sábado, 28 de setembro de 2013 | By: Vânia Santana

Oficina Vazia - por Marina Silva


"Na varanda do quintal, tenho a pequena oficina em que faço minhas joias, com sementes que os amigos trazem da floresta. Em silencioso trabalho, vou polindo também pensamentos, palavras, sentimentos e decisões. Nas vésperas de grandes momentos da política de que participo, encontro nesse trabalho inspiração e calma. Comparo-o à gravidez, quando precisamos de tranquilidade em meio a grandes esforços.

Às vezes, não há tempo para o artesanato, apenas o breve olhar saudoso para a oficina ao sair na pressa de viagens e reuniões. Resta o consolo do caderno onde desenho, num avião ou numa sala de espera, colares que um dia fabricarei.

Em dias mais agitados, nem mesmo o caderno. O tempo é semente preciosa e rara.

Mas consegui --em madrugadas de oração-- ver que há, instalado na alma, um dispositivo da fé que nos dá "calma no olho do furacão" e a esperança de que tudo sairá conforme uma vontade superior à nossa.

Essa conformidade exige condições. A primeira é a consciência tranquila de ter feito tudo o que estava em nossa capacidade de acreditar criando, não só cumprindo as regras, mas dedicando alma e coração.

Numa régua nos medimos. O chefe do governo sabe se faz tudo pelo direito republicano dos cidadãos ou só propaganda para manter o poder. O líder da oposição sabe se defende o bem do país ou torce por erros do governo para tirar votos. O empresário sabe se produz responsabilidade socioambiental ou só transforma prejuízo público em lucro privado. O magistrado sabe se busca justiça ou formalidades que condenam inocentes e absolvem culpados.

Por isso, a ética é base da sustentabilidade, espaço público e íntimo em que cada um encontra sua verdade e a segue ou a trai, ocultando-a sob uma consciência opaca.

Agora, revendo anotações para um artigo, acho desenhos e poemas em velhas páginas. Ergo os olhos para a oficina vazia. Nada lamento. Versos feitos noutro tempo de difícil transição política voltam hoje, quando espero justiça de mãos dadas com milhares de idealistas que superam boicotes e empecilhos para dar ao Brasil chance de uma nova escolha. Possa a poesia, que o tempo há de polir, encher o espaço entre esperança e realidade:

Sei não ser a firme voz que clama no deserto/ Mas estou perto para expandir seu eco/ Sei não ter coragem de morrer pelos amigos,/ Mas guardo-os em recôndito abrigo/ Sei não ter a doce força de amar inimigos,/ Mas não me vingo ou imponho castigo/ Sei não ser sempre aceito o fruto de minha ação/ Mas o exponho ao crivo d'outra razão.

Voz, coragem, força, aceitação/ Tem fonte no mesmo espírito/ Origem no mesmo verbo/ Lugar onde me inspiro/ E a semelhança preservo/ Na comunhão com meu próximo/ No Logos que em mim carrego."

Marina Silva
Folha de SP


Nota do blog: Nossa ideologia ou idealismo, não é melhor nem pior que a ideologia ou idealismo dos outros. Talvez possam dirigir críticas a mim, pela simples publicação deste texto neste blog. Assim como vejo tantas críticas tentando diminuir ou desvalorizar Marina Silva e seu novo partido, a Rede. Muitos se autorizam a falar de outrem como se tivessem mais autoridade sobre essa pessoa do que ela mesma, autoridade que lhe permite julgar e questionar a moralidade dos atos alheios.  As redes sociais estão repletas de pessoas que vivem deste tipo de ibope. Como diz um ditado, quando você fala dos outros, você fala mais de si do que do outro.  Mesmo sendo do PSDB, não me permitiria fechar os olhos para não ver uma possível injustiça cometida contra alguém que busca a realização de um sonho. E esta é a única explicação que julgo necessária dar. E espero e torço para que não seja vetada a criação de seu partido, tanto por Marina Silva, quanto por aqueles que acreditam na ideologia da Rede, bem como pela Democracia que sonho para o meu país.

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