terça-feira, 16 de abril de 2013 | By: Vânia Santana

O Brasil dos ignorantes pluralíticos



‘Não adianta reclamar’. Pensa a pessoa que está a 30 minutos na fila do banco. À sua frente, ainda tem pelo menos umas 20 pessoas. Que também não reclamam.
‘Não adianta reclamar’. Pensa o idoso que está em pé no ônibus lotado, enquanto um jovem ocupando seu lugar reservado por direito, ignora o idoso.

As pessoas não reclamam se percebem um preço diferente na nota do que estava na prateleira do supermercado. Se percebe um produto vencido. Se percebe que mesmo não estando vencido, um litro de leite na caixa comprada estava azedo."Vou gastar muito mais tempo/dinheiro/gasolina indo lá reclamar do que engolindo o prejuízo"

A primeira vez que fui assaltada, foi em frente a uma lanchonete na Av. Paulista, por um menor. Na verdade, uma menor. Embora a menor não estivesse armada e na lanchonete várias pessoas viram a cena, continuaram tomando o seu café. Assistiram minha luta quando tentou tirar uma pulseira e o relógio. A pulseira chegou a cair no chão. Ela pegou e saiu andando. Sequer uma pessoa interferiu pra ajudar ou veio ver se eu estava bem. Assistiram passivos como se estivessem vendo a cena na TV. De mais uma vítima de um trombadinha drogado. (ah, se apenas um tivesse feito isso, em volta de mim surgiria uma rodinha de indignados, certamente)

Confesso que chego a me sentir alienígena, quando saio para passear com minha dog. Sempre levo um saquinho pra recolher seu “cocô”. E me desvio no caminho de uma dúzia deles. E quando vejo diversos saquinhos com as fezes recolhidas nas árvores do bairro, quando levo o meu pra casa e jogo no lixo. Sei que estas pessoas, que não recolhem, ou que embora o façam depositam os mesmos nas árvores, pensam assim: “se o outro não faz, por que eu vou fazer?”. Aos poucos se perde a noção de cidadania e respeito com a 'coisa' pública. O patrimônio de todos nós.

Em todos estes exemplos acima, você pode perceber que as pessoas sempre ficam esperando que alguém faça alguma coisa. Sempre se espera que a decisão venha de fora.
Isso ocorre quando um cidadão age de acordo com aquilo que os outros pensam, e não por aquilo que ele acha correto fazer. O ‘não adianta reclamar’, ‘isso não vai dar em nada’ e o ‘ninguém faz isso’ leva-se a inércia da difusão da responsabilidade. Ninguém diz nada e conseqüentemente nada é feito.

O fato é que os brasileiros são ignorantes pluralíticos. A ‘ignorância pluralítica’ é um termo da psicologia, que explica: As pessoas podem até ter uma opinião diferente da maioria, mas concordam e agem como se tivessem a mesma do grupo.

A corrupção dos políticos, o aumento de impostos, o descaso nos hospitais, as filas imensas nos bancos e a violência diária raramente levam pessoas a reagir, a protestar, e menos ainda fazer isto indo às ruas. É uma apatia e uma cultura ao silêncio, inacreditável.

Brasileiro não reclama. Não a quem devia. Não protesta, mesmo sendo lesado. Enquanto continuar omisso e fazendo piadinhas com coisas que deveriam levar muito a sério, continuará o Brasil como na época da Colônia, e continuarão os brasileiros sendo indefinidamente explorados.






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