sábado, 20 de abril de 2013 | By: Vânia Santana

Entre a globalização da idiotia ou a pátria livre


Ahhh, as redes sociais!! Esse mundo virtual onde a gente pode observar como pensam e como agem todas as culturas e raças de todas as idades do mundo! E tudo o que está acontecendo nele, a globalização, a revolução mundial que a internet propiciou, é uma coisa incrível. Desde que pude ter internet, apesar de ser uma das piores e mais caras do mundo, como tantos e a maioria dos serviços de Pindorama, a TV passou a ter um papel secundário, quase inexistente em minha vida. Até porque os programas de TV brasileira, continuam a mesma porcaria, pra não dizer piores, agora transmitidos em alta qualidade de imagem. A desinformação, o vazio e o inútil via full HD. O controle remoto só nos salva da programação do canal aberto, usando o botão 'off'. Já as propagandas, mesmo as de merchandising subliminar nos filmes e nas novelas, estas são inteligentes, na maioria. Dá gosto de ver! Tanto que conseguem fazer as pessoas desejarem trocar de carro, comprar aquele shampoo milagroso que sabemos que não vai deixar nossos cabelos como das modelos saídas do salão de beleza direto pra telinha, usar aquela cor de esmalte/roupa/sapato que a artista da novela usa e faz virar referência de moda, ou comprar aquele smartphone que custa cinco vezes mais do que vale no local de origem, em 12 vezes sem juros visíveis, mas embutidos junto com os  impostos, também, mais caros do mundo. Tudo perfeitamente articulado, meticulosamente estudado, criado e dirigido, com um único objetivo. E tanto a programação, quanto as propagandas, o cumprem. Soubessem todos quem são os proprietários dos canais de rádio e tv's, revistas e jornais, bem como seus anunciantes e patrocinadores, já poderiam fazer uma idéia melhor de qual é este objetivo.



Não que na internet a gente esteja livre disso. Como disse antes, ela reflete o mundo fora da telinha, e às vezes precisamos caçar algo que não subestime nossa inteligência, além de aguçar o senso de responsabilidade, dos que a tem, porque na internet a informação viaja a longas distâncias com a velocidade de milhares de megabytes. E nosso computador de cada dia não pode distinguir o que é verdade ou o que é mentira, apesar do avanço da inteligência artificial. Nem o que é inteligente, relevante ou não. Se alguém duvida disso, é só perguntar para uma tal Luíza que esteve no Canadá, ou para o criador de um tal 'lek lek' usado agora até em propaganda de uma marca de automóvel. No Brasil, o que me deixa mais animada ainda, é quando olho o Trend Topic (os assuntos mais comentados) do Twitter. É de fazer gosto... a qualquer desgosto!! Agora mesmo, enquanto escrevo este texto, o trend é este aqui:




Não é digno do termo 'WTF?' ??? (what's the fuck? - tradução livre = 'que m* é essa?)

Lá no Egito, as redes sociais foram usadas para uma revolução, a chamada Primavera Árabe. Na Venezuela, o opositor Henrique Capriles, a utilizou para fazer campanha. Os venezuelanos, que o apoiaram, também fizeram seus protestos e chamados para a campanha de Capriles via Twitter. O comício de Capriles, através das redes sociais, levou 1,5 milhão de pessoas às ruas. Apesar disso, e mesmo com protestos e provas de fraude nas eleições, Maduro ontem tomou posse como presidente. Por que isto aconteceu? Porque existem pessoas, a grande maioria, que não consegue ver onde e como é manipulado. Quer um exemplo? Observe:






Desejo de coração que todos leitores deste blog tenham percebido aí, a manipulação da TV venezuelana.


Dia 18, na Argentina, as redes sociais levaram 1 milhão de pessoas a protestar em frente a Casa Rosada, contra o governo de Cristina Kirchner. Pelo Facebook, os indignados.com.org e pelo twitter, através das tags #18A (18 de Abril) e #AntiK (anti Kirchner). Soube disso uma semana antes, porque uma seguidora argentina no twitter me contou, e usaram o #AntiK para não serem monitorados. E como aqueles que não desejam para os outros, aquilo que não querem para si, tanto eu como ela, estávamos no twitter em campanha a favor pela eleição de Capriles.

Não é segredo o modus operandis desta turma da esquerda ditadora disfarçada de democracia. Todos são censores de meios de comunicação que não são a eles favoráveis. Mas a internet ainda não foi alcançada, não como desejam muitos deles, salvo em Cuba ou na Coréia do Norte, onde a ditadura já é completa.

E foi a união dos blogueiros e ativistas patriotas, que organizaram esta beleza que vemos na foto:







Brasil!!! "Hora est iam nos de somno surgere!" - Já é hora de levantarmos de nossa inércia!!

Esta frase de São Paulo poderia causar efeito nos brasileiros. Mas não causa. Não será uma frase a causar, já que tudo o que tem acontecido no país, a farra da república, o descaso com a saúde e a educação, a seca no nordeste, as enchentes, não causa. A impunidade, a corrupção, a violência, os altos impostos, a volta da inflação. O Brasil tem estado nos últimos lugares em rankings mundiais de maior importância para uma nação. E lidera quando se trata do pior. Mas nada tira o cidadão da zona de conforto.

Sou uma indignada.com.br. 'Indignada com o Brasil' que vejo. Indignada com o país em que vivo, que não é mais o meu país. Com brasileiros que não são brasileiros, apenas lembram disso quando preenchem a nacionalidade em documentos, ou na vitória dos esportes. E desfilam com a bandeira cuja pátria não honram. Chego a ter vergonha de ser brasileira. E sei, pelo que me dizem, que muitos se sentem assim. E apesar dos trends ali de cima, uma minoria da qual faço parte, ainda deseja outro futuro para este país. Talvez aqueles que também têm saudades de um tempo que não volta mais. De uma juventude, embalada por Geraldo Vandré, onde um dia, uma minoria também de patriotas, lutaram e morreram pela liberdade deste país: "Vem vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer".
Entre a globalização da idiotia ou a pátria livre, sabíamos - e ainda sabemos -  qual escolher.






quinta-feira, 18 de abril de 2013 | By: Vânia Santana

Que os bolivarianos do continente entendam





O relógio da História gira em velocidades desconcertantes. O tempo histórico pode dar a impressão de parar, e, de repente, acelerar em velocidade vertiginosa. A Venezuela parecia estagnada, sob o peso de um regime nacional-populista, assentado na autocracia fundada pelo coronel autointitulado “bolivariano” Hugo Chávez . E muita coisa mudou em poucas semanas.

Em 14 anos de poder, Chávez se beneficiou de centenas de bilhões de dólares — nos últimos dez anos, US$ 1 trilhão, segundo o “Financial Times” — amealhados nas exportações de petróleo tirado de uma das maiores reservas do mundo. E soube manejar este dinheiro, até quando pôde, para se manter no controle da Venezuela.

Ainda ganhou uma última eleição presidencial, em outubro, já em fase terminal do câncer, com 1,5 milhão de votos à frente do oposicionista Henrique Capriles. Morto o caudilho em 5 de março, o poderoso regime chavista põe-se em marcha para eleger o vice do coronel, o sindicalista Nicolás Maduro, ungido pelo próprio Chávez como sucessor.

O relógio da História, no entanto, girou e a vitória de Maduro, por apenas pouco mais de 200 mil votos, representa uma derrota para o chavismo. Apesar de toda a máquina, toda a pressão e manipulação — por vezes ridícula — da figura de Hugo Chávez morto, houve a migração para o mesmo Henrique Capriles de quase um milhão de votos.

Os seguidores do bolivarianismo chavista no continente, brasileiros incluídos, precisam entender o que se passa na Venezuela. Nada diferente do destino de qualquer regime autocrata, sempre abalado na morte do líder, carismático por definição. Esses militantes poderiam aprender algo.

Os conflitos de rua ocorridos terça-feira, com a morte de sete pessoas, derivam das tensões geradas num sistema em que o adversário é visto como o inimigo a ser eliminado.

Henrique Capriles, com novo e elevado status na política venezuelana, fez bem em recuar na ideia de uma marcha convocada para protestar contra alegadas fraudes na eleição e pressionar pela recontagem dos votos. Maduro subiu o tom, proibiu a manifestação e ameaçou “radicalizar a revolução” (a do “Socialismo do Século XXI”).

— Não caiam nas provocações do governo e tenham claro que nossa luta é democrática — alertou um sensato Capriles. Agora, é acompanhar como Maduro e a estrutura de poder chavista enfrentarão a tempestade econômica: inflação rumo aos 30%, desabastecimento e nenhuma perspectiva de o petróleo voltar a cotações que financiem os delírios do regime.

Resta provado que os sonhos dos governantes só podem ser realizados e perdurar se houver bases reais na economia para sustentá-los, e um regime com instituições e princípios que absorvam as tensões normais em qualquer jogo político. Um desses amortecedores é uma efetiva rotatividade no poder por meio do voto livre, com base em regras predefinidas e estáveis. Tudo o que não é o chavismo bolivariano.


O Globo
terça-feira, 16 de abril de 2013 | By: Vânia Santana

O Brasil dos ignorantes pluralíticos



‘Não adianta reclamar’. Pensa a pessoa que está a 30 minutos na fila do banco. À sua frente, ainda tem pelo menos umas 20 pessoas. Que também não reclamam.
‘Não adianta reclamar’. Pensa o idoso que está em pé no ônibus lotado, enquanto um jovem ocupando seu lugar reservado por direito, ignora o idoso.

As pessoas não reclamam se percebem um preço diferente na nota do que estava na prateleira do supermercado. Se percebe um produto vencido. Se percebe que mesmo não estando vencido, um litro de leite na caixa comprada estava azedo."Vou gastar muito mais tempo/dinheiro/gasolina indo lá reclamar do que engolindo o prejuízo"

A primeira vez que fui assaltada, foi em frente a uma lanchonete na Av. Paulista, por um menor. Na verdade, uma menor. Embora a menor não estivesse armada e na lanchonete várias pessoas viram a cena, continuaram tomando o seu café. Assistiram minha luta quando tentou tirar uma pulseira e o relógio. A pulseira chegou a cair no chão. Ela pegou e saiu andando. Sequer uma pessoa interferiu pra ajudar ou veio ver se eu estava bem. Assistiram passivos como se estivessem vendo a cena na TV. De mais uma vítima de um trombadinha drogado. (ah, se apenas um tivesse feito isso, em volta de mim surgiria uma rodinha de indignados, certamente)

Confesso que chego a me sentir alienígena, quando saio para passear com minha dog. Sempre levo um saquinho pra recolher seu “cocô”. E me desvio no caminho de uma dúzia deles. E quando vejo diversos saquinhos com as fezes recolhidas nas árvores do bairro, quando levo o meu pra casa e jogo no lixo. Sei que estas pessoas, que não recolhem, ou que embora o façam depositam os mesmos nas árvores, pensam assim: “se o outro não faz, por que eu vou fazer?”. Aos poucos se perde a noção de cidadania e respeito com a 'coisa' pública. O patrimônio de todos nós.

Em todos estes exemplos acima, você pode perceber que as pessoas sempre ficam esperando que alguém faça alguma coisa. Sempre se espera que a decisão venha de fora.
Isso ocorre quando um cidadão age de acordo com aquilo que os outros pensam, e não por aquilo que ele acha correto fazer. O ‘não adianta reclamar’, ‘isso não vai dar em nada’ e o ‘ninguém faz isso’ leva-se a inércia da difusão da responsabilidade. Ninguém diz nada e conseqüentemente nada é feito.

O fato é que os brasileiros são ignorantes pluralíticos. A ‘ignorância pluralítica’ é um termo da psicologia, que explica: As pessoas podem até ter uma opinião diferente da maioria, mas concordam e agem como se tivessem a mesma do grupo.

A corrupção dos políticos, o aumento de impostos, o descaso nos hospitais, as filas imensas nos bancos e a violência diária raramente levam pessoas a reagir, a protestar, e menos ainda fazer isto indo às ruas. É uma apatia e uma cultura ao silêncio, inacreditável.

Brasileiro não reclama. Não a quem devia. Não protesta, mesmo sendo lesado. Enquanto continuar omisso e fazendo piadinhas com coisas que deveriam levar muito a sério, continuará o Brasil como na época da Colônia, e continuarão os brasileiros sendo indefinidamente explorados.






segunda-feira, 15 de abril de 2013 | By: Vânia Santana

Brasil, aprovar a PEC 115 é o ‘remédio’.




Se alguém não for hipocondríaco pra gostar de tomar remédio, possívelmente só o fará quando em necessidade de curar uma doença. E como ninguém fica doente por vontade própria, o medicamento não é considerado algo supérfluo, o que por conseqüência, não justifica ter tamanha taxa de tributação de impostos. 

Em um estudo realizado pelo pesquisador Nick Bosanquet, professor de políticas de saúde do Imperial College de Londres, apurou-se que o Brasil é líder no ranking de tributação de impostos sobre remédios. A pesquisa foi realizada entre os 38 países que integram a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o grupo dos BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). 

Pelo levantamento realizado, no Brasil, impostos correspondem a 28%, o triplo da média mundial. Para o Brasil, foram contabilizados o ICMS, imposto cobrado pelos governos dos Estados, e o PIS/Cofins, cobrado pelo governo federal. 

O Canadá, México e Estados Unidos tem alíquota 0 sobre os remédios. 

Apenas para mais uma informação aos leitores, no Brasil, remédios de uso veterinário têm tributação de 14,3%. 


Já que o Governo não consegue atender às necessidades de Saúde da população, fornecendo gratuitamente  todos os remédios, isentar os impostos sobre os medicamentos de uso humano, não só favoreceria a população - principalmente os de baixa renda e idosos - quanto o próprio Governo, que, por ser o maior comprador do país, também iria gastar menos.

Para se ter uma idéia do custo ao bolso do cidadão, a alíquota cobrada, significa que, se alguém precisar usar 3 caixas de determinado medicamento, 1 caixa será de impostos. E no Brasil, diferente do que ocorre em outros países, este valor não é reembolsado, nem por planos de saúde, e nem pelo Estado.

No final de Novembro de 2012, foi aprovada na CCJ, a PEC nº 115 de 2011, de autoria do Senador Paulo Bauer (PSDB-SC), (pode lê-la aqui) que veta a instituição de tributos sobre medicamentos de uso humano. O texto ainda precisa passar pelo Senado e pela Câmara, a após isso, pela sanção da Presidente. Está aguardando ser colocado em votação no Senado, desde dezembro de 2012, sendo transferida e adiada,  dia após dia. Talvez, se não adiarem novamente, entre na pauta de amanhã, 16/04.







Não é possível que o Governo decida tão rapidamente, isentar IPI’s de carros e geladeiras, e inclusive permitir um reajuste cruel dos remédios, favorecendo indústrias e farmacêuticas (esta última, que fatura cerca de R$ 50 bilhões por ano), e não veja como urgência a aprovação desta PEC, que reflete diretamente na vida dos cidadãos que precisam ter saúde para poder trabalhar e comprar carros e geladeiras. Um aposentado, gasta em média 30% de seu rendimento com compra de remédios. Se ganha R$ 1.000,00 isto significa que gasta R$ 300,00 com remédios. Muitos idosos têm problema de desnutrição, porque tem que optar entre comprar medicamentos ou alimentos.

Diante disto, deixo aqui esta reflexão:
Até quando os cidadãos deste país irão ser os bons pagadores e péssimos cobradores daqueles que nos atribuem um dos maiores impostos do mundo em troca dos piores serviços públicos do mundo?  Qual o remédio, e que futuro terá o Brasil, se o brasileiro não se interessar em defender e buscar o que é seu de direito?




Exclusiva com o Comandante Borges - por João Ubaldo Ribeiro




— Comandante, ainda bem que você veio. Ontem me disseram que você não queria mais dar a entrevista.

— É, mas pensei melhor. Se eu prometi, está prometido. Alguém tem que manter a palavra neste país. Mas isso não impede, sem querer ofender ninguém, que eu ache esta entrevista uma palhaçada.

— Não entendi.

— Não vai sair nada do que eu disser, a imprensa está toda no bolso do governo, devendo à Previdência e à Receita e mamando as verbas de publicidade. A imprensa está aí para ajudar no fingimento de que há liberdade, vontade popular, opinião pública e essas besteiras feitas para declamação. Isto mesmo que eu acabo de dizer quero ver sair, não sai. Está gravando?

— Estou.

— Você está perdendo seu tempo, não vai sair nada. Grave aí que eu acho que essa democracia é para as negas deles, o que eles fazem é entrolhar todo mundo e fazer tudo da veneta deles. Você viu a do ensino? Agora é obrigatório botar o filho na escola aos quatro anos! A quem que eles perguntaram? Eles não conseguem dar conta nem de metade dos que já têm direito e inventam mais? Estamos cheios de grandes escolas públicas para todos, todo mundo na escola de barriga cheia desde os quatro anos, que beleza! Eu não sou otário, eu não sou otário! Eu queria que eles compreendessem que eu não sou otário!

— Eu pretendia chegar a assuntos como esse, sei que você tem opiniões muito firmes. Mas minha primeira pergunta ia ser outra, mais pessoal.

— Ah, desculpe, eu às vezes me exalto um pouco. Pode perguntar o que você quiser. Se eu contar coisas pessoais, também não sai, eu não sou pervertido, a imprensa só se interessa quando é a vida pessoal dos pervertidos. Não vai sair nada, mas eu respondo a qualquer pergunta.

— Bem, a pergunta é uma curiosidade minha. Frequentamos este mesmo boteco há não sei quantos anos e nunca vi você chegar dando risada sozinho, como vi hoje, na hora em que você estava descendo da sua famosa bicicleta elétrica. Dá para dizer qual foi a razão?

— Dá, eu não escondo nada. Não era riso de satisfação, nem de felicidade. Era uma risada mórbida que deu para me atacar de uns tempos para cá, uma espécie de humor negro. Eu estava me lembrando de um comercial. Não sei do que era, só me lembro da cena. Era um casal fazendo um piquenique romântico na Lagoa à noite, sentadinho com um pano de mesa estendido, luz de velas, cestinha de comida, parecia uma aquarela campestre. Aí eu fiquei pensando e me deu uma crise desse riso mórbido. E, na hora de minha chegada, não sei por quê, me lembrei de novo. Sempre que eu lembro, rio novamente, é incoercível. Piquenique na Lagoa é demais, não é, não?

— Demais como?

— Você não entendeu? Piquenique na Lagoa, piquenique na Lagoa! Só pode ser Walt Disney, e dos anos cinquenta! Quando o casal tivesse acabado de estender a toalha, já não ia ter mais cestinha, nem garrafinha, nem vela, nem piquenique nenhum! Seja sincero e realista e me responda quantos segundos você daria para um casal começar um piquenique à noite na Lagoa e o piquenique ser todo comido e possivelmente o casal também. Dou noventa segundos, mas ganha quem der um minuto. Aí eu fico pensando no que poderia acontecer a esse casal e o piquenique deles e tenho essas crises de riso, é tudo humor negro mesmo. Uns dois dimenores liquidavam tudo numa boa.

— Você tem uma birra com os menores, não tem?

— Eu não, eu só sou contra o que eu vou lhe figurar. Eu sou João Narigolé, traficante que de vez em quando precisa de outros serviços, notadamente os que envolvem dar cabo de alguém. Aí, quem é que eu chamo para fazer o serviço? Vou ao banco de dados de menores pistoleiros… Deve haver vários bancos de dados desse tipo, é capaz até de já ter no Facebook. Vou lá, escolho um, ofereço uma graninha e ele faz a execução. Se for preso, não pega nada e recebe a grana pelo serviço. Se me dedurar, sabe que eu posso mandar outro dimenor para rechear de azeitonas a cabeça dele e assim por diante, é um esquema perfeito. O dimenor é um grande patrimônio da criminalidade nacional.

— Então você é a favor da diminuição da maioridade penal.

— Eu não! Não distorça minhas palavras! A favor da diminuição geral, não, cada caso é um caso! Eu só tenho propostas sérias e eficazes, esse negócio de fixar idades com base em invencionices psicológicas não resolve nada. Eu sou a favor de uma coisa muito simples: teve idade para apontar a arma e dar o tiro, tem idade para ir em cana. Não é simples? É a coisa mais óbvia para qualquer um e somente os intelectuais é que não concordam, porque as soluções simples dão desemprego para eles, tudo aqui é em função do emprego.

— Você não acha que a responsabilidade penal do menor…

— Ninguém mais é responsável por nada! Isso era antigamente, agora todo mundo é vítima e qualquer sacanagem que apronte recebe um nome artístico, dado pelos psiquiatras! Um nome artístico e uma bolinha e está tudo resolvido, a culpa não é de ninguém, é da síndrome! A culpa não é dele, é das condições socioeconômicas! A culpa não é dela, é dos traumas de infância! Ninguém tem mais culpa de nada, ninguém fica preso, ninguém paga do próprio bolso as multas às empresas, ninguém é responsável por nenhum desastre, todo mundo rouba e mata, há muito tempo que isto é uma esculhambação! O que nós precisamos é de Robespierre! Nada de faxina! Para quem propina, rapina e assassina, o correto é guilhotina! Quero ver isso sair no jornal!



João Ubaldo Ribeiro é escritor
O Globo