quarta-feira, 30 de janeiro de 2013 | By: Vânia Santana

Santa Maria – Quem é que vai pagar por isso?



O Brasil ficou estarrecido, chocado,  com o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, no ultimo domingo, que causou até o momento a morte de 235 pessoas, sendo que ainda 143 vítimas estão internadas nos hospitais.
Qualquer tragédia da vida humana é de se lamentar, e prestar solidariedade as suas vítimas e familiares, é o mínimo que podemos fazer. As perdas humanas sempre são dolorosas, e parece mais aguda quando são de crianças e jovens. O país chorou, ficou de luto. 

Desde o ocorrido, entrei numa espécie de choque emocional. Não só por imaginar a cena vivida por aqueles jovens, ou pela dor de seus familiares e amigos. E a revolta que virá na sequência.
Mas porque, concluí também, dediquei metade da minha vida,  trabalhando em produção de shows e eventos e em casas noturnas, e talvez por isso, tenha tido um maior abalo com esta notícia.

Sei que os familiares e amigos, que sofrem hoje por decorrência deste ‘acidente’, não terão nenhum consolo. Nenhuma lágrima, nenhum ressarcimento material,  fará mudar o que sentem hoje, e o que sentirão. Aos vivos, só restou enterrar e chorar seus mortos. E tenho certeza, nada mais vão querer, do que haja justiça, de que haja punição aos culpados. E do desejo que a lição seja aprendida, para que nunca mais ninguém precise passar por isso.

Por isso, digo, por experiência, que este fato não foi uma tragédia. Tragédias são vulcões em erupção. Terremotos, Furacões. Tsunamis. Isto eu chamo de tragédia. No caso da boate, foi negligência, foi irresponsabilidade em série, onde não existe um culpado apenas. Não vou fazer politicagem com o assunto. Já tem o suficiente disso por aí. Este texto é apenas minha opinião pessoal e profissional.

Muitos empresários sabem do lucro que o investimento em bares, restaurantes e similares, gera. E se decidiu por isso, a primeira coisa a saber é, onde há grande aglomeração humana, começa-se a responsabilidade pela contratação de engenheiros e arquitetos especializados. Pessoas especializadas já conhecem as normas de segurança, o material a ser utilizado, além de favorecer o projeto para sua aprovação. No caso onde há palcos e apresentação de shows, qualquer pessoa da área já sabe que é onde há o maior risco de acidentes/ incêndios, que pode começar com um simples curto circuito, devido a alta carga elétrica que os palcos contem, desde os equipamentos de som, e principalmente pela iluminação. Existem materiais que podem ser usados desde a construção, que já são isolantes térmicos e acústicos, como o ‘siporex’ por exemplo. E existem materiais isolantes acústicos que não propagam fogo ou fumaça tóxica. Portas corta fogo. Saídas anti-pânico. Hidrantes. Alarmes de incêndio. Brigada anti-incêndio (funcionários treinados pelo corpo de bombeiros para casos de emergência)
Além de projetos que facilitem a movimentação, a segurança e o escape, são diversos os erros na boate Kiss. Somente uma saída, que também era entrada. Extintores de incêndio vencidos ou falsificados. Sinalização de saída e emergência é necessária, mas considere que estes ambientes proporcionam consciências alteradas por consumo de alcóol. Ainda que tudo estivesse em ordem, não existe alvará que tire o poder de incêndio de um fogo de artifício usado em ambiente fechado. Porém, se houvesse o material em ordem,  e mais portas de saída, o acidente ocorreria, mas  poderiam ter poupado se não todas, muito mais vidas. Calculando que a casa tinha capacidade para 690 pessoas e, ao que parece, havia mais de mil, e sabendo que houve 235 mortes e 143 vítimas, também podemos analisar que, o descumprimento a lotação permitida da casa, foi mais um ponto negativo para a fuga. Percebam que a quantidade de vítimas, é exatamente a quantia excedente de público permitido.

Da minha experiência, posso concluir que, neste caso específico, a simples responsabilidade de cada um em fazer o certo, aqui, cito os donos, o produtor/gerente, os órgãos públicos, a fiscalização destes, a banda,  evitaria não só essa, como várias ‘tragédias’. Muitos erros assim aconteceram no mundo, o que também não serviu de lição.

As leis existem, para serem cumpridas, e não burladas. A quantidade de multas por várias infrações e os acidentes no trânsito por alcoolismo neste país, comprovam o que estou dizendo. Como me disse um amigo hoje, quando comentei isso: 'parece que precisa de um policial em cada esquina, pra garantir que se respeite um sinal de trânsito'.

Se houvesse cidadania, bom senso e  responsabilidade, não precisaria de fiscalização.

Mas infelizmente, em casos assim, quem paga o maior preço dos erros, geralmente são aqueles que não os cometeram.


2 Deixe seu comentário:

Marineide Dan Ribeiro disse...

Boa Vânia! Nem sabia que você tinha um blog!
É isso mesmo garota, temos que falar, falar e falar e se não entenderem temos que DESENHAR!!!!

Bjusssssssssss

Beija__Flor disse...

Excelente texto, Vânia! Junto minha voz à tua, querida, e torço para que o Brasil cresça em sua consciência de cidadania e responsabilidade. Beijo grande!

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