domingo, 12 de maio de 2013 | By: Vânia Santana

O Brasil do 'apartheid'



“Todos são iguais perante a lei”

O ano é 1988. A Assembléia nos entrega o legado da Constituição Brasileira. Na Carta Magna,  este é o artigo 5º. Talvez este artigo tenha sido um dos principais motivos pelo qual o PT foi contra a nova Constituição. Um dia ele chegaria ao poder, custasse o que custasse, para provar o contrário disso. E como o diabo recita até o Novo Testamento para ludibriar e enganar, o que poderia ser melhor do que lançar um candidato ‘do povo’ um ‘trabalhador’ como candidato a presidência?  Se todos são iguais perante a lei, nada mais convincente e glorioso do que o país ter como presidente alguém vindo da ‘classe trabalhadora’.

O PT é um engodo. Ele nasceu engodo. Aqueles que participaram do partido em sua origem, e foram capazes de notar que sua ideologia era um engodo, pois nada que é mascarado pode enganar para sempre, inteligentemente o abandonou. Ficaram nele e a ele se juntou somente os que compactuam com seus princípios éticos e morais. Ou seja, nenhum. Justamente o que mais se precisa ter na política.

Eu nunca votei no PT. Mas tenho o absoluto direito de falar e cobrar o que quiser, ao menos por enquanto, porque, eu, você, a qualquer um, que vote ou não nele, é pra nós que ele manda a fatura. Somos nós que pagamos a conta. Se você fechar os olhos, talvez não veja o quanto o PT é raivoso, paternalista, centralizador, demagogo, hipócrita, discricionário e separatista. E pode continuar achando que está tudo bem, seguindo sua vida, trabalhando, se tiver um trabalho, vivendo sua vida e pagando seus altos impostos silenciosamente, sem se importar com o resto que acontece a sua volta, como se não lhe atingisse e não fosse com você.

Sob a bandeira do politicamente correto, seu eterno ex-presidente (?) sempre bradou nos palanques, e o faz até hoje, junto com os companheiros, o decorado discurso do ‘apartheid’ social e étnico. Nunca pregou governar pela ‘nação brasileira’, mas a separou em categorias. Negros, miseráveis, pobres, classe média, trabalhadores, empresários, banqueiros, elite. Nordestinos e sulistas. Católicos, evangélicos, protestantes. Atualmente também os separou em homossexuais e heterossexuais. Bandidos de qualquer idade,  e se forem menores de idade, independente do delito, também são classes privilegiadas. Desde a impunidade até ao benefício do recebimento de auxílio reclusão. Diante dos direitos de uns, que recebem tratamento diferenciado, cotas, bolsas e etc, fico me perguntando onde é que me encaixo. Você leitor, já se fez esta pergunta?
Neste país, todos são iguais perante a lei, mas a lei não é igual para todos.


Lembro-me de uma propaganda de governo na TV, educativa, onde para crianças que  pedem esmolas, o conselho da mesma era: “não dê esmolas, dê futuro”...

Qual seria este futuro? Onde estão as escolas públicas com professores valorizados e bem remunerados e preparados, com uma grade curricular eficiente e sem aprovação automática? O que vejo é alunos no final do curso médio, sem saber conjugar um verbo, fazer uma conta, e até universitários, incapazes de interpretar um texto quando conseguem ler. Escrever então, chega a doer ver tamanho maltrato a língua mater.

Onde estão as creches? E escolas com refeições, com atividades físicas, onde seja prazeroso o aluno estar ali para aprender, onde não haja evasões e depredações e agressões aos professores.
Cursos profissionalizantes. Educação pública com responsabilidade e resultado. Onde estão? Que tipo de profissionais vamos ter?

Educação não é gasto, é investimento. Povo educado trabalha mais, tem menos problema com saúde, porque se alimenta melhor, então fica mais feliz e consome mais. Logo recolhe mais imposto então o governo arrecada mais também.  Teria até mais dinheiro pra usar a máquina pública fazendo campanha eleitoral antecipada, dois crimes num só ato, como tanto gostam Lula e sua pupila Dilma. Teria mais dinheiro para programas assistenciais também, embora fosse a boa educação oferecida, possivelmente se não extinguisse, diminuiria em muito a necessidade destes.

Diante de tanta corrupção, desvios e gastos mirabolantes, com viagens, hospedagens, mordomias, festas e eventos, propagandas, altos salários públicos e ministérios a rodo, o ‘bolsa família’ criticado pela maioria, é irrelevante, não alcança 0,5 % do PIB.
Não sou contra o programa em si, mas sim a forma como é utilizado, o que, na minha opinião,  é moeda eleitoreira. Explico. Por que ele não serve para aplacar a fome dos chamados miseráveis, e é obvio que fosse assim, eu não poderia ser contra,  mas,  é usado também na compra de materiais e uniformes escolares, remédios, transporte, o que não deixa de ser uma constatação da incapacidade  do governo em prover esses serviços essenciais, sua obrigação, tornando muitas famílias dependentes desta ajuda para sobreviver. Entenderam? Pagamos todos, pelos serviços públicos e pelo serviço social e o governo leva o crédito (pois nunca diz que é dinheiro de impostos e vende como obra sua)  e ainda não proporciona estes serviços  na medida da necessidade da população, e como o programa não gera renda ao beneficiado, fica esta bola de neve de dependência. O ‘bolsa família’ pode não tornar a maioria parasita, como dizem alguns críticos, mas ajuda a manter a pobreza. Concluindo, este é um  governo que não dá futuro, dá esmola. Exatamente o oposto da propaganda.

Sem valorização dos educadores, sem educação de qualidade, sem saúde e sem profissionais capacitados, o país estará cada vez mais entregue a uma casta inoperante. Onde pode chegar a economia de um país, que não oferece tecnologia em nada, e importa matéria prima de tudo, e agora, também começa a importar profissionais das principais áreas, ou por falta de capacitação e qualificação, valorização dos nossos  ou por negociatas com países estrangeiros?
Onde pode chegar a moralidade de uma nação, onde bandidos tem mais direitos que pessoas de bem e trabalhadoras? Aonde a Justiça só chega àqueles que não são ou não tem como padrinhos influentes, os  colarinhos brancos? Onde a impunidade reina absoluta e não há respeito nem à regras nem às leis, a começar pelo Congresso?

Gostaria de poder não ser taxada de pessimista porque antevejo as possibilidades que podem advir da ineficácia do governo e do exercício do contraditório. E agora quem o faz também pertence a uma nova classe. Patriotas para o governo, são aqueles que aceitam se submeter aos desmandos dessa gente desequilibrada, gananciosa e voraz, sem a mínima visão e previsão, que está no poder. O restante, aqueles que protestam contra estes, são os pessimistas que torcem contra o país. Quando é justamente o contrário, por sermos a favor do Brasil, lutamos contra o governo do ‘quanto pior, melhor’ que é o retrato do PT. A volta da inflação, entre tantas outras aflições,  ilustra bem isso.

E aquele que prega (ainda) ser o governo dos pobres, cada vez mais favorece os ricos, a chamada e criticada ‘elite’. Os banqueiros, que nunca lucraram tanto como nos últimos dez anos, sabem disto. Os empreiteiros também. Porque hoje podem lucrar 100 vezes mais, fazendo 100 vezes menos. O resto, é propaganda enganosa de um país das maravilhas. Não serve mais nem pra inglês ver, já que até entre eles já viramos piada.
Cada vez mais ávido, o PT se expande, satisfazendo a base em um balcão de negócios também voraz, além de alto investimento junto a mídia, que outrora já foi defensora ferrenha daqueles que não tinham voz. O país perde a democracia que mal se instalou, sem alternância de poder. Perde porque a oposição é minoria. E minoria também são aqueles que protestam. Perde quando a imprensa se vende e se cala. O socialismo está sendo implantado, quando imperceptivelmente, lentamente, separou-se uma nação por classes e interesses. O individual é mais importante que o coletivo.  Para este tipo de governo, o coletivo separado, é o sinal definitivo da vitória da dominação. Este é sem dúvida, o último salto do PT.



segunda-feira, 6 de maio de 2013 | By: Vânia Santana

Guia politicamente incorreto da política




Já que o Brasil está em campanha presidencial explícita, embora ilegal, achei oportuno postar este vídeo que mostra muito dos bastidores da política. Mesmo não se referindo à política brasileira. Mas assistam sem medo, vão se esclarecer e ver que quando se trata de política,  é tudo igual.

Nesta edição especial do programa 20-20 de John Stossel quando estava na ABC, antes da eleição de Obama, o apresentador desconstrói a ideia de que os políticos fazem bem a sociedade e também mostra a realidade do meio político, como tudo é feito pensando somente no bem estar dos políticos, e que não existe outra forma de resolver isso que não passe pela redução do estado.







Transcrição e tradução de Robson da Silva.
Revisão e legendas de Juliano Torres.
quarta-feira, 1 de maio de 2013 | By: Vânia Santana

Brasil rumo ao colapso social



Se dia após dia, podemos assistir na TV ou ler nos jornais, ou ainda, nas redes sociais, pra onde está caminhando a passos largos o Brasil, a última semana foi excepcional em nos mostrar, sem vendas, sem mistério, com profunda clareza.

Não vou falar na tentativa do governo em calar o STF e o MPF, com a tentativa de golpe explícito com a PEC 33 e 37. Muitos podem achar que isto é política e que não nos afeta. Então vou mostrar, em números, e comparativos, como a política nos afeta.

Segue a discussão sobre o tema de diminuição da maioridade penal. O governo não aceita mudar a lei, considera ‘cláusula pétrea’ da Constituição. Acha que punir o menor não é o caminho. E que isto deve ser feito, oferecendo educação, saúde de qualidade e acabando com as diferenças sociais. O país contabiliza 55 mil assassinatos ao ano. A cada 10 crimes, cerca de 4% são cometidos por menores, e diante da impunidade, são os mais violentos. Além do tráfico e uso de drogas. O país tem o  maior número de usuários de ‘crack’ do mundo.

O fato é que o governo não quer assumir o seu fracasso. Não é só um fracasso em administração. É um governo demagogo, hipócrita. Não quer punir criminosos, porque sabe, no fundo, que os maiores criminosos estão no poder.

O governo petista gosta muito de usar números e estatísticas em suas propagandas. Não é à toa, uma vez que o povo, em sua maioria, não consegue vislumbrar matemática ou financeiramente, não apenas porque não se possui formação educacional para isso, o que eles realmente representam. Mas porque estas informações, sempre que nos são passadas, dão a impressão sempre positiva de investimentos para a sociedade.

Saúde, educação e segurança, são prioridades para um país, quero dizer, em países de primeiro mundo, cujos governos não são socialistas, e o povo é patriota. Os governos socialistas de esquerda, priorizam o circo, em detrimento do pão. Do pão, só se vê a migalha. E no Brasil, o país do futebol e carnaval, isto não é diferente.

Vamos mostrar isso, em números, que os petistas gostam tanto, mas jamais mostrarão:

O TCU (Tribunal de Contas da União) estima que a despesa final da Copa 2014 será na casa do R$ 33 BILHÕES. Deste valor, cerca de 80%, R$ 26, 4 Bilhões, sairão dos cofres públicos.

Para se construir e manter um hospital de ponta, atendendo cerca de 600 pacientes por dia, custaria cerca de R$ 62 milhões, incluindo despesas e salários no primeiro ano ( R$ 14 milhões para construir, R$ 16 milhões para equipar e R$ 32 milhões de mão-de-obra/ano). Somente o Estádio Mané Garrincha (se não mudar de nome) custará ao erário R$ 1.015 Bilhões. O equivalente a 30 destes hospitais.

A reforma do Maracanã, estimada em R$ 931 milhões daria para construir 1.289 escolas. No Rio, o orçamento para Educação em 2011 foi de R$ 120 milhões, traduzindo, oito vezes menos do que a reforma do estádio.

O estádio Itaquerão (Corinthians) custará R$ 890 Milhões. O suficiente para construir 3 penitenciárias como este Presídio Privado em Minas Gerais, que em minha opinião, se quiserem realmente reintegrar estes condenados de volta a sociedade, devia servir de modelo para todos. E o Sr Ministro da Justiça jamais pensaria em suicídio se fosse prisioneiro de um destes, e os mensaleiros condenados talvez se resignassem.
Saiba mais deste presídio clicando aqui.




Agora como já podem ter idéia da prioridade deste governo e como a Copa realmente é de suma importância para este país, incluo mais um dado:
De acordo com o presidente da Trevisan Consultores Associados, o Brasil perde por ano R$ 60 Bilhões em desvios de verbas públicas com a corrupção. Repito: por ano. Quantas pessoas seriam retiradas da miséria, com esta quantia? 80% do país.

Façam as contas e descubram porque, entre a prioridade do Governo com  políticas públicas, desvios de verbas públicas e um povo inerte, o país caminha a passos gigantes para o futuro... Do colapso social.






terça-feira, 30 de abril de 2013 | By: Vânia Santana

Golpes Pendentes - por Ricardo Noblat




Perguntaram na semana passada a José Guimarães, líder do PT na Câmara, o que ele achara da aprovação pela Comissão de Constituição e Justiça da emenda à Constituição que confere ao Congresso a última palavra sobre certas decisões do Supremo Tribunal Federal (STF).

Irmão do mensaleiro José Genoino, Guimarães chefiava, em 2005, o cidadão preso com dólares dentro da cueca, episódio memorável da história recente do PT.

Primeiro Guimarães respondeu que seu partido nada tinha a ver com o assunto.

Segundo, que por isso mesmo o assunto não fora discutido pelos deputados do PT.

Terceiro, que nem mesmo ele sabia que a emenda seria logo votada no plenário da Câmara.

Por último, que a repercussão alcançada pela aprovação da emenda na Comissão não passava de um desprezível “factóide”.

Guimarães mentiu.

O PT tinha e tem a ver com o assunto, sim, porque petista é o autor da emenda apresentada em 2011, e petista o presidente da Comissão que resolveu agora pô-la em votação.

De resto, votos petistas, como os dos mensaleiros Genoino e José Paulo Cunha, ambos condenados pelo STF, ajudaram a aprovar a emenda.

O PT estava prontinho para aprovar a emenda no plenário, mas aí…

Aí a repercussão do fato fora do Congresso foi de tal monta que o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), achou recomendável por o pé no freio.

Cabe ao STF interpretar a Constituição e cuidar para que ela seja respeitada. Aos demais poderes da República, cabe acatar as decisões do STF. Se algumas delas lhes parecerem absurdas, é ao STF a que devem recorrer à espera de que sejam revistas.

O PT e seus aliados servis ignoraram a Constituição e conspiraram contra o Estado de Direito no país. Isso é golpe. No caso, tentativa de golpe abortada pelo efeito da repercussão que Guimarães preferiu chamar de “factóide’.

Se a emenda prosperasse, deputados e senadores decidiriam, em última instância, se valeria ou não o que eles próprios aprovassem. O STF poderia ser fechado e a chave jogada fora. Não faria mais falta.

O extraordinário nisso tudo foi que somente um membro do governo protestou contra o que estava em curso: Michel Temer, o vice-presidente.

Nada impedia que mesmo em viagem ao exterior, Dilma se pronunciasse a respeito – mas não o fez.

O ministro da Justiça recolheu-se ao silêncio. Assim como os demais ministros.

Omissos, todos! Para não chamá-los de coniventes com o golpe frustrado.

Não foi o único que se tentou aplicar na semana passada.

Aprovado na Câmara, estava para ser aprovado no Senado o projeto de lei que praticamente aniquila a possibilidade de criação de novos partidos, impedidos de dispor de tempo de propaganda eleitoral e de recursos do Fundo Partidário.

De resto, o projeto aumenta o tempo de propaganda do candidato que dispuser de maiores apoios – leia-se: Dilma.

O STF concedeu liminar sustando a votação do projeto. Ele foi concebido sob medida para evitar que a ex-senadora Marina Silva monte seu partido e com ele concorra à sucessão de Dilma.

No ano passado, Gilberto Kassab, ex-prefeito de São Paulo, fundou o PSD, a quem o STF assegurou o direito de usar o tempo de propaganda eleitoral e a fatia dos recursos do Fundo Partidário correspondentes ao número de parlamentares que a ele aderiram.

Perguntas que insistem em ser feitas: por que o STF negaria a novos partidos o que garantiu ao PSD, que apoiará Dilma?

A pouco mais de um ano das próximas eleições é razoável alterar regras que as disciplinam?

A ex-faxineira ética não se envergonha do que anda patrocinando?

Para se manter no poder qualquer forma de fazer política vale a pena?

Blog do Noblat
quarta-feira, 24 de abril de 2013 | By: Vânia Santana

O ex-covarde - por Nelson Rodrigues



Sensacional artigo de Nelson Rodrigues que está presente na coletânea “A cabra vadia”, que é um livro autobiográfico em que relata fatos tristes e marcantes de sua história.



Entro na redação e o Marcelo Soares de Moura me chama. Começa: – “Escuta aqui, Nélson. Explica esse mistério.” Como havia um mistério, sentei-me. Ele começa: – “Você, que não escrevia sobre política, por que é que agora só escreve sobre política?” Puxo um cigarro, sem pressa de responder. Insiste: – “Nas suas peças não há uma palavra sobre política. Nos seus romances, nos seus contos, nas suas crônicas, não há uma palavra sobre política. E, de repente, você começa suas “confissões”. É um violino de uma corda só. Seu assunto é só política. Explica: – Por quê?”

Antes de falar, procuro cinzeiro. Não tem. Marcelo foi apanhar um duas mesas adiante. Agradeço. Calco a brasa do cigarro no fundo do cinzeiro. Digo: – “É uma longa história.” O interessante é que outro amigo, o Francisco Pedro do Couto, e um outro, Permínio Ásfora, me fizeram a mesma pergunta. E, agora, o Marcelo me fustigava: – “Por quê?” Quero saber: – “Você tem tempo ou está com pressa?” Fiz tanto suspense que a curiosidade do Marcelo já estava insuportável.

Começo assim a “longa história”: – “Eu sou um ex-covarde.” O Marcelo ouvia só e eu não parei mais de falar. Disse-lhe que, hoje, é muito difícil não ser canalha. Por toda a parte, só vemos pulhas. E nem se diga que são pobres seres anônimos, obscuros, perdidos na massa. Não. Reitores, professores, sociólogos, intelectuais de todos os tipos, jovens e velhos, mocinhas e senhoras. E também os jornais e as revistas, o rádio e a tv. Quase tudo e quase todos exalam abjeção.

Marcelo interrompe: – “Somos todos abjetos?” Acendo outro cigarro: – “Nem todos, claro.” Expliquei-lhe o óbvio, isto é, que sempre há uma meia dúzia que se salve e só Deus sabe como. “Todas as pressões trabalham para o nosso aviltamento pessoal e coletivo.” E por que essa massa de pulhas invade a vida brasileira? Claro que não é de graça nem por acaso.

O que existe, por trás de tamanha degradação, é o medo. Por medo, os reitores, os professores, os intelectuais são montados, fisicamente montados, pelos jovens. Diria Marcelo que estou fazendo uma caricatura até grosseira. Nem tanto, nem tanto. Mas o medo começa nos lares, e dos lares passa para a igreja, e da igreja passa para as universidades, e destas para as redações, e daí para o romance, para o teatro, para o cinema. Fomos nós que fabricamos a “Razão da Idade”. Somos autores da impostura e, por medo adquirido, aceitamos a impostura como a verdade total.

Sim, os pais têm medo dos filhos, os mestres dos alunos. o medo é tão criminoso que, outro dia, seis ou sete universitários curraram uma colega. A menina saiu de lá de maca, quase de rabecão. No hospital, sofreu um tratamento que foi quase outro estupro. Sobreviveu por milagre. E ninguém disse nada. Nem reitores, nem professores, nem jornalistas, nem sacerdotes, ninguém exalou um modestíssimo pio. Caiu sobre o jovem estupro todo o silêncio da nossa pusilanimidade.

Mas preciso pluralizar. Não há um medo só. São vários medos, alguns pueris, idiotas. O medo de ser reacionário ou de parecer reacionário. Por medo das esquerdas, grã-finas e milionários fazem poses socialistas. Hoje, o sujeito prefere que lhe xinguem a mãe e não o chamem de reacionário. É o medo que faz o Dr. Alceu renegar os dois mil anos da Igreja e pôr nas nuvens a “Grande Revolução” russa. Cuba é uma Paquetá. Pois essa Paquetá dá ordens a milhares de jovens brasileiros. E, de repente, somos ocupados por vietcongs, cubanos, chineses. Ninguém acusa os jovens e ninguém os julga, por medo. Ninguém quer fazer a “Revolução Brasileira”. Não se trata de Brasil. Numa das passeatas, propunha-se que se fizesse do Brasil o Vietnã. Por que não fazer do Brasil o próprio Brasil? Ah, o Brasil não é uma pátria, não é uma nação, não é um povo, mas uma paisagem. Há também os que o negam até como valor plástico.

Eu falava e o Marcelo não dizia nada. Súbito, ele interrompe: – “E você? Por que, de repente, você mergulhou na política?” Eu já fumara, nesse meio-tempo, quatro cigarros. Apanhei mais um: – “Eu fui, por muito tempo, um pusilânime como os reitores, os professores, os intelectuais, os grã-finos etc, etc. Na guerra, ouvi um comunista dizer, antes da invasão da Rússia: – “Hitler é muito mais revolucionário do que a Inglaterra.” E eu, por covardia, não disse nada. Sempre achei que a história da “Grande Revolução”, que o Dr. Alceu chama de “o maior acontecimento do século XX”, sempre achei que essa história era um gigantesco mural de sangue e excremento. Em vida de Stalin, jamais ousei um suspiro contra ele. Por medo, aceitei o pacto germano-soviético. Eu sabia que a Rússia era a antipessoa, o anti-homem. Achava que o Capitalismo, com todos os seus crimes, ainda é melhor do que o Socialismo e sublinho: – do que a experiência concreta do Socialismo,

Tive medo, ou vários medos, e já não os tenho. Sofri muito na carne e na alma. Primeiro, foi em 1929, no dia seguinte ao Natal. Às duas horas da tarde, ou menos um pouco, vi meu irmão Roberto ser assassinado. Era um pintor de gênio, espécie de Rimbaud plástico, e de uma qualidade humana sem igual. Morreu errado ou, por outra, morreu porque era “filho de Mário Rodrigues”. E, no velório, sempre que alguém vinha abraçar meu pai, meu pai soluçava: – “Essa bala era para mim.” Um mês depois, meu pai morria de pura paixão. Mais alguns anos e meu irmão Joffre morre. Éramos unidos como dois gêmeos. Durante 15 dias, no Sanatório de Correias, ouvi a sua dispnéia. E minha irmã Dorinha. Sua agonia foi leve como a euforia de um anjo. E, depois, foi meu irmão Mário Filho. Eu dizia sempre: – “Ninguém no Brasil escreve como meu irmão Mário.” Teve um enfarte fulminante. Bem sei que, hoje, o morto começa a ser esquecido no velório. Por desgraça minha, não sou assim. E, por fim, houve o desabamento de Laranjeiras. Morreu meu irmão Paulinho e, com ele, sua esposa Maria Natália, seus dois filhos, Ana Maria e Paulo Roberto, a sua sogra, D. Marina. Todos morreram, todos, até o último vestígio.

Falei do meu pai, dos meus irmãos e vou falar também de mim. Aos 51 anos, tive uma filhinha que, por vontade materna, chama-se Daniela. Nasceu linda. Dois meses depois, a avó teve uma intuição. Chamou o Dr. Sílvio Abreu Fialho. Este veio, fez todos os exames. Depois, desceu comigo. Conversamos na calçada do meu edifício. Ele foi muito delicado, teve muito tato. Mas disse tudo. Minha filha era cega.

Eis o que eu queria explicar a Marcelo: – depois de tudo que contei, o meu medo deixou de ter sentido. Posso subir numa mesa e anunciar de fronte alta: – “Sou um ex-covarde.” É maravilhoso dizer tudo. Para mim, é de um ridículo abjeto ter medo das Esquerdas, ou do Poder Jovem, ou do Poder Velho ou de Mao Tsé-tung, ou de Guevara. Não trapaceio comigo, nem com os outros. Para ter coragem, precisei sofrer muito. Mas a tenho. E se há rapazes que, nas passeatas, carregam cartazes com a palavra “Muerte”, já traindo a própria língua; e se outros seguem as instruções de Cuba; e se outros mais querem odiar, matar ou morrer em espanhol – posso chamá-los, sem nenhum medo, de “jovens canalhas”.


Crédito: Blog Arte Reaça