos considerar a multiplicação indiscriminada de carros no Brasil um risco real para a economia, a saúde, o bem-estar social, o clima e o direito constitucional de ir e vir.

É evidente que a produção de automóveis responde a uma demanda da sociedade que ainda considera o carro um dos principais sonhos de consumo. Há também uma participação importante no PIB (5%) e na geração de empregos (131,7 mil funcionários).

O que nos parece urgente é a reflexão sobre a conveniência de o governo renovar incentivos fiscais (renúncia adicional de R$ 2,2 bilhões em impostos de abril a dezembro de 2013) a um setor da economia já bastante próspero e lucrativo, sem que se considerem os – cada vez mais notórios – impactos negativos dessa medida.

É óbvio que os economistas do Ministério da Fazenda que assinam a prorrogação do IPI reduzido para carros zero julgam ser esta uma medida fundamental para manter a economia aquecida. Contudo, parece também evidente que os argumentos em sentido contrário são igualmente consistentes e robustos. Há que se ter coragem para debater outras soluções em favor da geração de mais emprego e renda. Especialmente em programas de governo vinculados à expansão dos meios de transporte públicos de massa.

Tal como se dá na luta contra microorganismos nefastos à nossa saúde, há limites para o uso de antibióticos. A redução do IPI para carros não pode ser usado como um medicamento de uso contínuo. Com as vias progressivamente congestionadas, o corpo está à beira de um colapso. Está mais do que na hora dos economistas refazerem as contas enquanto o paciente respira.

Mundo Sustentável - G1


Nota do Blog: O artigo originariamente postado foi excluído do blog e do google cache, sem sabermos o motivo, pois sua publicação neste blog foi autorizada pelo Autor. Esta re-postagem trata-se de recuperação de arquivo e perdeu todas visualizações, compartilhamentos e comentários feitos até a presente data: 22/07/2013 15:25h - mantemos no entanto a data da  publicação original.


sábado, 6 de abril de 2013 | By: Vânia Santana

Na era das falácias




Sempre tive muita facilidade, para me expressar através da escrita. Talvez seja uma maneira de substituir a minha incapacidade de expressão através da fala. A escrita facilita correções, uma análise melhor do que você quer dizer, pois pode revisar se ficou claro, se ficou conexo. Agora, em tempos atuais, isto também está se tornando uma dificuldade. Não é por falta de assunto, pelo contrário. É porque os tempos indicam que cada vez menos você pode falar o que pensa, e deve ser muito cuidadoso para não ser vítima da incompreensão ou do julgamento. Vá lá você me dizer que isso sempre existiu... Sim, é verdade. Mas antes, sei lá mais há quanto tempo, aquilo que você dizia ou escrevia, era tido e visto apenas como sua opinião, e não necessariamente uma ofensa pessoal. E o tal julgamento, era feito sobre isso. Sobre o que você dizia, e não sobre você. Não me diga que pode julgar uma pessoa pelo que ela fala. Pode saber o que ela pensa, e isto se o que diz for sincero, mas não quem ela é. Porque não são apenas as palavras que refletem o caráter de uma pessoa. A mim, penso que são muito mais esclarecedoras, as atitudes. Inclusive e até principalmente as pequenas, que ninguém presta muito atenção. Estas sim. Porque são as atitudes que demonstram se a pessoa é realmente coerente, e condizente com o que fala. Houve um tempo em que isso não era assim. As palavras sempre condiziam com a atitude. A palavra valia por uma assinatura.

Hoje o vento as leva...

Uma maneira de se utilizar a palavra é pela falácia. A falácia é um argumento que a lógica não sustenta, sem fundamento, não tem capacidade de comprovação eficaz naquilo que alega. Argumentos persuasivos podem parecer convincentes para a grande maioria, mas não deixam de ser falsos por causa disso.

Sinto um imenso temor pelo que estou observando no meu país, não só no convívio pessoal, como também, quando assisto ou leio jornais e, muito, nas redes sociais.

Vejo uma espécie de batalha, às vezes declarada, às vezes dissimulada, onde há uma tentativa de imporem-se opiniões, e pior que isso, comportamentos.

É democrático que você respeite manifestações e protestos. Mas não é democrático que você tenha que aceitar e concordar com eles. Não há argumentos que me façam aplaudir, para me fazer de liberal e moderna, e muito menos politicamente correta, marchas pró-maconha, se sou eu, não usuária e combatente de uso e tráfico de drogas. A legalidade da maconha para fins não medicinais, só interessa aos seus usuários, e não tenho que apoiar essa gente que acha bacana e moderno ficar dopada vez ou outra ou 24 horas por dia. Nem quem me faça ver o aborto permitido até 12 semanas, como algo normal e aceitável, quando uma bactéria na Terra ou em Marte é considerada vida. Quando luto e vejo a ciência lutar para que as pessoas tenham uma saúde melhor, para que se salve vidas. O uso e tráfico de drogas, seja qual for, é uma ESCOLHA, assim como a gravidez, exceto esta, em caso de estupro. Tenho que tolerar mulheres semi-nuas fazendo protestos públicos, achando que mostrar os seios dará credibilidade aos seus argumentos; tenho que tolerar passeatas gays onde há manifestações despudoradas de casais homos que pedem respeito e não dão nenhum, e também incluo héteros, nas ruas ou nas TVs, e nas novelas onde a censura é 12 anos, mas ao menor que a tudo isto também assiste, não é responsável se engravida ou faz engravidar, se mata ou rouba, até os 18 anos, nem que sua lista ultrapasse uma dúzia destes ‘delitos’. Tenho que tolerar políticos assaltando abertamente cofres públicos, porque desde sempre foi assim, e fazendo leis atrás de leis e emendas que cada vez mais os protegem e os favorecem. Porque uma minoria aceita tudo, ou a grande maioria, a tudo tolera e ainda segue e aplaude, tenho eu que pensar e agir igual?

Tolerância é muito diferente de aceitação. Muitas fraquezas se escondem sob a égide da tolerância. Há momentos em que a tolerância deixa de ser uma ‘virtude’. Muitos a transformam em comodismo, conformismo. E muitos se conformam, porque preferem perder a liberdade para alguém que pense e faça por eles. De preferência, o governo.

“Não se opor ao erro é aprová-lo, não defender a verdade, é negá-la”. Thomas d’Aquino.

Agora, que dei minha opinião, irei eu mesma mostrar as falácias possíveis que virão decorrentes disto, apenas para exemplificar como funciona e onde ela está, para que saibam reconhecê-las por aí afora, pois pode parecer sutil:

- Vânia, seus conceitos estão ultrapassados. É melhor você rever seus conceitos. (apelo à novidade – o novo é melhor que o velho, o antigo)

- Não acredito que uma pessoa inteligente como você, pense dessa maneira. (apelo à vaidade – para me sentir envergonhada de defender esta opinião "absurda".)

- Você é cristã (evangélica, kardecista, o que seja) Uma pessoa religiosa não é capaz de argumentar racionalmente. (apelo ao preconceito)

- Se foi a Vânia que disse isso, certamente é um engodo, delírio, sem importância, etc. (Mas se vir de fulano bem sucedido, é porque faz sentido – desprezo ou ataque ao argumentador e apelo à riqueza ou fama)

- Quanto absurdo, que bobagem! (desqualificar uma argumentação, mas sem provar o contrário)

E por aí vai... A censura à liberdade de expressão está sendo imposta silenciosamente. A verdade e opinião de cada um, estão sendo omitidas, negadas, camufladas. Em breve todos estarão pensando igual. A própria mídia, com raras exceções, está consentindo isso. Na era das falácias, o melhor mesmo, é não ter opinião.




6 Deixe seu comentário:
Zinha Bergamin (@Lelezinha_09) disse...
Boa Tarde,Tata! Gostei do seu comentário!
É bem por aí;hoje em dia,quando se expressa o próprio modo de pensar,algumas pessoas nos respondem como se fôssemos inimigos!

Pois é... e a tal Democracia? é só para os governantes e os "amigos da Côrte"?

Mas o que mais me deprime,é ver a grande parte da Imprensa conivente com tudo isso! Finge que não vê os mandos e desmandos da turma que se locupletou no país! Será que os próprios jornalistas não enxergam que serão as próximas vítimas,assim que tudo estiver dominado?

Enfim,não podemos desanimar;temos que crer que,com a ajuda de Deus,ainda alguém vai virar a mesa e reverter a ditadura petista que assola o país!
Gde abç
@Lelezinha_09 (Zinha Bergamin)
ProntoFalei disse...
Vânia, não há nada mais prazeroso e que nos traga PAZ, que exercitar o DIREITO de FALAR, desabafar, por pra FORA, o que realmente nos incomoda ao nosso redor, pois temos esse direito.

Haverão outras críticas, sugestões, imposiçoes de OUTROS quanto à Sua vida, sua forma de pensar e de se posicionar... mas te digo minha querida.. LIBERDADE é TUDO de BOM, e DANE-SE quem nao faz uso dela.

PARABÉNS PELO TEXTO. TO ORGULHOSA DE VC!!

Bjs

Pri
ampg5 disse...
"A censura à liberdade de expressão está sendo imposta silenciosamente. A verdade e opinião de cada um, estão sendo omitidas, negadas, camufladas. Em breve todos estarão pensando igual. A própria mídia, com raras exceções, está consentindo isso. Na era das falácias, o melhor mesmo, é não ter opinião."
Que precisão, Vania.É isto o que mais assusta - a doutrina de Gramsci dando frutos.Textos como o seu ajudam as pessoas a acordar! Parabéns!
Crivellar_MG disse...
Querida Amiga, adorei seu texto. Quanto mais tentarem nos calar, mais devemos falar. Esta patrulha só ganhará força se a sociedade deixar. Cabe a nós, estimular aos outros que não aceitem. Seu texto é um belo exemplo disto. #TamoJunto !!
abs..
Rev. Ageu Magalhães disse...
Vânia, foi uma grata surpresa conhecer seu blog. Parabéns pelo texto. Espero que sua última frase tenha sido apenas ironia, pois, nesta era de falácias, não podemos nos render. E o seu texto é um belo exemplo disso. Abraço!
Lucìlia disse...
Vãnia, lendo esse texto entendi o que aconteceu comigo sábado quando postei um comentário no twitter e uma pessoa, dentre outras coisas, me chamou de venenosa, que eu não era católica de verdade. Achei estranha a maneira com que, ela discordou de minha opinião. Agora entendi. Por falta de argumentos reais ela me desqualificou.
Excelentes textos! Parabéns! Bjs
quinta-feira, 4 de abril de 2013 | By: Vânia Santana

Pela desigualdade - por Carlos Alberto Sardenberg



O ponto de partida é o seguinte: as crianças estão com dificuldades para alcançar a plena alfabetização no primeiro ano, ou seja, aos sete anos. Além disso, há um número expressivo de reprovações nesse primeiro ano, justamente por causa do atraso em leitura e redação.

Qual a resposta da autoridade educacional?

É fácil: eliminar a reprovação - todos passam automaticamente - e, sobretudo, fixar como meta oficial que a alfabetização deve se completar no segundo ano, quando a criança estiver fazendo oito anos. Em resumo, dar um período a mais para aprender a ler e escrever.

Não, não se passa no Brasil. Está acontecendo na Costa Rica. Mas, no Brasil, está, sim, em andamento o programa Alfabetização na Idade Certa, sendo esta também definida aos 8 anos.

A Costa Rica é o melhor país da América Central e considerado de bom padrão educacional. De fato, no teste Pisa, aplicado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico em alunos de 15 anos, de 70 países, a Costa Rica obteve 443 pontos em leitura, ficando na 44ª. posição. Na América Latina, só perde para o Chile, cujos alunos alcançaram um pouco mais, 449 pontos. O Brasil está pior, 412 pontos nesse quesito.

Os cinco primeiros colocados são os alunos de Xangai, Coreia do Sul, Finlândia, Hong Kong e Cingapura, com notas entre 526 e 556. Pois nesses países a idade certa para alfabetização é seis anos. Isso mesmo, dois anos antes das metas de Brasil e Costa Rica. A questão é: quando e por que se precisa de mais tempo?

Na Costa Rica, onde a reforma educacional ainda está em debate, há dois tipos de argumentos, um referente ao calendário escolar, outro propriamente pedagógico.

No calendário: o problema, dizem autoridades, é que há muitos feriados e muitos períodos de férias, de modo que o ano letivo não passa de seis meses. Se as crianças vão menos dias à escola, claro que aprendem menos.

O leitor pode ter pensado: mas não seria o caso de aumentar o número de dias letivos?

Para os políticos, nem pensar. Criaria uma encrenca danada com professores e outros funcionários do sistema.

Já o argumento pedagógico diz que não se pode forçar uma criança de sete anos, que se deve deixá-la seguir segundo suas necessidades e seu próprio ritmo.

Quem acompanha o debate educacional no Brasil já ouviu argumentos semelhantes. Por exemplo: no programa Alfabetização na Idade Certa não foram introduzidos padrões que permitam medir se a criança sabe ou não ler. Seria possível fazer isso, uma medida numérica? Sim, já se faz pelo mundo afora. Em Portugal, por exemplo, no primeiro ano, o aluno deve ler em um texto simples, 55 palavras por minuto; no ano seguinte, 90 e, no terceiro ano, 110.

Simples, objetivo, de fácil avaliação.

Não é só no Brasil, mas em praticamente toda a América Latina esse tipo de avaliação causa até uma certa ojeriza. Entre professores, aqui, é forte a rejeição a avaliações concretas, como, por exemplo, um teste nacional que meça a capacidade dos mestres várias vezes ao longo da carreira. Médicos e advogados também não querem fazer as provas profissionais.

Tudo considerado, ficamos com as metas pouco ambiciosas. Pode-se argumentar que seria, digamos, romântico colocar como meta a alfabetização aos seis anos no Brasil. Se um número expressivo de jovens é classificado como "analfabeto funcional" depois do ensino médio, como querer que todos aprendam a ler e escrever aos seis anos?

Um equívoco, claro. Não há razão alguma para não fixar para os que entram agora na escola as metas mais rigorosas e adequadas aos padrões internacionais.

Há também uma questão política, que tem a ver com o desempenho dos governos: metas mais largas são mais fáceis de atingir e, claro, de propagandear.

Isso reflete uma cultura - a de evitar o problema, escolher o desvio mais fácil e politicamente mais vendável. Se as crianças não estão aprendendo na idade certa, se dá mais tempo a elas, em vez de tentar melhorar o processo de alfabetização. E, avançando, se os alunos das escolas públicas não conseguem entrar nas (ainda) boas universidades públicas, abrem-se cotas para esses alunos, muito mais fácil do que melhorar o ensino médio.

Dizem: o problema é que as universidades públicas estavam sendo ocupadas pelos alunos mais ricos vindos do ensino médio privado. Falso. O problema não está nas boas escolas privadas, está na má qualidade das públicas. Melhorar estas seria a verdadeira política de igualdade.

A propósito: nas boas escolas privadas, as crianças já sabem ler e escrever bem aos seis anos.


O Globo
terça-feira, 2 de abril de 2013 | By: Vânia Santana

Comissão da Verdade não se presta a marketing



Foto: Sergio Lima / folhapress


Consta que a presidente Dilma Rousseff está desgostosa com o trabalho da Comissão da Verdade, criada por ela em 2011 para esclarecer atos de violência cometidos por agentes públicos. Embora, formalmente, o período abrangido pela comissão seja de 1946 a 1988, ano de promulgação da Constituição que restaurou a democracia, o objetivo das investigações é esclarecer casos de torturas, mortes e desaparecimentos ocorridos no regime militar, de 1964 a 1985.

Noticia-se que a presidente deseja resultados concretos que abalem a opinião pública. Teria pedido que a comissão desse prioridade a depoimentos públicos de familiares de vítimas do regime, a fim de criar uma "catarse nacional", para funcionar como vacina contra qualquer tentação futura de uma ação militar autoritária. A presidente Dilma patrocina, assim, mais uma das incompreensões que cercam a Comissão da Verdade. No final do governo Lula, quando ela foi incluída na terceira versão do Plano Nacional de Direitos Humanos, quase houve um curto-circuito com os militares porque se tentou abrir espaço no PNDH-3 para que agentes da repressão política daqueles tempos pudessem ser processados.

Ora, a manobra era uma provocação imatura, pois o Supremo já havia batido o martelo ao decidir que a Lei de Anistia, de 1979, do presidente-general Figueiredo, passara uma borracha sobre a atuação criminosa de todos os combatentes da "guerra suja", de ambos os lados.

Cabe à Comissão da Verdade é esclarecer todos os detalhes do que se passou nos porões da ditadura, o paradeiro de desaparecidos, as circunstâncias daquela "guerra", a fim de atender a parentes das vítimas e à necessidade de preservar fatos para a História, para que sirvam de lição às próximas gerações.

Não é necessária qualquer catarse para vacinar o país contra tentações autoritárias. Talvez a ideia derive de comparações inadequadas entre o que aconteceu no Brasil e em outras ditaduras latino-americanas, naquele período de trevas continentais. Toda ditadura, de direita ou esquerda, é maléfica em si. As dimensões das tragédias políticas entre os países são, porém, diversas. Claro que o assassinato de 10 ou 10 mil cometido por agentes do Estado é odioso do mesmo jeito. Mas é mais fácil haver catarse na investigação de um caso do que no outro. E no Brasil os crimes de agentes do Estado - inaceitáveis, frise-se - chegaram às centenas. Em países vizinhos, aos milhares.

Não se entende, ainda, por que se criar comoção num processo de investigação cujos limites e objetivos foram referendados pelo próprio Supremo, com base numa anistia negociada de maneira ampla entre militares e oposição - muito diferente do que aconteceu em alguns vizinhos latino-americanos. A Comissão da Verdade não pode ser manipulada com fins de marketing ideológico, algo extemporâneo no Brasil de 2013.


O Globo